Ricardo Campelo

Ricardo de Oliveira Campelo, 44 anos, é advogado e atleticano desde o parto. Tem uma família inteira apaixonada pelo Atlético. Considera o dia 23/12/2001 o mais feliz de sua vida. Foi colunista da Furacao.com entre 2001 e 2011.

 

 

Susan Boyle às avessas

01/06/2009


O mundo inteiro se rendeu a Susan Boyle, o fenômeno do YouTube que contagiou multidões, arrancou lágrimas dos mais insensíveis, e escancarou o pré-julgamento que, estupidamente, todos nós somos acostumados a fazer.

Mas o que é que Susan tem de tão especial? Respondo: é feia, gorda e desajeitada. Ponto. São estas características que deram fama à escocesa sensação da internet. Não, não é sua voz ou sua habilidade ao canto que colocou o mundo a seus pés. Deveras, nos quatro cantos do mundo, ou mesmo nas edições brasileiras do 'Ídolos', há centenas de aspirantes a cantores que cantam igual ou melhor que Susan.

Ela ficou famosa simplesmente porque ninguém esperava uma atuação tão boa de alguém tão despretensioso. Quando adentrou ao palco do Britain's Got Talent com seu cabelo despenteado e um vestido que, além de feio, expunha seu excesso de peso, todos se prepararam para exercer seu sadismo e rir, debochadamente, diante de uma atuação lastimável. A voz sublime e afinada de Susan foi uma surpresa completa, e, num casamento perfeito com a letra da música que falava em "sonhos", deu um tapa na cara de todos os presentes, que imediatamente se deram conta de o quão são burros seus preconceitos.

O Atlético já foi Susan Boyle. Foi assim em 1983, quando, sem estrutura e tradição, surpreendeu o Brasil ao chegar às semi-finais do Campeonato Nacional. O mesmo ocorreu em 1996, quando despontou como sensação do Brasileirão, embora subsumido ao estereótipo de "time que tem um estádio Caldeirão e que ganha na base do grito da torcida".

Há muito o Atlético deixou de ser feio e desajeitado. O clube cresceu bastante nos últimos 14 anos: se organizou, se estruturou e, para completar, hoje apresenta um quadro com 20 mil sócios. Ao contrário da desengonçada Susan Boyle, hoje se espera muito do Atlético.

Curiosamente, o que acontece é o contrário. O Atlético surge ao tablado provocando ótimas expectativas em todos, mas desafina ao primeiro acorde, deixando todos intrigados e com uma inevitável interrogação: o que há de errado?

Eu não tenho esta resposta, e não sei se alguém tem. O que sei é que precisamos afinar esta voz. Ninguém mais aguenta estes ruídos estridentes a cada campeonato, num calvário que entra, pelo menos, em seu quarto ano.

É fato que o 'visual', ou melhor, a estrutura, não está tão boa quanto já esteve. O clube se endividou muito, especialmente no último ano, quando a Demonstração de Resultado apontou impiedosos R$ 18 milhões de prejuízo. Não podemos fazer investimentos altos, mas tenho certeza que a grandeza do Atlético permite um papel muito melhor do que este que temos desempenhado.

Esta grandeza, a força do atleticanismo, tem sido praticamente o único responsável por nos manter na primeira divisão nos últimos anos. Na hora em que o calo aperta, a torcida se mobiliza, num remédio paliativo, de última hora, e que acaba salvando o time do vexame. Pois este espírito de grandeza é que tem que ser incorporado pela atual administração, não para fazer o Atlético mais uma vez escapar do rebaixamento, mas sim para que entre nos campeonatos dando ao seu torcedor o direito de aspirar algo mais. Que seu torcedor possa começar um campeonato torcendo contra os adversários da parte de cima da tabela, e não os da rabeira.

Mudanças

Pergunto: como pode um clube grande como o Atlético sofrer dois gols como o que fez o Flamengo neste Domingo? O primeiro em uma pixotada do nosso terceiro zagueiro, ícone do esquema tão defendido pelo treinador, e o segundo em um lance de inacreditável ingenuidade do camisa 4, que se deixa deslocar com extrema facilidade pelo atacante, que sobe para cabecear sozinho, soberano.

Não consigo ficar tranquilo ao constarar que meu time tem um zagueiro tão fraco como Rhodolfo, e um treinador que insiste em mantê-lo no time a todo custo.

Já fui, e sou, crítico incisivo das apostas em projetos de treinadores, mas entre dar chance a alguém novo mostrar seu trabalho ou investir alto em um técnico que se tem mostrado medíocre, fico com a primeira opção. Geninho, há muito, não vem 'se pagando'. Petraglia tinha sua dose de razão, sim. Se hoje o dinheiro é escasso, não faz sentido um investimento pesado em um profissional que comete aberrações como as que vimos contra Coritiba e Náutico, recentemente, além de outros erros recorrentes.

Dizer que precisamos de reforços é chover no molhado, mas precisa ser dito. É hora de a diretoria se desdobrar, pensar, estudar, procurar, enfim, superar todos os limites, para contratar jogadores que possam engrandecer o Atlético e permití-lo exercer um papel ao menos digno.

É preciso virar esta página de mediocridade em que o clube está estacionado há tanto tempo. Nosso atleticanismo, nossa alma, e a grandeza do Atlético, clamam por isso.


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