Sergio Surugi

Sergio Surugi de Siqueira, 66 anos, é Atleticano desde que nasceu. Neto de um dos fundadores, filho de um ex-presidente do Atlético, pai e avô de Atleticanos apaixonados, é doutor em Fisiologia e professor. Foi colunista da Furacao.com entre 2005 e 2009.

 

 

Os culpados

26/10/2009


Mais um clássico e mais do mesmo. Estão aí as autoridades a lamentar atos de vandalismo dirigidos contra veículos de transporte coletivo, mobiliário urbano e pior: acabo de receber uma informação, ainda por confirmar, dando conta do atropelamento de um jovem torcedor por um carro conduzido por outro jovem, torcedor do time rival. Talvez tenha sido só um infortúnio, um acidente como outro qualquer que acontece no dia a dia deste nosso conturbado trânsito, onde dar a preferência a pedestre resulta em buzinaço e xingamento por parte dos motoristas que estão atrás. Por outro lado, pode também ter sido um incidente criminoso, movido por esta rivalidade radical, intolerante e imbecil que apareceu de uns tempos para cá entre Coxas e Atleticanos. Infelizmente não me surpreenderia se por desgraça tiver sido assim.

Mas de quem é a culpa? Ouvi dizer, pois já faz muito tempo que não tenho coragem de assistir um Atletiba no Couto Pereira, que locutores oficiais do estádio do rival centenário, referem-se ao Atlético de modo jocoso. Que colocam no placar o nome de nosso time abreviado e que jogadores do time adversário provocam a nossa torcida com gestos ofensivos.

Aí está. Aqueles que por serem profissionais deveriam entender que jogo é jogo e que toda ação gera uma reação igual e contrária são exatamente os que se aproveitam, por estarem se sentindo seguros em seus domínios, para incitar o ódio e retirar o contexto da rivalidade do campo esportivo para outros meandros, onde os efeitos resultantes das suas atitudes são de difícil controle.

Para mim já é o bastante. Já passou o tempo de o Ministério Público tomar a iniciativa e provocar a proibição da entrada da torcida do visitante no estádio, em dia de clássico.

Talvez seja até o caso de, infelizmente, chegar-se a proibir a circulação de pessoas com o uniforme ou adereços relacionados com os seus times em dias de partidas onde existe grande rivalidade.

É isso, onde não existe consciência, a liberdade se confunde com a permissão para delinquir e deverá ser controlada a bem da segurança da comunidade.

Já basta de lesão ao erário público e de prejuízos aos trabalhadores que normalmente já têm que enfrentar as dificuldades e o custo de nosso sistema de transporte coletivo. Já chega de ver famílias chorando por sequelas de agressões ou até pela perda de entes queridos violentados por causa de um esporte de competição.

Enquanto jogadores e dirigentes não agirem como profissionais que são, teremos que usar do poder do Estado, que tem por obrigação constitucional cuidar da segurança pública, para coibir de modo enérgico os desvios de conduta de ignorantes que confundem uma partida de futebol com uma guerra na qual o inimigo não deve só ser vencido, mas sim humilhado e logo eliminado.

Sei que para muitos leitores a minha opinião poderá soar exagerada ou até boba, mas cuidado. Não espere para se sensibilizar quando, por lástima, acontecer algo deste tipo com alguém próximo a você, quando a intolerância o transformar, de um modo ou de outro, em vítima.

Os incontinentes devem compreender que ninguém ganha com estes excessos. A fugaz alegria que vem de humilhar o rival dura até o próximo clássico, quando a situação via de regra se inverte.

Vamos pensar um pouco, dar um tempo para a inteligência. Continuar permitindo que torcedores rivais se comportem como animais tem se mostrado mais do que idiota. Está ficando perigoso.


N.do A.: Já quase treze horas após eu ter postado esta coluna, a imprensa nos fornece informações importantes acerca do caso do atropelamento, as quais nos convidam a acreditar que o rapaz que conduzia o veículo pode ser tão vítima quanto o que infelizmente foi atropelado. Na verdade somos todos vítimas de um comportamento, que se não é o único responsável, na minha opinião contribui sobremaneira para criar o animo nocivo. Também deve ficar claro que as atitudes não acontecem só no Couto Pereira. Já vi iniciativas deste tipo contra a torcida Coxa na Baixada. Procurei ser claro em meu texto, mas não custa reiterar que não se deve prejulgar os envolvidos diretamente no acidente. Não foi esta a minha intenção, pois se assim o fizesse, estaria a minha coluna a favor exatamente daquilo que eu quero combater: a intolerância.


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