Carlos Antunes

Carlos Roberto Antunes dos Santos, 79 anos, é professor de História e foi Reitor da Universidade Federal do Paraná entre 1998 e 2002. Filho do ex-treinador Ruy Castro dos Santos, o famoso Motorzinho, técnico que criou o célebre Furacão de 1949. Nos anos 50 e 60, jogou nos juvenis do Atlético, sagrando-se bicampeão paranaense. Foi colunista da Furacao.com entre 2007 e 2009.

 

 

Quarenta e cinco

27/07/2009


Convivendo com a mediocridade de um time, 45 passa a ser um número mágico e de pesadelo para nós atleticanos. Daqui pra frente vamos dormir e acordar com este número batendo na nossa cabeça. Os campeonatos da série A de 2007 e 2008 demonstraram que 45 é o número mínimo de pontos para a salvação da degola. Portanto, para chegar a escapar da 2ª. Divisão o CAP necessita somar 45 pontos, isto é, mais 33 pontos do que tem agora. E como fazer? Considerando que dos últimos 4 jogos, com 12 pontos disputados, foi ganho apenas 1 ponto, praticamente estamos condenados ao rebaixamento.

Quando começou o Campeonato Brasileiro com o CAP e o Coxa rondando a zona de rebaixamento, corria na cidade a seguinte piada: “já está tudo certo que os quatro a serem rebaixados para a Série B terminam com i: Avaí, Barueri e os dois daqui”. Passadas as 14 rodadas e, portanto, um terço do campeonato, os dois primeiros fazem uma bela campanha e os dois daqui começam a percorrer os caminhos da guilhotina. Mas, não interessa a situação dos verdes. A verdade é que o Furacão montou um elenco de baixa qualidade que teima em subverter os dois principais objetivos do futebol: fazer gol e não tomar gol. O CAP obtém hoje números degradantes: é a 2ª. defesa mais vazada e o 2°. ataque menos positivo. Portanto, o Atlético se deu ao luxo de ao não fazer gols e, ao mesmo tempo, tomá-los aos borbotões, constituir-se no pior time do atual Brasileirão. Por mais otimista que seja (se é que existe algum otimismo) a situação tornou-se insustentável, e mais uma vez estamos diante da mesma imagem narcisista do espelho: somos os piores e não aceitamos companhias.

Perante uma realidade que não quer calar, praticamente acabou o conluio entre a extraordinária torcida atleticana com a Arena, pois o caldeirão não mete mais medo em ninguém e está se tornando local de passeio com direito a desfile dos adversários. E tudo por quê? Exatamente porque não se tem um plantel de qualidade, competitivo e obstinado, que acompanhe e estimule o entusiasmo da torcida e possa fazer renascer as esperanças. Ao contrário, diante da mediocridade do nosso time, ele acabou sendo presa fácil na Arena para clubes como Vitória, Náutico, Avaí e Atlético Mineiro que sempre foram de níveis inferiores ao CAP.

Por outro lado, começam os ruídos preocupantes do “volta Petraglia”, de novo como salvador. Entretanto, não custa recuperar a memória recente da administração passada (ainda que se tenha aqui o maior respeito por tudo que o MCPetraglia realizou) e que colocou nos últimos anos o CAP diante desta mesma situação, ou até pior, em que se encontra hoje. Considero que o momento exige a união pelo Atlético, e que a atual diretoria ouça as “vozes das ruas”, chamando alguns experientes atleticanos e a oposição para dialogar, respeitadas as posições políticas divergentes estabelecidas.

De frente para este quadro nebuloso, a situação pode ser ainda mais agravada pelo desgaste no envolvimento com a Copa Sul Americana e a perda de mando de jogo causada pela selvageria praticada por alguns meliantes. Diante de tantas circunstancias adversas, as perguntas postas exigem saber como e quando veremos a luz no fim do túnel, que permita a conquista dos 45 pontos?

Na minha última coluna no Furacao.com intitulada “Desesperar, Jamais” e publicada em 09/06/2009, afirmava que “o Atlético precisa de uma revolução!” E ela começa pela contratação de um bom técnico e bons jogadores, já que o Presidente Malucelli reconhece que há recursos financeiros para tanto”. A revolução não aconteceu e daí surge duas questões com minhas respectivas respostas: 1. Temos um bom técnico? Considero W. Lemos um técnico apenas mediano, e que se deu bem somente no jogo contra o Inter. A partir daí não foi demonstrado nenhum sistema de jogo em todas as outras partidas que ele comandou, causa principal deste naufrágio. 2. Temos bons jogadores? A começar, não temos um goleiro que esteja à altura do CAP, fazendo com que se sinta “estranha” saudade do Viáfara. Do restante do elenco do CAP devem ser destacadas a qualidade do Wesley (que pertence ao Santos F.C.), alguma lucidez do Wallyson, a técnica do Raul e as dedicações do Valência e Chico. Salvo melhor juízo, isso é muito pouco para começar uma arrancada. Mas ela precisa ser iniciada.

A partir de uma morte anunciada que assola os atleticanos e que nos últimos anos passou a fazer parte do calendário esportivo da Baixada, a receita é fazer tabula rasa deste triste primeiro terço do Campeonato Brasileiro e começar uma nova caminhada, rumo à meta dos 45 pontos. Para tanto, o Atlético tem que dar conta desta empreitada com os jogadores novos e velhos que dispõe, e cabe aqui fixar uma imposição através de um recado para o Seu Waldemar: a primeira receita exige fundamentalmente que o treinador estabeleça um sistema de jogo que permita um mínimo de organização da equipe, pois contra o Santos F.C. o Atlético só se defendeu e não conseguiu dar um chute ao gol. Tão e mais grave ainda foi no jogo contra o Avaí quando assistimos a demonstração de organização, disciplina tática e disposição da equipe catarinense que, sem nenhuma estrela, deu um baile no CAP, e de quebra venceu quatro jogos seguidos, sendo três deles obtidos fora de casa. E do outro lado, viu-se uma equipe estrelada, totalmente inoperante e perdida em campo. Esta é a receita principal para atingirmos os 45 pontos: um sistema de jogo que permita evidenciar: uma sólida defesa, um meio de campo combativo e criativo e na frente um ataque que tenha a ousadia de fazer gols. Vamos lá Furacão, porque fora disso não haverá salvação.


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