Ricardo Campelo

Ricardo de Oliveira Campelo, 45 anos, é advogado e atleticano desde o parto. Tem uma família inteira apaixonada pelo Atlético. Considera o dia 23/12/2001 o mais feliz de sua vida. Foi colunista da Furacao.com entre 2001 e 2011.

 

 

Divisão do trabalho

07/05/2004


Dentro da matéria “Estudos Sociais”, que cursei no Primeiro Grau no Colégio Anjo da Guarda, aprendi sobre a “Divisão Social do Trabalho”. A idéia base, que guardo até hoje, é de que o trabalho se divide em físico e intelectual. Trabalhadores físicos são aqueles que utilizam a energia do próprio corpo em sua atividade, como os pedreiros, os garis, etc. Trabalhadores intelectuais, por outro lado, são aqueles que atuam no plano das idéias, como os advogados, os jornalistas, e por aí vai.

À luz desta idéia, podemos analisar os Clube de futebol. Teríamos os dirigentes como trabalhadores intelectuais, e os jogadores como trabalhadores físicos. No Atlético, porém, há um diferencial: existe uma legião de apaixonados que contribui no trabalho físico. Claro que estou falando da torcida. Pessoas que emprestam suas cordas vocais para incentivar os jogadores a buscar a vitória, o que é objetivo comum do Clube como um todo.

Comecei a torcer pelo Atlético desde criança, graças a meu pai. E como uma criança não tem como exercer trabalho intelectual, acostumei-me a ajudar o Clube com trabalho físico. Quando vou ao estádio, procuro gritar ao máximo, e fazer com que os que estão próximos a mim gritem também. Pois isto é o qume podemos fazer no momento para ajudar nosso Clube. Não acho que todos tenham que gritar, isto depende do perfil de cada um. Mas é a forma que eu vejo de ajudar dentro
do estádio.

Foi duro demais chegar no estádio no último jogo e ver nosso trabalho, o da torcida, enfraquecido. Sem o seu maquinário, nossos trabalhadores não conseguiram apresentar a mesma produção de sempre. A engrenagem travou, e o mau resultado em campo é reflexo disto.

O que ocorre no Atlético, hoje, é um conflito entre trabalhadores físicos e intelectuais. Uma greve. Não há coesão entre os setores, e a engrenagem que compõe o Clube está emperrada. Tudo isto acaba repercutindo dentro de campo – não há outra explicativa para o empate no Atletiba dentro da Baixada, e com o rival desfalcado e com um jogador a menos.

A hora é de pensar na firma. No Clube, que é quem abriga estes trabalhadores físicos e intelectuais. Cada uma das classes hão de ter a consciência de que ambas têm importância fundamental para o Clube, e que o entendimento é peça chave para o giro perfeito da engrenagem. Para isto, “Alguém tem que Ceder”, como diz o título do filme.

Ceder onde?

Quanto ao preço dos ingressos, não há o que se falar: a questão está nas mãos do Judiciário. Diretoria nem torcida podem ceder. Resta então a questão do material da torcida. Permito-me propor uma trégua nos seguintes termos:

Exmo. Presidente Augusto Fleury e Exmo. Presidente do Conselho, Mário Celso Petraglia, por favor, revoguem a medida imposta na última partida, impedindo a torcida de entrar no estádio com sua bateria. A bateria é um instrumento que serve para embalar os gritos da torcida, e por conseqüência empurrar o time para a vitória. É algo que só visa o bem do Atlético, não há razão para a proibição.

Para a Torcida Organizada Os Fanáticos, peço que cedam quanto às ofensas à diretoria. Se a bateria for liberada, não haverá, de momento, outras razões para protestar, já que a questão dos ingressos está com o Judiciário. Vamos, então, dar uma trégua nos xingamentos e focar o nosso trabalho em ajudar o time que estiver em campo.

São as medidas que eu, humildemente, apresento como uma possível solução para esta “greve”. O assunto pode e deve ser discutido, talvez melhor trabalhado. O que não podemos é ver a engrenagem parada sem fazer nada.


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