Daniel Machado

Daniel Lopes Machado, 46 anos, é empresário e consultor em sistemas de informação. Considera os versos da sexta estrofe do hino atleticano, escritos por um ex-jogador, imortalizado em uma espontânea demonstração de amor ao clube, a mais bela poesia de todos os tempos: "A tradição, vigor sem jaça... Nos legou o sangue forte... Rubro-negro é quem tem raça... E não teme a própria morte!" Foi colunista da Furacao.com entre 2008 e 2010.

 

 

O que realmente importa

25/09/2009


Meu cunhado chama-se Fábio. É coxa-branca. Minha irmã é mais velha, e eu, ainda muito moleque, não havia adquirido poder de veto na escolha do namorado. Não pude evitar: casaram-se. E o tempo mostrou que, apesar de cunhado, apesar de coxa-branca, o cara é gente boa. Parece piada, mas é sério: cunhado coxa-branca gente boa.

Sim, gente finíssima, da melhor estirpe. Pero, já houve atritos, é preciso dizer. Afinal, ele continuava sendo cunhado. E pior: coxa-branca. Certa feita, do andar de baixo, Fábio vibrava com a iminente derrota do Atlético diante do América Mineiro, por 3 a 1, até os 30 do segundo tempo. Aquele placar eliminaria o rubro-negro da Copa Sul-Minas de 2002. Enquanto isso, eu assistia à partida do andar de cima. E ri por último, quando o Furacão, numa dessas que só o Furacão é capaz, virou espetacularmente o placar, com dois jogadores a menos em campo.

4 a 3! Entrou para a história o Milagre do Independência. O juizão apitou e desci as escadas. 'Chuuuuuupaaaa!' passei pela sala gritando. Tomei o caminho da porta da frente e nem dei tchau.

Durante alguns meses, o ambiente ficou pesado. Eu achei que ele havia faltado com respeito, e ele achou que eu havia faltado com respeito.

22 de dezembro de 2002

Naquele mesmo ano, nasceu meu sobrinho Leonardo, filho do Fábio. E na noite de Natal, envolvidos pelo clima de emoção, selamos as pazes. Estava claro que a felicidade da nossa família não podia depender da rivalidade exagerada e estúpida entre Atlético e Coritiba.

Leo hoje tem 6, quase 7, e quis o destino que ele não gostasse de futebol. Não dá nem bola para a bola. Não é coxinha e não é atleticano. Sei que me ama muito. Ama muito também o pai dele, por óbvio. É uma dessas crianças que ensinam sem querer aos adultos, através da pureza e bondade no coração.

No final de 2008, minha irmã Carol engravidou novamente. E minha esposa Pati também. Quase ao mesmo tempo, com aproximadamente um mês de diferença. Soubemos juntos que em breve viriam duas primas ao mundo, que eu seria tio pela segunda vez; e, logo em seguida, pai pela primeira.

14 de agosto de 2009

Nasceu a Luiza, recheada pelo espírito de boas vindas e felicidade.

Semana passada, sonhei que as duas novas seriam melhores amigas para sempre. Uma coxa-branca doente, a outra atleticana fanática. Que mantinham a competição sadia durante 90 minutos, no máximo. Ou, quando muito, durante brincadeiras sutis e respeitosas. E que depois se uniam e se ajudavam, que uma instigava e empurrava a outra em direção ao topo, em busca de sabedoria, segurança e sucesso mútuo.

Descobri o que realmente importa.

21 de setembro de 2009

E enfim, depois do nascimento da Maria Letícia, a flor mais bela, começou a primavera.


Este artigo reflete as opiniões do autor, e não dos integrantes do site Furacao.com. O site não se responsabiliza e nem pode ser responsabilizado pelas informações acima ou por prejuízos de qualquer natureza em decorrência do uso dessas informações.