Juarez Villela Filho

Juarez Lorena Villela Filho, 46 anos, é advogado, funcionário público estadual, dirigente de rugby e arruma tempo para acompanhar jogos do Atlético, isso desde 1987. Conhece 49 estádios Brasil afora onde foi ver de perto o Furacão. Sócio desde os tempos do Atlético Total em 1998 e na nova modalidade Sócio Furacão desde 2007.

 

 

3-5-2

06/07/2009


Quando a Bandeirantes começou a transmitir o Campeonato Italiano nos 80´eu não tive muitas dúvidas para que time torceria. Além do rubro-negro do uniforme, era fácil admirar o time do Milan, o mesmo que eu desfilava no Estrelão e que me acompanhava nos campeonatos de futebol de botão que participava. Os escudinhos do AC Milan com Rossi, Albertini, Baresi e Costacurta (sim ele jogava); Tassoti, Anceloti (técnico do Chelsea), Donadoni, o holandês Rijkaard (o mesmo que treinou o Barça), Gullit (que inspirou as tranças dread do nosso Oséas) e Maldini (à época um garoto); Van Basten e Massaro. Era fascinante ver aquele time jogar!

Os comandados de Arrigo Sacchi jogavam como que por música num campo reduzido, a zaga bem a frente a o ataque recuado, facilitando as tabelas, trocas de posições, passes rápidos e de repente apareciam de três a quatro jogadores em condições de arremate. Sem contar que outra coisa muito me encantava: a linha de defesa do Milan. Comandados pelo estupendo líbero Franco Baresi, camisa 6 saíam todos na hora exata deixando o ataque adversário impedido ao menos uma dezena de vezes por jogo. Os alas apoiavam simultaneamente por terem cobertura tanto do líbero como de um dos volantes, além de invariavelmente um dos beques chegar ao ataque como elemento surpresa. Ali era a essência de como funciona de verdade um 3-5-2.

O Brasil sempre foi um país onde as táticas nunca deram lá muito certo, fruto da indisciplina dos atletas que nunca gostam de receber ordens e do pouco aprofundado estudo dos treinadores. Poucos tem coragem de mudar essa ordem de coisas e coube a Vadão (se bem que Vadão e coragem são palavras que não cabem muito bem na mesma sentença...) armar um interessante 3-5-2 inovando com seu “carrossel caipira” no Mogi Mirim. Apoio dos laterais, saída de bola com Capone da zaga e volantes que iam pro jogo. Se fala muito daquele time de 1999 que venceu a Seletiva e era por ele treinado, mas aqui quem “inventou” um time assim foi o simpático Antonio Clemente, com suas camisas floridas e correntões ao melhor estilo chefe da banca do jogo de bicho carioca.

Naquele time tínhamos o jovem Gustavo, o habilidoso Leonardo e Fabiano, vindo do Flamengo que fazia uma função de zagueiro/volante, conforme a situação. A estupenda fase de Alberto ajudava nisso e assim se fez surgir o quadrado mágico que nos encantou: Kelly, Adriano, Lucas e Kléber. Ficamos com uma cara de 3-5-2, principalmente depois do sucesso do esquema montado por Mário Sérgio e aperfeiçoado por Geninho, que culminou com nosso maior título até hoje: campeão brasileiro de 2001, e jogando num clássico 3-5-2, com os rápidos alas Alessandro e Fabiano indo constantemente ao ataque, um volante de contenção como o raçudo Cocito, um que ia pro jogo, Kléberson e um trio de zagueiros parada dura com Gustavo, Rogério Correa e o líbero Nem.

Aí reside toda a diferença em ter um 3-5-2 que funciona e as aberrações táticas que temos visto por aí: sem líbero não é 3-5-2, nem aqui nem na China! Jogar como estamos jogando há um bom tempo, com três zagueiros em linha, sem sobra e aparentemente que pouco se comunicam, com laterais constantemente sendo improvisados (vide tanto Netinho como Zé Antonio terem jogado mais fora do que suas posições de origem desde que chegaram) e com volantes quebradores é bobagem. É um desperdício do já limitadíssimo time atleticano que custo a entender.

Sou fã confesso do esquema 3-5-2, mas assim que como para se fazer uma boa macarronada são necessários ovos, farinha e água e não podemos fazê-la com arroz e brócolis, não podemos insistir teimosamente num esquema quando não temos jogadores suficientemente qualificados para tal. Não sei por que cargas d´água, não sei se consta no contrato dos treinadores, ou se ao adentrarem ao CT do Caju os técnicos são picados pelo mosquito do 3-5-2 que o time se vê obrigado e sempre jogar assim, ainda que não tenhamos nem de longe jogadores com qualidade e categoria para assim nos expormos em campo.

O quadrado, antiquado, modorrento e sonolento 4-4-2 é a solução para este sonolento, modorrento, antiquado e quadrado time que temos. Dois zagueirões, dois volantes, um lateral subindo de cada vez, mais proximidade entre os meias e atacantes e sem inventar muito. Quem sabe assim ao menos o Atlético pare de levar a enorme quantidade de gols que vem sofrendo, consiga ser um pouco mais coeso e se exponha menos em campo. Usar o 3-5-2 para prender laterais, ter três homens jogando em linha e sem sobra e dois volantes que só destroem é na verdade jogar num 5-3-2 e que tem se mostrado ineficaz no intuito de evitar sofrermos gols, visto sermos uma verdadeira peneira e recuperador de atacantes em má fase nesse Brasileiro.

Faço um adendo entretanto: sem contratações pode-se jogar com dois goleiros que o time não vence e levará gols do mesmo jeito. E se a especulada vinda de Alex Mineiro se confirmar, mas sem ter quem faça essa bola chegar lá na frente, podemos fritar um cara que é muito mais que um ídolo, é um ícone, um mito. Sem contar que ele não pode manchar sua história no clube que o projetou se eventualmente fizer parte de um time que foi rebaixado. A troca de treinador mostrou ter sido acertada, mas nem de longe esse era nosso maior problema.

Não há esquema que resista a um elenco sem qualidade. O que se pode fazer, ao menos enquanto nossa direção brinca de procurar reforços é ter um pouco mais de coesão entre os setores e parar de insistir num esquema que claramente não vem dando certo.

ARREMATE

“Seus pensamentos mais intensos/
O seu rosto de pecado”
Delírio, VANESSA DA MATA.


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