Juarez Villela Filho

Juarez Lorena Villela Filho, 46 anos, é advogado, funcionário público estadual, dirigente de rugby e arruma tempo para acompanhar jogos do Atlético, isso desde 1987. Conhece 49 estádios Brasil afora onde foi ver de perto o Furacão. Sócio desde os tempos do Atlético Total em 1998 e na nova modalidade Sócio Furacão desde 2007.

 

 

O poder da idolatria

04/11/2009


Quando alguns torcedores, cronistas, repórteres ou gente ligada ao futebol são perguntados sobre quem foi o melhor de cada posição, uma grande dúvida surge: posso falar sobre alguém que nunca vi em campo? O valor de um Caju é incomensurável e mesmo eu tendo visto (em vídeo) o que Roberto Costa “Mão de Anjo” fez, as defesas de Rafael, tão bem aqui quanto acolá, com nosso eterno ídolo Ricardo Pinto pegando tudo, com Flávio “Pantera Negra” fazendo parte da mais vitoriosa fase do Atlético, com as defesas e a simpatia de Diego, não tenho como não me render ao conhecimento e histórias dos mais velhos e corroborar: Caju foi o maior de todos.

Temos hoje no clube dois dos maiores nomes da história do Clube Atlético Paranaense. Um clube que vamos ser honestos, não se notabilizava pelas conquistas, pelos títulos, mas sim por episódios esparsos de uma vida cheia de dificuldades, crises, mas com belas vitórias, gloriosas e que se tornaram épicas com o passar dos tempos. Temos no elenco Alberto e Alex Mineiro.

Se fizermos uma seleção do Atlético, é provável que apareça Djalma Santos na lateral direita. O negão era muito forte, um fôlego de gato, muito disposição e uma técnica refinada. Lateral da Seleção Brasileira, topou o convite do visionário Jofre Cabral e aportou na Baixada, jogando com as camisas rotas e meias furadas, mas não se importando, se divertindo com aquilo e sendo campeão numa das conquistas mais apoteóticas do Furacão: o título de campeão paranaense de 1970! Li muito sobre isso, mas não presenciei nada que relatei. Acredito fielmente pois, nas histórias através dos tempos.

Mas vi Alberto. Vi o jovem lateral magricela que veio do interior de São Paulo como dezenas de outros atletas que vieram pós queda da Bastilha de 1995. No Brasileiro do ano seguinte, já na Primeira Divisão, Alberto foi peça fundamental ao lado dos polacos Nowak e Piekarski, dando passes e cruzamentos precisos e milimétricos para os gols da dupla Oséas e Paulo Rink. Não sei quantificar ao certo, mas quase metade dos gols de nossos artilheiros saíam dos pés do habilidoso lateral que chegava fácil à linha de fundo, dava dribles desconcertantes e teve a moral de matar na nuca um lançamento em frente a torcida do coxa em pleno Couto Pereira, quando pela Copa Sul vencemos num domingo por 3 X 0 e no sábado seguinte por 3 X 1, numa época em que íamos lá para jogar de igual e para igual e não ficarmos somente na defesa.

O título de 1996 não veio, mas chegou sim o reconhecimento, tendo sido eleito Alberto o melhor lateral direito do Brasileiro. Serviu ainda para valorizar o cara, emprestado no primeiro semestre de 97 para o São Paulo e 98 para o Flamengo, que nos cedeu Nélio que muito ajudou na conquista do estadual daquele ano sobre os coxas. Em 97 aliás, juntamente com o tetra campeão Bebeto e com o atacante Donizete, disputou a final do Mundial Interclubes no Japão pelo Cruzeiro, tendo sido derrotado pelo Borussia Dortmund. Na sua despedida do Furacão em 1999, após ser destaque ao lado de Lucas e Adriano na conquista da Seletiva, chorava feito criança por até que enfim ter dado um título para o clube do coração. Rumou à Itália e lá ficou por várias temporadas.

De volta ao Brasil, mais velho e realizado financeiramente, não escolheria outro clube senão o Atlético. Mas estava mal fisicamente. Mesmo tendo sido seu fã confesso, parte física nunca foi lá muito seu forte e inclusive sofríamos com seus avanços nem sempre cobertos pelos volantes ou zagueiros da sobra. E por ter se sacrificado e entrado em elencos fracos como os de 2008 e deste ano, foi execrado por parte da torcida que mal sabe quem ele é e especialmente tudo o que já fez pelo Atlético.

Alberto não voltou bem e todos vemos isso. Ele mesmo reconhece, não é bobo e sabe das coisas. O que não se pode é jogar um cara com bagagem, com história dentro do clube na mesma vala desse monte de jogadores descompromissados de hoje em dia, dos mercenários que passam metade do contrato no departamento médico e fazem milhares de pedidos para renovar. Alberto mostra e sempre mostrou dignidade e respeito pela camisa que gostamos de cantar que só se veste por amor. E se exigimos tanto esse amor, esse certo “amadorismo” dos atletas, por que não reconhecer os que o fazem de verdade? Por que não respeitar ao menos um atleta profissional que chora pelo clube, que não tem medo de declarar o que sente e verdadeiramente respeita o nosso Atlético?

Sobre Alex Mineiro escrevo outra hora. Mas para você que o vaia em campo, olhe para aquela estrelinha dourada que você adora esfregar na cara dos outros torcedores ou dizer para os coxas que você viu, alguns ao vivo a conquista e que você tem claras e cristalinas lembranças do título de 2001: boa parte daquele estrela tem nome e sobrenome: Alex Mineiro!

ARREMATE

Respeito é uma moeda de troca.


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