Silvio Toaldo Júnior

Silvio Toaldo Júnior, 49 anos, é administrador, engenheiro mecânico e sócio furacão desde 2008. Sempre acompanhou o Atlético desde a época de vacas magras no Pinheirão e teve um sonho realizado em 2001 vendo ao vivo e a cores o Furacão ser campeão brasileiro.

 

 

A nossa vida tem preço?

28/10/2009


Demorei a escrever, na verdade esperei o meu dia na escala para poder pensar melhor sobre o acidente com o jovem atleticano João Henrique Vianna e como poderia transmitir o que estou sentindo, desde o último domingo, sem incitar ainda mais a violência entre os torcedores de Atlético e Coritiba.

Estou me sentindo muito estranho desde o último domingo, até comentei com a minha esposa que não estou legal, estou me sentindo triste, chateado, enfim, desanimado e estes não são sentimentos que costumo sentir, quem sabe o que aconteceu após o clássico não tenha sido um estalo para eu realmente acordar para vida e vivê-la intensamente com minha família e meus amigos.

Por natureza eu sou um cara frio, pouco me apego às coisas materiais e não teria nenhum motivo para ficar assim até porque não conheço o menino João ou alguém da sua família, mas depois do acontecido parei por alguns instantes e me perguntei: Onde vamos parar com tudo isso? Independente de ser um torcedor coxa branca, atleticano ou paranista pra que uma coisa dessas? É uma vida que se vai, uma família que se destrói é mais uma das aberrações da nossa sociedade que clama por socorro e por segurança. A verdade nua e crua é que as pessoas estão tratando a vida como um objeto qualquer, como um simples vaso que se escorregar pelos dedos, cair no chão e quebrar não tem o menor problema, pois compramos outro por qualquer dez reais nas esquinas da grande Curitiba. Infelizmente a nossa vida não tem preço e tem gente brincando com ela.

Algumas pessoas possuem uma necessidade enorme de aparecer. Querem se mostrar para suas namoradas (os) e amigos e acabam entrando numa fria ou numa grande roubada como entrou o torcedor do Coritiba que atropelou João Vianna. Não estou dizendo que o rapaz que causou o acidente tivesse essa necessidade ou esta intenção, mas em muitos casos constatamos tal fato no nosso cotidiano. E esse tipo de pessoa acaba atropelando e passando por cima de valores éticos e morais e o final desta “brincadeira” todos sabemos como vai acabar. Educação vem do berço e deve ser levado de dentro para fora de casa diariamente, independente das suas companhias.

Outra coisa que me deixa triste e revoltado é quando, em bando, alguns engraçadinhos tentam tirar a camiseta ou blusa de alguém dentro da Baixada porque a sua vestimenta possui algum traço verde. Na Baixada não é lugar de verde, isso eu concordo, mas tem pessoas que não sabem disso. Tem gente que vem do interior ou de outros estados e nem sabe que o vermelho e o preto são as cores do Atlético e que verde é a cor do nosso maior rival e acaba passando por um constrangimento desnecessário. De nada adianta participarmos de passeatas ou empunharmos uma bandeira da paz se dentro da nossa própria casa brigamos como bárbaros e gladiadores como aconteceu recentemente.

Mas esse problema não é apenas da cidade de Curitiba, em todo o Brasil vemos absurdos relacionados ao futebol ou ao esporte, por exemplo: Alguns dias atrás a cidade do Rio de Janeiro foi anunciada como sede dos Jogos Olímpicos de 2016, uma semana depois os traficantes alvejaram um helicóptero da Força Aérea Brasileira. Indo mais além eu diria que esse não é apenas um problema dos clubes e sim de toda a sociedade que deve combater os vândalos infiltrados nas grandes massas para assaltar, para armar confusões e porque não para colocar em risco a nossa preciosa vida.

E a segurança pública? Como estamos nos preparando para eventos de grande porte como serão a Copa do Mundo de Futebol em 2014 e as Olimpíadas de 2016? A nossa segurança continuará assim até quando? É traficante derrubando helicóptero, são ônibus apedrejados e queimados por manifestantes de grupos de ideologias diferentes. A região Metropolitana de Curitiba é uma das mais violentas do nosso Estado, mata-se por muito pouco ou por quase nada. A culpa não é apenas da polícia, mas dos nossos governantes que fazem vistas grossas para a segurança pública. Se os Governos (Federal e Estadual) deixassem de dar tantas regalias para algumas pessoas não tenho dúvidas que poderiam aumentar o efetivo das nossas polícias (militar e civil) e colocar um pouco de ordem em nosso Estado e quizá em nosso país.

Essas mal traçadas linhas não farão com que a vida de João Henrique Vianna seja como era antes do acidente de domingo, mas deixo aqui o meu desabafo, a minha indignação com tamanha falta de segurança e a minha singela homenagem a ele e a sua família pedindo que Deus lhes dê o conforto para superar dias e momentos tão difíceis.


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