Jean Claude Lima

Jean Claude Lima, 57 anos, é publicitário e jornalista, sócio-proprietário da W3OL Comunicação Ltda. Compreende o fato de ser atleticano como uma complementação da sua própria existência e professa essa fé por todos os lugares do mundo onde já esteve ou estará. É pai de uma menininha, Mariana, que antes mesmo de nascer, já esteve no gramado da Arena, e agora de um menino, Rodolfo, batizado com uma camisa onde se lia "nasci atleticano".

 

 

A Várzea

17/10/2009


Se nós tivéssemos o dom de transformar a várzea em um espírito, em uma entidade, em algo tátil, ela estaria materializada em alguns aspectos do futebol paranaense. Tanto eu quanto outros colunistas aqui, vimos há muito apontando as diferenças de tratamento que a imprensa dá em favor de uns e outros. Mas é simples de entender. Os caras torcem por eles de verdade, de forma apaixonada de berço mesmo. E todo mundo sabe que “fulano” torce para “a”, “beltrano” para “a” e assim sucessivamente. Isso impacta no tratamento, nos textos, nas manchetes, na cobertura e resulta em coisas toscas como a capa da Tribuna que jamais deve ser esquecida. Jamais. É uma das facetas da “VÁRZEA”, que chamamos de problema “A”.

Como vivemos em uma cidade ainda “pequena”, as pessoas circulam nos mesmos lugares, todo mundo conhece alguém que conhece alguém, que conhece o jornalista que fez “aquela matéria”. Os caras das rádios tem uma dura batalha pela sobrvivência. Alguns têm que comercializar cotas de patrocínio, pois as empresas acabam não conseguindo arcar com os custos de manutenção de uma equipe esportiva, em geral muito altos quando observados os pisos salariais da categoria. Aí está aberto o espaço para que aconteça tudo. Essa é outra faceta da “VÁRZEA”, que chamamos de problema “B”. Quem pode pagar suas equipes e bater no peito dizendo que faz isso, ainda assim enfrenta o problema “A”, com cronistas claramente identificados com clubes.

Mas posso afirmar por experiência própria que é extramente difícil romper o ciclo da VÁRZEA. Eu pessoalmente não tive muito sucesso nisso e hoje, como colunista, posso compreender o processo e escrever com autoridade sobre ele, embora não me sinta seguro para dar nome aos bois. Vi na prática os problemas "A" e "B" somados. Trabalhar no mundo do futebol tem algumas analogias com o universo da política. O desafeto de hoje pode vir a ser o parceiro de amanhã, e para sobreviver no meio, é preciso ter a “esperteza de quem está cansado de apanhar”.

Destaco nesse contexto as rupturas que fez o nosso Clube. Mergulhado na várzea, tornou-se sem precisar ter 100 anos em uma potência, articulado em nível nacional, respeitado pelo seu patrimônio, conquistas, política de marketing e filosofia institucional. Ao quebrar o ciclo da VÁRZEA, fica entendido que qualquer coisa que relembre os tempos difíceis, vai sofrer a imediata rejeição da torcida, que não deseja nem passar perto do brejo.

Porém, não podemos achar que vivemos em um tempo de obra acabada. Há muito por fazer e nossos dirigentes sabem disso. No meio do caminho não houve só acertos, embora eles mereçam muito mais destaque do que os erros. Isso os “varzeanos” tem que admitir, pois o desejo deles é que nós ficássemos para sempre ouvindo-os falar que “são melhores nisso” ou “ganharam mais vezes aquilo” e por aí afora. Torna-se difícil para o clã da VÁRZEA admitir que eles não reinam mais absolutos na província. O poder está dividido e isso é para sempre. Nunca mais haverá uma década de 70, onde a mão pesada de certos homens fez a balança pender para um lado só, à margem da justiça do campo. Nunca.

Temos que continuar marchando de forma vigorosa em direção ao futuro. É preciso vencer no campo e escapar de forma definitiva das divisões inferiores. Isso é para "varzeanos". O Atlético de hoje, não pode ser igual ao de ontem e deve ser melhor que o de amanhã. Não nos basta pouco! O futebol não é apenas um jogo. É soma de todas as coisas, que produz reações e emoções imprevisíveis . Volto a insistir que não precisamos esperar chegarmos ao 100 anos para nos tornar cada vez mais fortes. A nossa história nos avaliza, a nossa torcida nos dá alma e a força para sermos senhores de um futuro vitorioso. Longe, bem longe, muito longe da VÁRZEA. Que assim seja!


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