Juliano Ribas

Juliano Ribas de Oliveira, 51 anos, é publicitário e Sócio Furacão. Foi colunista da Furacao.com entre 2004 e 2007 e depois entre março e junho de 2009.

 

 

Quem vai pagar a conta?

30/04/2004


Mais um capítulo do assunto que está desunindo o Atlético aconteceu. Não dá para saber até onde vai essa novela. Mas alguns, que se dizem protetores dos pés descalços, comemoram. Aplausos a tradicionais nomes da política paranaense foram ouvidos. Aqueles que demagogicamente se colocaram ao lado de uma grande massa desinformada de manobra, também comemoram, por algum benefício pessoal que possam alcançar com toda essa celeuma.

Em nenhum momento pensaram em elevar o debate, promovendo-o a uma busca de soluções em prol única e exclusivamente da instituição octogenária Clube Atlético dos Paranaenses. Argumentos frágeis de cunho pessoal, reclamações, urros, pouco mais do que isso veio daqueles que hoje vibram com a decisão, ainda passível de recurso, do judiciário.

Entendo totalmente os protestos de muitos. A situação do nosso país está difícil, se é que alguma vez não foi. Mas as regras desse mundo em que vivemos estão selvagens e está difícil para todo mundo sobreviver. Entidades como os clubes de futebol estão sofrendo e caindo em mares de dívidas. Estão quebrados. O Atlético luta para não se inflacionar e manter as finanças saudáveis. Como todos os brasileiros e a maior parte do mundo, o CAP sente os desafios de um mundo globalizado, de altíssima competição. O mundo romântico acabou, assim como o futebol romântico. Infelizmente. Como diria o Felipão, "não se amarra mais cachorro com lingüiça".

Como fica o Atlético agora? Bastou perder o título para os "verdes" e todo mundo ficou indignado, pedindo troca de técnico, contratações, jogadores famosos, técnicos como Luxemburgo, Tite. Um técnico desses custa o preço de um bom apartamento por mês. O projeto de fazer o CAP o maior para poder bancar gente assim custa dinheiro. E muito.

O Atlético ainda é um clube tentando chegar em outro patamar. Não chegou lá ainda. Mas isso é exigência de toda a torcida. Querem bi, tri brasileiro, querem a obrigação de jogar sempre para ganhar. Querem conquistas maiores, uma Libertadores. Mas como manter as finanças em ordem, manter toda nossa gigantesca estrutura, trazer jogadores e técnicos de nome, oferecer o melhor e não quebrar?

Para conseguir um grande patrocinador, o Atlético precisa chegar nesse outro patamar, porque grandes multinacionais não vão bancar parte das nossas contas por amarem ao Atlético, mas sim pelo retorno que poderemos dar. E para dar esse retorno, precisamos de uma torcida com âmbito nacional. E para chegar a isso, precisamos de grandes títulos, não campeonatozinhos paranaenses, que valem mais pela rivalidade local. Títulos, ano a ano, para conquistar torcida do Oiapoque ao Chuí.

O Atlético precisa mais do que nunca da ajuda da torcida para chegar lá, mas ajuda efetiva. Cantorias e batuques são lindos, criam um belo clima no estádio, mas, infelizmente não pagam contas. O que o Atlético precisa é de fidelização, de poder contar com uma quantia certa, vinda da torcida, que todo final de mês ajude a equilibrar o orçamento.

Somos um clube que vive exclusivamente do futebol. Não temos sede social, piscinas, ginásio. Times de futsal, de vôlei, de basquete. Não temos uma equipe "Rexona Atlético" de vôlei. Ou um "BCN Atlético" de futsal. Não contamos com receitas advindas desse meio. Não é como o São Paulo ou o Palmeiras, que têm sedes para sócios. O único lugar onde as pessoas participam da vida do CAP é na Arena. E é lá que o CAP oferece a todas diversão e passatempo. Os pacotes, a fidelização, seria a mensalidade. E quem paga essa mensalidade merece alguns privilégios. Como pagar menos do que aqueles que vão esporadicamente. Quem vai sempre, vira sócio com os pacotes. Quem não, paga ingresso avulso mais caro. É uma excelente maneira de se contribuir com o clube e premiar os mais fiéis. Tudo bem, o pacote ainda é considerado caro. Então, ao invés de deixar tudo como está, digam o quanto seria justo pelos pacotes. Mas não acabem com essa fantástica idéia, que ajudaria nosso Atlético a ser grande e ao mesmo tempo não quebrar.

A diretoria quer chegar a 30% de arrecadação com ingressos, diz ela. E ainda é pouco. Mas atualmente, é muito menos do que isso a participação da bilheteria no fechamento das nossas finanças.

Temos que ajudar o CAP. E quando uma tentativa foi feita, bagunçaram demagogicamente todo o processo. Jornalistas anti-Atlético, advogados carniceiros, políticos oportunistas. Figuras fáceis onde há uma grande massa, como a da maior torcida do estado reinvidicando alguma coisa. Espero que tudo termine com o Atlético forte e unido. Essa é minha única preocupação. Todos somos apenas atleticanos, queremos o bem do nosso time e a realização de nossos ideais.

Que sejam tentadas novas soluções então, como pacotes mais baratos ou alguma setorização. Pacotes 2004/2005 a R$ 15,00 por jogo, 2004 a R$ 20,00 e ingresso avulso a R$ 25,00 ou R$ 30,00, dando um simplório exemplo. Mas a mudança de mentalidade deve acontecer. Neste país paternalista, espera-se sempre que tudo venha de cima para baixo. Do governo para o povo. Do clube para os torcedores. Para haver avanços, isso precisa mudar. Li uma vez algo que o Petráglia disse, com o que concordo. Ele disse que se o torcedor puder entrar de graça, ver seu time golear, tomar sua cerveja, se divertir e não pagar nada por isso, ele vai preferir. Não pode ser assim. Deve haver compromisso com o clube. A formação de uma aliança.

Espero que no final de tudo isso, os aplausos sejam de congratulação, por termos chegado a uma saída viável. Que os aplausos sejam para o nosso amado Atlético. Não para raposas da política.

Saudações Rubro-negras a todos os atleticanos que voltaram a se alegrar com o time. Não poderia ser em hora mais apropriada: antes de pegar os falidos coxinhas.


Este artigo reflete as opiniões do autor, e não dos integrantes do site Furacao.com. O site não se responsabiliza e nem pode ser responsabilizado pelas informações acima ou por prejuízos de qualquer natureza em decorrência do uso dessas informações.