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Ricardo Campelo
Ricardo de Oliveira Campelo, 45 anos, é advogado e atleticano desde o parto. Tem uma famÃlia inteira apaixonada pelo Atlético. Considera o dia 23/12/2001 o mais feliz de sua vida. Foi colunista da Furacao.com entre 2001 e 2011.
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O legado de Geninho
08/06/2009
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Geninho chegou, no ano passado, representando a esperança do torcedor atleticano, que, agoniado, agarrou-se ao herói do passado para acreditar que seria possÃvel escapar de um rebaixamento quase consumado.
E as expectativas foram cumpridas. Num momento em que o fator emocional era decisivo, Geninho teve êxito em segurar as rédeas do grupo e tirar daqueles jogadores muito mais do que poderiam oferecer. Geninho foi o herói que se esperava.
Porém, nem tudo no futebol é emocional. Pelo contrário, o esporte é eminentemente técnico. E, neste aspecto, Geninho, via de regra, esteve abaixo da crÃtica ao longo de sua carreira - não é a toa que nunca teve sucesso em outro time de expressão. O ano de 2009 do Atlético é a representação pura da fraqueza do treinador na organização, escalação e substituições em uma equipe.
Esta partida contra o Atlético-MG foi o auge de sua mediocridade. Perguntem a Carlão e Antonio Carlos quem deles estava atuando como zagueiro central, e qual fazia a sobra. Garanto que nem eles saberão responder. O resultado perante uma forte equipe como o Atlético-MG não poderia ser outro: 4x0 fora o baile. A sensação é de que escapamos de uma humilhação ainda mais intensa.
Lembremos, então, do Atletiba. Geninho vinha escalando o time com dois volantes contra as "potências" do interior do Paraná. Então, contra o único time qualificado, que tinha o badalado Marcelinho ParaÃba em grande fase, o treineiro resolveu apostar em apenas um cabeça-de-área. Ele achou que este era o jogo ideal para a mudança. Deve ter pensado "agora eu vou se consagrar", como diz o narrador Milton Leite. Como resultado, o maior vexame em 10 anos da Arena.
E a insistência em Júlio César? Tivemos que mandar o cara pra outro clube para que o treinador parasse de o escalar. Geninho simplesmente não tem critério, como a bizarra escalação de Carlão como titular da zaga na última partida. Primeiro absurdo é preterir Rafael Santos, que quando entrou, foi bem. Segundo é não optar por Manoel, o melhor jogador do time de juniores, sob a justificativa bisonha de que pretende utilizá-lo como lateral. Como explicar um devaneio desses?
Eu poderia lembrar de outros jogos, como contra o Náutico. Mas vamos abordar outros aspectos. No dia 25 de maio, o colega Juliano Ribas denunciou a preocupante autonomia com que Geninho vinha, realmente, mandando no Clube. Ele tinha toda razão. Chegamos a um ponto em que o técnico, de forma absolutamente irresponsável perante a instituição, passou a brincar até mesmo com os pobres garotos das categorias de base.
De todo o legado nocivo de Geninho, este é o que mais me magoa. Uma a uma, nossas promessas foram impiedosamente lançadas à fogueira. Alguma chance disso dar certo? Uma coisa é a torcida, que age por paixão, pedir que se escalem todos os garotos. Outra coisa é alguém que tem experiência no futebol fazer o que foi feito. Algo simplesmente inaceitável.
Foram anos de espera até que tivéssemos uma safra promissora, e o técnico me faz uma coisa destas. É como se o maitre contratado por um restaurante abrisse a adega da casa, retirasse aleatoriamente os mais nobres vinhos, de uvas cuidadosamente cultivadas com tanto esmero, e os servisse em uma festa sem o menor critério, misturando todos entre si e com todas as variedades de comida. E, após o fiasco, lavasse as mãos: "vocês cobravam que eu servisse os melhores vinhos, e eu servi".
O que preocupa é a inércia da diretoria perante esta situação. Hesitou, hesitou, até que ele mesmo, Geninho, teve que tomar uma atitude e pedir o boné - talvez preocupado com o que restava de sua boa imagem perante a torcida. Fala-se muito em gratidão, mas o profissionalismo do futebol não pode deixar que este tipo de sentimento se sobreponha à grandeza de uma instituição que vinha agonizando nas mãos de um técnico de segunda linha.
Técnico, literalmente um técnico
O Atlético precisa de um técnico, ao pé da letra. Alguém que entenda de futebol, ao contrário de Geninho. Alguém que saiba minimamente organizar um time. Se os nomes disponÃveis/viáveis financeiramente para o comando técnico são escassos, que se invista em um supervisor que entenda do assunto.
Antonio Lopes está muito desgastado para treinar uma equipe, acredito. Mas seria um excelente supervisor, compartilhando seus conhecimentos com um técnico mais jovem (Leandro Nihues, por que não?). Conta-se nos bastidores que Lopes era um dos "gurus" de Felipão, que sempre o consultava sobre organização tática, especialmente defesiva.
Um zagueiro
Falando em defesa, o Atlético precisa, com urgência, contratar um zagueiro que chegue hoje e jogue amanhã. Que bote a camisa 5 e diga: "Fulano, fica na direita. Chico, você marca beltrano. Eu faço a sobra". Antonio Carlos não é mau zagueiro, mas para ficar na sobra, comandando a zaga, não dá. E não são Carlão, Manoel (por enquanto) e muito menos Rhodolfo, que vão resolver esta parada.
Há salvação
É difÃcil, mas este time tem salvação, sim. É preciso de reforços, organização e trabalho. Muito trabalho. Se a promessa do atual corpo diretivo era de investir em chuteiras, é hora de agir. Investir, e investir certo. É isso que nós, atleticanos, esperamos. E eu, particularmente, confio.
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