Daniel Machado

Daniel Lopes Machado, 46 anos, é empresário e consultor em sistemas de informação. Considera os versos da sexta estrofe do hino atleticano, escritos por um ex-jogador, imortalizado em uma espontânea demonstração de amor ao clube, a mais bela poesia de todos os tempos: "A tradição, vigor sem jaça... Nos legou o sangue forte... Rubro-negro é quem tem raça... E não teme a própria morte!" Foi colunista da Furacao.com entre 2008 e 2010.

 

 

Operação tapa-buracos

05/06/2009


Antigamente, Fiat era sinônimo de carro ruim. De acordo com os engraçadinhos de plantão, o significado do acrônimo seria "Fui Iludido, Agora é Tarde", ao invés de "Fábrica Italiana de Automóveis Turim". Aí a própria Fiat, apoiada em uma estratégia bem definida, investiu pesado em inovações e lançamentos, saltando da quarta para a primeira colocação em vendas no Brasil. Propagandas acertaram em cheio o orgulho dos mais incrédulos. Diziam: "Acho que você está precisando rever os seus conceitos."

Meu pai é um desses incrédulos. "Os carros da Chevrolet têm mais molejo," disse ele um dia. E eu concordei, até mesmo porque não entendi exatamente o que ele quis dizer. Então comprei um Celta, cuja maçaneta da porta direita caía quando eu fechava a esquerda. O cinzeiro, que eu não usava, tive que colar para que parasse de tremer.

Pode ser que eu tenha levado azar com o auto da GM, mas depois de estar sentado atrás de tantos outros volantes populares, depois de folhear tantas Caras na sala de espera da oficina, libertei-me do preconceito. Hoje, estou razoavelmente satisfeito com meu Fiatzinho. Quase não dá manutenção e ainda, de quebra, não leio mais revistas de celebridades. Aprendi que não é uma boa ideia conceber julgamentos sem experiência.

Foi o que me aconteceu semana passada em relação ao Furacão. Passei por uma ampla revisão de conceitos. Por quatro anos, acreditei, ingenuamente otimista, que tudo estava bem, que os pífios resultados dentro de campo eram consequências de pequenas circunstâncias. Demorei a perceber, mas todas as minhas crenças foram por água abaixo depois de um insight. A verdade, por mais que eu a rejeitasse, é evidente: sofre de um mal muito grave o nosso Atlético. Um mal que não se resolve apenas trocando de técnico ou de diretoria.

Sugeri que utilizemos este espaço para debater, tentar descobrir as causas dos reais problemas atleticanos, além de, eventualmente, propor alternativas que ajeitem o balanceamento e a geometria desta máquina.

Então vamos começar pelo mais emergencial. Nunca fui adepto de ruas de antipó ou operações tapa-buracos. São exemplos perfeitos de barato-que-sai-caro. É sempre melhor asfaltar logo uma rodovia. É que para tapar buracos não precisa de licitação. Enfim, no meio desta tempestade, é melhor pensarmos em alguns remendos antes que quebremos a suspensão.

Precisamos contratar reforços utilizando um único critério. Tem que ter raça. Não queremos apostas em desconhecidos, tampouco craques de altíssimos salários, que podem dividir o grupo. Queremos atletas que entrem em campo com ganas de vencer, que não temem a própria morte. Queremos sangue na veia. Se jogássemos com um time de onze Borçatos, talvez não passássemos do meio de campo, mas ao menos não perderíamos por falta de dedicação.

SE É BAIER, É BOM

Paulo Baier representa o equilíbrio perfeito entre qualidade e vontade. Não nos serviria um Paulo qualquer, mas Baier não é um Paulo qualquer. Por outro lado, onde quer que o tenhamos visto atuar nos últimos anos (Criciúma, Goiás, Palmeiras ou Sport), nunca deixou de suar e correr. Acima de tudo, parece-me que seja um bom exemplo aos mais jovens. Vamos torcer para que esteja bem fisicamente e que justifique, dentro de campo, a que veio.

DECLARAÇÕES DE UMA EX-PROMESSA

Um respeitoso toque motivacional não faz mal a ninguém. Evandro, antes uma sensação das categorias de base do Furacão, agora um meio-campista qualquer do Atlético Mineiro, disse o seguinte: "Temos que aproveitar que eles não estão em um momento bom e marcar bem. A torcida deles, quando o time não funciona, perde a paciência e podemos usar essa pressão ao nosso favor."

Engraçado. Sempre gosto de pensar que somos diferentes, fanáticos, que sofremos de um raro amor incondicional, que apoiamos não importa a partida, custe o que custe. Será que, na verdade, não somos tão especiais assim? Será que perdemos a paciência e pressionamos nosso próprio time? O que aconteceu conosco? Evandro tem razão? Com a palavra, os próprios torcedores rubro-negros.

MORAL DA HISTÓRIA

Se não podemos comprar um superesportivo, ao menos gastemos um pouquinho consertando as falhas mecânicas e elétricas do nosso carrinho mil. Depois, com paciência, será possível vendê-lo a um preço justo e, enfim, planejar viagens mais longas.

Assim como a Fiat, é certo que seremos um clube do pelotão intermediário enquanto não passarmos por uma profunda reflexão e mudanças administrativas.


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