Daniel Machado

Daniel Lopes Machado, 46 anos, é empresário e consultor em sistemas de informação. Considera os versos da sexta estrofe do hino atleticano, escritos por um ex-jogador, imortalizado em uma espontânea demonstração de amor ao clube, a mais bela poesia de todos os tempos: "A tradição, vigor sem jaça... Nos legou o sangue forte... Rubro-negro é quem tem raça... E não teme a própria morte!" Foi colunista da Furacao.com entre 2008 e 2010.

 

 

Levanta, sacode a poeira

03/07/2009


Um visitante assíduo da Furacão.com, chamado Wilson, curitibano de Paris, veio rever a família. Trouxe a futura esposa, o futuro sogro e a futura sogra. Aproveitou para desfilar os bons costumes que aprendeu por lá, fez biquinho de uí-uí para os garçons e se espantou com a fartura de carne e polenta no prato. Ele é meio xarope, mas é meu amigo.

Sentamos ontem para almoçar, eu, ele e o ilustre conselheiro, doente pelo Atlético, Marlon Moser. Relembramos as peripécias universitárias e algumas vítimas percantas da noite, a ocasião em que voltamos a pé do Vox, o sol de sábado já ardendo os olhos, naquela época mais habituados ao strobo e à fumaceira de gelo seco e cigarro. As chopadas e as churrascadas, as notas vermelhas e as provas finais.

Mas não durou nem um quarto de hora. Logo, Estávamos em uma chata discussão pseudo-intelectual sobre o destino do Brasil. Rumos preocupantes, constatados por Juarez Villela Filho, porém em uma abordagem futebolística, que me dão vontade de ir embora para a Pasárgada. Enfim, falamos de nossa limitação empreendedora diante da monstruosa crise moral, bem maior que a financeira e econômica. Em paralelo à realidade do primeiro mundo, discutíamos como ganhar dinheiro honestamente, sem que seja necessário vender a própria alma, seja para o diabo ou para o governo.

Estranhei como mudamos o foco desde que nos encontramos pela última vez. Um dia eram as mulheres o assunto. Quem seria mais provocante? Jessica Rabbit ou Wilma Flinstone? Depois, os carros. Dojão ou Opalão? Hoje é a dureza da labuta, para juntar cascalho, o crescimento profissional, os processos e as estruturas organizacionais. Amanhã, quem sabe, seremos velhos bem sucedidos, e só jogaremos papo fora, seja sobre a visita ao reumatologista ou ao urologista, sobre pôquer, pesca, culinária ou jardinagem, sobre nossos filhos.

Percebi que há uma fase para tudo na vida. Só o Atlético, enquanto tema de alta prioridade, é que permanece frequente. E assim será para sempre.

E o próprio Atlético? Em que fase está? Infância, adolescência, maturidade ou experiência? Quais são suas motivações e preocupações atuais?

Pois nosso Furacão lembra um jovem executivo, cujas ideias seriam a próxima tendência, mas que pecou pela arrogância, tropeçou no próprio cadarço e voltou à rua da amargura. Depois da recaída, sua mulher o abandonou. Mas não sua mãe: a torcida.

Segue a vida. Muitas contas para pagar e a certeza de que nada nos resta, senão levantar, sacudir a poeira e dar a volta por cima.


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