Daniel Machado

Daniel Lopes Machado, 46 anos, é empresário e consultor em sistemas de informação. Considera os versos da sexta estrofe do hino atleticano, escritos por um ex-jogador, imortalizado em uma espontânea demonstração de amor ao clube, a mais bela poesia de todos os tempos: "A tradição, vigor sem jaça... Nos legou o sangue forte... Rubro-negro é quem tem raça... E não teme a própria morte!" Foi colunista da Furacao.com entre 2008 e 2010.

 

 

Qual é o teu esquema?

20/11/2009


O Sálvio deve estar contente, só apitou o necessário. Tomou conta do resto o próprio Atlético, um time bem meia-boca, completamente despido de brios.

Por isso, retiro agora tudo o que disse na semana passada. Na verdade, o juizão é um homem íntegro, jamais foi seduzido por más intenções.

A idoneidade do futebol brasileiro é imaculada. Que ultrajantes somos nós, atleticanos, que já não enxergamos com olhos lúcidos a arbitragem, a imprensa esportiva, a politicagem e a organização dos campeonatos nacionais.

As suspeitas de 2004 não passam de desculpas esfarrapadas. Em 2005, a revelação de um engenhoso esquema, que poderia enterrar as credenciais da CBF no mundo todo, foi tratada de forma exemplar. Encontraram um único malfeitor, um cara que montou um grande esquema e pagou o pato com juros e correção monetária: um tal de Edílson.

Alías, por onde será que anda esse homem? Por que sumiu, silenciou-se? Deveria vir a público, explicar como conseguiu organizar tamanha falcatrua, sozinho, sem a ajuda de ninguém. Impressionante.

De lá pra cá, os três, quase quatro títulos consecutivos do queridinho do Morumbi são só uma grande coincidência. Talvez um pouco de sorte. Os gados mais obedientes diriam que o grande sucesso do São Paulo é resultado direto da colheita de frutos. Às vezes, plantam sementes nos terrenos vizinhos, mas isso não importa. O que importa mesmo são os altos salários, pagos em dia; o profissionalismo e o trabalho árduo de sua competente diretoria.

Quem pode mais, chora menos. O problema é que o significado de "poder mais" ainda permanece um mistério inalcançável, principalmente para o rubro-negro da província. Enquanto isso, eu choro sem parar.

Tudo conversa pra boi dormir. Os que acreditam nisso tudo, por mais que culpem a deficiência técnica do nosso Furacão (pois isso é uma verdade inquestionável), com todo o respeito, só podem ser um pouco alienados. E vocês sabem, com um alienado não se discute. A Globo e o Galvão têm sempre razão.

É o paraíso da malandragem e da maracutaia. Brasileiro sabe dar rasteira melhor do que ninguém. Aqui, se dá bem quem tem esquema. O esquema dos funcionários do Espaço Sócio Furacão, por exemplo, era a reativação dos contratos cancelados em benefício próprio.

Se há esquema por todo canto, até debaixo dos nossos narizes, por causa de 70 pilas, imagine lá em cima, nos bastidores do Condomínio Rio Office Park, na Barra da Tijuca, onde o poder é maior e o cascalho é farto.

E tu? Qual é o teu esquema? Qual é o teu negócio? Qual é o nome do teu sócio?

Não sou ranzinza, nem revolucionário. Perdoem-me os otimistas, mas o meu esquema é falar o óbvio. Celebrar o avanço econômico e social do país, ou continuar comprando o futebol brasileiro, é como assistir ao devedê da incrível história atleticana e a fuga do rebaixamento.

Arremate

Jogo na zaga, não sou craque. Mas esta estava quicando, vou arriscar um arremate.

Não me convidaram
Pra esta festa pobre
Que os homens armaram
Pra me convencer
A pagar sem ver
Toda essa droga
Que já vem malhada
Antes de eu nascer

...

Brasil, mostra a tua cara
Quero ver quem paga
Pra gente ficar assim


(Cazuza, Nilo Roméro e George Israel)


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