Juarez Villela Filho

Juarez Lorena Villela Filho, 46 anos, é advogado, funcionário público estadual, dirigente de rugby e arruma tempo para acompanhar jogos do Atlético, isso desde 1987. Conhece 49 estádios Brasil afora onde foi ver de perto o Furacão. Sócio desde os tempos do Atlético Total em 1998 e na nova modalidade Sócio Furacão desde 2007.

 

 

Vida nova

31/07/2009


Já ouvi algumas vezes essa coisa de que o ano no Brasil só começa depois do carnaval. Aqui em Curitiba, onde (in) felizmente a Festa de Momo é um arremedo do que efetivamente é o carnaval não vivemos isso tão intensamente, mas para quem passa a temporada na praia ou já esteve em Salvador ou no Rio de Janeiro no verão sabe bem o que esta festividade representa e não à toa em muitas cidades, especialmente as turísticas e litorâneas, as aulas só começam depois de se varrer a última serpentina na quarta-feira de cinzas.

Imaginem se transportássemos para nossa realidade o fato de fazermos o verdadeiro reveilon somente em março. Deixar para pagar o IPVA, o IPTU, para fazer a matrícula dos filhos só em março. Não pagar a tv a cabo, o telefone e a energia elétrica nesses primeiros três meses, afinal o ano ainda não começou de verdade e a gente merece férias. Enfim, não levar nada a sério até se passar o carnaval! Contas acumuladas, prejuízo certo, tempo perdido.

Pois bem, o Atlético repetidas vezes só acorda em ....agosto! Sim, o Clube Atlético Paranaense parece estar inerte nos “primeiros” setes meses do ano, onde invariavelmente jogamos o semestre fora. Em 2006 vínhamos de um ano anterior sensacional, retomada do título estadual sobre o maior rival, boas negociações, uma final de Libertadores, um bom 6º lugar no Brasileirão e ainda como bônus vimos o Coritiba cair pra segundona! A promessa do então presidente Fleury era que 2006 seria “o ano do futebol”, que todas as forças após a queda do muro e saída do colégio seriam canalizadas para o futebol. Começamos o ano fazendo a maluca aposta no alemão fujão Matthaus, eliminados vergonhosamente dentro de casa por Adap-Galo e Volta Redonda e trouxemos Givanildo para ver se consertaríamos o barco. Aqui cabe um adendo, a boa base de 2005 foi desfeita e desde então temos justamente feito o contrário: mantido uma base, uma espinha dorsal fracassada e derrotada.

“Mestre Giva” veio, desde o começo mostrou sua incapacidade em fazer aqui o mesmo bom trabalho feito em vários clubes nordestinos e provou que a direção atleticana além de inventar banca por muito tempo suas apostas malucas no comando técnico do time. Pior que trazê-lo foi mantê-lo quando era visível que não estava dando certo. Pior, em 2006 teve Copa do Mundo, mais de 50 dias sem jogos oficiais, o clube podendo demiti-lo e ter mais de um mês para treinar com uma nova formação e nada....

Me irritei, vou tomar um café e volto daqui a pouco.
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.....café mais ou menos, fui num chá de cevada muito bom!

Bem, após a extrema demora em demitir “Mestre Giva” o clube surge com a opção requentada de trazer Vadão. Serei justo, em 2006 ele até que quebrou um galho, ao menos via que dentro do elenco havia Valencia, melhor que Erandir e que aquele baixinho ligeiro chamado Marcos Aurélio, ali encostado pelos cantos do CT ao menos merecia uma chance e ao lado de Denis Marques formou a última dupla de ataque digna de vestir a camisa de Jackson & Cireno, Sicupira & Nilson Borges, Washington & Assis, Oséas & Paulo Rink, Lucas & Kléber, Kléber & Alex Mineiro entre os eternos ataques fulminantes de nossa história.

O reforço do lateral Michel (melhor que Ivan, o poste), dos veteranos Cesar e Paulo Rink, amuleto da torcida ainda nos deu uma feliz Sul Americana e um Brasileiro onde escapamos do rebaixamento com alguma folga, terminando entretanto na metade de baixo da tabela na 13ª colocação. A luz se acendeu, bastava querer ver.

A direção não quis e assim iniciamos 2007 com praticamente o mesmo time, o mesmo varzeano treineiro e somente com Alex Mineiro como esperança de dias melhores. Após perder pela 1ª vez, de goleada e ser eliminado pelo Paraná Clube, fomos com isso aí pro Brasileiro e bucha após bucha, com a contusão que tirou Alex Mineiro de metade da competição, perdendo de goleada em casa, aliás, quebrando vários tabus positivos que tínhamos ao menos em casa, chega agosto e a direção traz além do jovem, estudioso e inteligente Ney Franco, o qualificado Antonio Carlos do futebol europeu, o experiente e nada barato Marcelo Ramos e tem a “sorte” de acertar na ida de Cristian e a vinda de Claiton do Flamengo.

