Daniel Machado

Daniel Lopes Machado, 46 anos, é empresário e consultor em sistemas de informação. Considera os versos da sexta estrofe do hino atleticano, escritos por um ex-jogador, imortalizado em uma espontânea demonstração de amor ao clube, a mais bela poesia de todos os tempos: "A tradição, vigor sem jaça... Nos legou o sangue forte... Rubro-negro é quem tem raça... E não teme a própria morte!" Foi colunista da Furacao.com entre 2008 e 2010.

 

 

O apertador de botões

09/10/2009


Euclides Austero era um gerentão. Foi dele a última palavra na contratação de Juvenal Pequeno, que inicialmente seria alocado na linha de montagem.

– Como é o seu nome mesmo?
– Juvenal, chefe Euclides.
– Escuta, o negócio é o seguinte: aqui, nesta empresa, nos dirigimos às outras pessoas, principalmente a nossos superiores, por um pronome de tratamento adequado, seguido do sobrenome. Logo...
– O que é pronome de tratamento?
– É a palavra "senhor". A propósito, você nunca deve me interromper. Responda apenas o que lhe é perguntado. Entendido?
– Sim, Sr. Austero.
– Muito bem, vamos começar novamente. Qual é o seu nome?
– Meu nome é Sr. Pequeno.
– Ótimo. Gostei disso. Bom, Sr. Pequeno, aquele barbudo ali é o Sr. Peixoto, certo?
– Certo, Sr. Austero.
– Seu trabalho será ficar ao lado da esteira. Mantenha o dedo em cima deste botão vermelho. Sempre que o Sr. Peixoto gritar "Para!", você aperta o botão.
– Sr. Austero?
– Sim, Sr. Pequeno?
– Posso pedir permissão para lhe interromper?
– Agora já interrompeu. Fala.
– Qual dedo devo utilizar para apertar o botão?
– Qualquer um, Sr. Pequeno, qualquer um. O importante é que você aperte o botão vermelho sempre que o Sr. Peixoto gritar "Para!". Alguma dúvida?
– Sim, Sr. Austero. Quantas vezes devo apertar o botão vermelho se o Sr. Peixoto gritar "Para!"?
– Apenas uma. Mais alguma dúvida?
– Não, Sr. Austero.
– Excelente. O Sr. pode começar agora mesmo.
– Sim, Sr. Austero.

E ficou ali o Juvenal, com o polegar encostado no botão. Tudo corria bem, até que passou pelo Sr. Peixoto um vento encanado. Ouviu-se um espirro escandaloso. Ansioso, sem tempo para distinguir entre "Atchim!" e "Para!", Juvenal pressionou o comando com todo o vigor. Veio o Sr. Austero.

– Para tudo, para tudo. Sr. Pequeno, por acaso o Sr. ouviu a palavra "Para!" da boca do Sr. Peixoto?
– Não, Sr. Austero. É que eu escolhi o dedão, sabe? Aí eu não tenho muita precisão com ele. E a verdade é que eu estava com o meu dedão muito perto do botão, né? Então como eu estava um pouco nervoso e como eu me assustei com...
– Ok, ok, Sr. Pequeno. Então, a partir de agora, use o seu dedo fura-bolo, e mantenha-o mais afastado do botão. Entendido?
– Sim, Sr. Austero.
– Então volte já ao trabalho.

Juvenal deixou o indicador levemente suspenso. Esperou, esperou e esperou. De repente, gritou o Sr. Peixoto:

– Para, Juvenal, para, pelamordedeus, para! Aperta esse botão, hómi!

Nosso amigo Juvenal nem se deu ao trabalho. Causou um grande transtorno na fábrica. Mais uma vez, veio o Sr. Austero.

– Sr. Pequeno, por que o Sr. não apertou o botão, posso saber?
– Ora, Sr. Austero, não apertei o botão porque o Sr. Peixoto não disse "Para!". Ele disse: "Para, Juvenal, para, pelamordedeus, para! Aperta esse botão, hómi!". Então, como "Para!" é bem diferente do que disse o...
– Escuta aqui, Sr. Pequeno. Não importa qual seja o comando exato do Sr. Peixoto. O importante é que o Sr. entenda que é preciso que o Sr. pare a esteira. Este botão vermelho faz a linha parar. Entendeu?
– Entendi, Sr. Austero.

A partir desse dia, Juvenal errou muito pouco em serviço. Só de vez em quando, mas dentro dos limites do aceitável. Orgulhoso pelos êxitos obtidos pelo nosso heroi Juvenal, o Sr. Austero decidiu aumentar-lhe o salário e a responsabilidade. Hoje em dia, enquanto conto esta história, Juvenal está aprendendo a operar mais três botões: o verde, que reaciona a esteira; o branco, que liga a esteira no início da jornada; e o preto, que desliga a esteira no fim.

Não é fácil, mas Juvenal aos poucos vai assimilando todos os conceitos.

Qualquer semelhança com o nosso Furacão não é mera coincidência. Temos o nosso Sr. Austero, o delegado Antônio Lopes, que tenta ensinar, pouco a pouco, onze juvenais em campo.

A boa notícia é que já aprendemos a nos defender. Depois das últimas quatro partidas, podemos dizer que hoje somos um time eficiente na defesa. A maior prova foi o jogo de quarta, contra o Grêmio, dono de um dos melhores ataques do campeonato.

A má notícia é que ainda temos que aprender a apertar outros botões. Precisamos aprender a jogar também com a bola nos pés, melhorar a produtividade ofensiva, a confiança e a regularidade do time.

Se é verdade que um time se arruma de trás pra frente, tudo indica que estamos no caminho certo.

Promoção Leilão Timemania

A distribuição dos valores arrecadados com a Timemania vai mudar. A partir de 2010, os 20 clubes mais bem colocados no ranking de apostas receberão uma participação maior.

No total acumulado de 2009, ocupamos a 17ª colocação, com uma diferença de cerca de 100.000 apostas em relação ao Santa Cruz, que ocupa a 21ª posição.

Por isso, é importante a participação da torcida rubro-negra, especialmente durante estes três últimos meses do ano. Precisamos permanecer na primeira divisão, do Campeonato Brasileiro e da Timemania.

Neste sentido, é muito bacana e oportuna a iniciativa do clube. O torcedor atleticano que fizer o maior número de apostas nos próximos dois concursos ganhará uma camisa oficial, autografada pelo capitão Paulo Baier.

A minha parte eu vou fazer agora mesmo, depois do almoço. Talvez eu não ganhe a camisa, considerando os poucos trocados que carrego no bolso. Mas não me importo. O importante é ajudar o Furacão.


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