Daniel Machado

Daniel Lopes Machado, 46 anos, é empresário e consultor em sistemas de informação. Considera os versos da sexta estrofe do hino atleticano, escritos por um ex-jogador, imortalizado em uma espontânea demonstração de amor ao clube, a mais bela poesia de todos os tempos: "A tradição, vigor sem jaça... Nos legou o sangue forte... Rubro-negro é quem tem raça... E não teme a própria morte!" Foi colunista da Furacao.com entre 2008 e 2010.

 

 

Incendiário

06/11/2009


Em 1999, a Placar inventou a "Chuteira de Ouro". Desde então, ao final de cada temporada, confere tal distinção ao maior artilheiro do país. Naquele ano, atuando pelo Flamengo, Romário fez 46 gols, 92 pontos, e faturou o prêmio. No ano seguinte, 2000, pelo Vasco, repetiu o feito com 71 gols (caraca!) e 152 pontos. Em 2001, um outro sujeito quebrou a sequência. Fez 50 gols e 100 pontos, o segundo melhor desempenho até hoje, deixando o Baixinho pra trás. Em 2002, desta vez pelo Fluminense, apesar dos aparentes cabelos brancos, Romário quis provar que ainda era o melhor do Brasil. Pouco importavam as cores da camisa, ou os outros dez em campo. 42 gols e 84 pontos. Sim, ele ainda era o melhor do Brasil.

Entretanto, para todo o sempre, em exibição na sua prateleira penhorada, Romário sentirá falta daquela chuteirinha dourada de 2001. Foi um tal de Kléber João Boas Pereira quem a levou. Klébão - o Incendiário - um maranhense meio desatado, veio do Moto Club sem muita ambição. Tinha umas quinze avós, justificava os seguidos atrasos na reapresentação com a notícia do falecimento de uma das velhinhas. Logo que chegou, ainda no Pinheirão, já meteu um sem ângulo: 'Toma, tá aqui o meu cartão de visitas!'

Era capaz de fazer gols incríveis. Era capaz de perder gols incríveis. Certa feita, diante do Avaí, já havia marcado três, um deles quase do meio-campo, por cobertura, mas depois fez questão de driblar o goleiro e, debaixo da trave, sozinho, deixou a bola escapar para fora. Houve também o episódio da correntinha que caiu no gramado, sem comentários. Perdeu 16 pênaltis. E aqueles dois golaços contra o Bahia? Não me escapam da memória. Em outra noite inspirada, contra o Malutrom, passou pelo time todo, como quis, e assinou mais uma pintura.

E foi assim, entre momentos de genialidade e displicência, entre aplausos e vaias, que Klébão atuou por quatro anos com a camisa rubro-negra, fez 185 partidas e anotou 124 tentos. Por pouco, não se tornou o maior artilheiro de todos os tempos. A marca de 154 gols é de Barcímio Sicupira, o famoso ex-craque bigodudo, que jogou oito anos no clube.

Em apenas duas temporadas e meia, desde que retornou ao Brasil, Klébão já se tornou o maior artilheiro da história do Santos em Campeonatos Brasileiros. É o quarto maior da era pós-Pelé. Mesmo assim, sempre há torcedores com sinapses defeituosas à solta pelos estádios, lá no litoral paulista e aqui em Curitiba, que costumam desprezar jogadores com tão rara presença de área.

Pois dizem que Klébão quer voltar ao Furacão. Não há nada acertado ainda - pelo menos que eu saiba - mas que seria uma boa, seria... Precisamos incendiar um pouco as coisas por aqui. Se der tudo certo, espero, sinceramente, que não venha apenas para encerrar a carreira, aportando em um canto familiar onde o que se fez no passado compensa a falta de vontade do presente. Se for pra vir, que seja pra valer. Que seja pra trabalhar sério e voltar a dar alegrias à grande torcida atleticana. Se não, que nem venha.


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