Ney Franco deu uma coesão defensiva que não temos desde sua saída, organizou um time que não era brilhante, não fazia muitos gols, mas tampouco os sofria. Vale lembrar que em todo o returno a direção deu o braço a torcer e todo ingresso era meia entrada, lotando o estádio constantemente e criando uma atmosfera positiva que nos fez sair da zona de rebaixamento, terminar a competição em 12º lugar e ver o Paraná cair pra segundona.

Erro repetido, a direção manteve o mesmo time para 2008. Após golear o vento no estadual, mostrar toda a fragilidade ao ser eliminado pelo curioso Corinthians de Alagoas em casa e perder o título em casa para o maior rival, dá-lhe insistir no erro e ir com o mesmo time pro Brasileiro, como que por um milagre os jogadores aprendessem a jogar bem durante as férias. Aliás, em 2008 teve um agravante, a direção se desfez de dois de seus principais jogadores e não trouxe absolutamente NINGUÉM para os lugares de Ferreira e Claiton, como se mais uma vez num passe de mágica seus substitutos tomassem uma poção, o suquinho mágico dos ursinhos Gummy e fossem dar conta do recado!

Ney foi mandado embora, mesmo que bom treinador parecia desgastado à época e veio para seu lugar mais uma aposta maluca vinda da terra do frevo, do maracatu e dos bonecos do carnaval de rua: Roberto Fernandes, o popular Bob que nos fez perder o rumo, pegou o time mal e o entregou péssimo na tabela e passou o bastão para outro que assim como Vadão só dirige o Atlético de clube de 1ª divisão, Mário Sérgio e enfim a direção, lá por agosto, abre os olhos, os cofres e traz Geninho, contrata Rafael Moura louco para mostrar serviço, tenta com Joãozinho sabidamente com qualidade, mas com a preguiça e o álcool no corpo, aposta em Julio Cesar, afasta Danilo, recupera Netinho, efetiva Galatto e estes dois últimos, ao lado de Alan Bahia e os gols importantes de Rafael Moura fazem uma campanha de recuperação que nos tira do rebaixamento somente na última rodada terminando em 13º, metade de baixo da tabela de novo.

Bem, vale recordar que Geninho só veio porque o então presidente do Conselho se afastou inclusive do dia a dia do clube, que houve um pacto entre jogadores/direção e segmentos organizados da torcida, que lotamos a Baixada somente de sócios e que principalmente, o elenco recebia gordos bichos por meras vitórias, mostrando assim o porquê de tanto empenho e luta em campo!

Vem 2009 e a “nova” direção do Atlético faz algumas mudanças, muitas coisas boas em especial com relação ao relacionamento com a torcida e mesmo com a imprensa, uma bela festa no aniversário do clube e ao menos reconquista o estadual, ainda mais no ano do centenada de nosso rival. Mas no futebol mantém a mesma base, segundo a direção “boa” para o ano seguinte.

O recado foi dado quando perdemos, algumas em casa para times semi-amadores no estadual e quando fomos goleados e com direito a totó de bola do único time de 1ª divisão que enfrentamos na Baixada. Os 2 X 4 aplicados pelo coxa de Marcelinho Paraíba foram tão claros como o chulé de bola que levamos do Nacional de Rolândia e do Jotinha, que só não levantou o caneco porque entramos com 2 pontos extras na segunda fase.

E com esse time a direção se aventurou no Brasileiro. E este mesmo time é presa fácil para times nada mais que medianos como Vitória, Santo André e Avaí e consegue ainda a proeza de perder de virada para o Nautico e ser humilhado pelo xará mineiro, tudo isso na Baixada. Não precisava ser muito inteligente nem esperto para saber que estamos onde estamos por mera conseqüência da fragilidade do elenco, mostrada ano a ano como visto nesta breve retrospectiva.

Agora chega agosto, com ele a janela de transferências e vamos nós outra vez começar tudo de novo, com oito meses de atraso e gastando mais e sem poder errar devido à escassez de tempo. Minha grande dúvida é se este ano haverá tempo, já que estamos flertando com o rebaixamento há três anos e como bem escrito por um leitor dia desses sobre um de meus textos: de tanto namorar um dia a gente casa; estamos de namorico com a série B faz tempo, uma hora cai.

Me resta torcer e rezar. Tomara que ainda dê tempo. Agosto, o mês do cachorro louco e o mês que o Atlético costuma acordar está chegando. Que seja o início de uma vida nova.

ARREMATE

“Das lembranças/
Que eu trago na vida/
Você é a saudade/
Que eu gosto de ter”
- Outra vez – ROBERTO CARLOS


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