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Daniel Machado
Daniel Lopes Machado, 46 anos, é empresário e consultor em sistemas de informação. Considera os versos da sexta estrofe do hino atleticano, escritos por um ex-jogador, imortalizado em uma espontânea demonstração de amor ao clube, a mais bela poesia de todos os tempos: "A tradição, vigor sem jaça... Nos legou o sangue forte... Rubro-negro é quem tem raça... E não teme a própria morte!" Foi colunista da Furacao.com entre 2008 e 2010.
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O orçamento está apertado. Festas de fim de ano, sem décimo terceiro, dá para imaginar...
O gerente do banco me adora, 'o importante é ter crédito.' Mesmo assim, ninguém ficou sem presente. 'Feliz Natal, espero que goste. É só uma lembrancinha, se não servir é só trocar, tá?'
Gastar dinheiro é uma arte, aprendi com a esposa. Ela gasta. Gasta mesmo, passa tudo no cartão, como se a fatura nunca viesse. Eu não, quando eu gasto, não é gasto, é investimento.
Plena terça-feira, só o segundo dia útil do ano e eu já estava na churrascaria, investindo meu dinheiro: fraldinha na mostrada, miolo de alcatra, costelinha de carneiro, picanha. Sete atleticanos e um frustrado, mais ou menos uma amostra da vantagem que o Datafolha mostrou, mais uma vez.
É justo situar a conversa, uma vez que muitas das conclusões a seguir são dos outros seis menos frustados. O oitavo passageiro apenas observava, sentia-se um alien nos assuntos da primeira divisão.
Até concordo que não podemos fazer loucuras. Atletas de alto salário só servem se for para ter um time inteiro de altos salários, o que é impossÃvel.
Só um Marcelinho ParaÃba é pior do que nenhum. O mercado está repleto de repatriados caros. E nenhum deles se encaixa no perfil rubro-negro, essa é a verdade.
De qualquer forma, o cúmulo da rigidez do orçamento é não trazer o Bruno Mineiro. O atacante já estava com a renda mensal devidamente combinada, mas a pedida do América fugiu dos 'nossos padrões'. 500 mil para trazer um jogador jovem, de razoável qualidade técnica, em Ãngreme ascenção na carreira, é muito?
Cruz credo, tá feia a coisa então! Por que não assinam a rescisão do Antônio Carlos e do Rafael Moura, já que não interessam mais? Três meses de salário dos dois pagam a vinda do cara.
Fico imaginando o Bolicenho com uma listinha de reforços na mão, sentado de um lado da mesa. Do outro, o Malucelli, com o extrato da conta corrente.
- O que acha desse, presidente?
- Esse não dá, não quero nem ouvir. É um absurdo!
- É um absurdo mesmo. E esse?
- Não sei, não conheço. É bom?
- Mais ou menos.
- Quanto estão pedindo?
- Tanto.
- Não, nem pensar.
- E esse outro?
- Quanto?
- Tanto.
- Olha, até dá pra trazer, tá no 'nosso padrão'. Mas por que esse preçinho tão camarada?
- É que o dito cujo está encostado lá na Coreia, presidente, faz um ano que não joga. Sentou no púbis inflamado.
- Então não quero. Faça o seguinte...
- Pois não, presidente?
- Esqueça essa lista aÃ. Traga o Kaio e o Gerônimo de volta.
- Sim, senhor.
- Lembre-se: é Kaio com K e Gerônimo com G.
Muito parecido com o papo lá em casa, a diferença é que a esposa não me chama de 'presidente'. Ao invés de atletas de futebol, produtos de limpeza. Ela com uma listinha de compras na mão, sentada de um lado da mesa. Do outro, eu, com o extrato da conta corrente.
- Lembre-se: é Q-Boa com Q e Harpic com H.
Todo mês é a mesma história: por mais que eu regule as compras dela, um dia chega a fatura do cartão. Aà ela trabalha duro, me ajuda a tapar o furo. E sempre pagamos as nossas contas. Assim vamos levando.
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