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Silvio Rauth Filho
Silvio Rauth Filho, 50 anos, descobriu sua paixão pelo Atlético em um dia de 1983, quando assistiu, com mais 65 mil pessoas ao seu lado, ao massacre de um certo time que tinha um tal de Zico. Deste então, seu amor vem crescendo. Exerce a profissão de jornalista desde 1995 e, desde 1996, trabalha no Jornal do Estado. Foi colunista da Furacao.com entre 2004 e 2009.
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Pastilhas Vick para os atleticanos
18/03/2004
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Estamos presenciando uma mudança radical no Atlético, algo que talvez possa ser chamado de revolução. Pelo menos é o que passa na minha cabeça quando lembro da primeira vez que entrei num estádio de futebol, em 1983, naquele Couto Pereira com 65 mil pessoas espremidas. Era um certo Atlético e Flamengo, pelas semifinais do Campeonato Brasileiro, com um público que estabeleceu o recorde do futebol paranaense.
Se era um estádio mal conservado e sem qualquer condição de segurança, pelo menos, era democrático. Ali, pobres e ricos dividiam as mesmas dores e cores. Talvez tenha sido essa atmosfera de igualdade que tenha me cativado.
Ou talvez tenha sido a garra de um time incansável empurrado 90 minutos por uma alegre e apaixonada torcida. Na hora, eu não tinha certeza, mas hoje sei que sempre fui atleticano.
Mas a dúvida ficou. Durante anos sempre questionei a minha escolha: por que Atlético? Não que algum dia eu tenha pensado em trocar de time, mas queria entender o motivo da minha paixão. Afinal, sou filho de um coxa-branca inativo – meu pai foi ao Couto Pereira apenas uma vez, exatamente neste jogo contra o Flamengo – e os meus colegas do colégio (branquinhos e riquinhos) eram todos alviverdes.
Queria entender tudo aquilo e, na década de 90, cheguei ao extremo de ir a jogos do Coritiba. Junto com um amigo, torcedor deste clube, queria conhecer o “outro lado” e saber se havia tomado a decisão mais sábia. Mas, não se preocupem, não precisei vestir nada naquelas cores.
Após algumas “visitas” não tive dúvida. Tudo o que vi foi uma torcida chata, mal humorada e com comportamento típico de filhinhos de papai mimados. Tudo era motivo para reclamar e vaiar. Isto porque eles tinham em campo Tostão, Chicão, Kazu, Serginho, Ronaldo, Pachequinho...
Era um alívio retornar à Baixada - ou ao desconfortável Pinheirão. Lá, apesar das trapalhadas de Fião & Cia, tínhamos uma torcida inigualável, sempre disposta a apoiar o time.
Esta nação fanática merecia um prêmio, que veio nos anos seguintes. O Atlético profissionalizou seu futebol, investiu em estrutura e cresceu. Como resultado, foi campeão brasileiro.
Desde o título, o clube parece viver uma fase de transição. É cada vez mais comum dentro da Arena aquele comportamento de garotinhos mimados, que reclamam a cada passe errado. Começo a ter calafrios nessas horas e lembro daquele povo que freqüenta o Couto Pereira com suas panças caras e bem alimentadas.
Não creio que seja apenas uma ressaca do título de 2001 e que os atleticanos ficaram mal acostumados. Tenho a impressão que o perfil do torcedor esteja mudando. E, o que é pior, a questão econômica parece ser o principal fator.
Nada contra os riquinhos, os chatos e os arianos barrigudos. Mas prefiro eles vendo futebol pela TV, sem torrarem a paciência alheia.
Só que, pelo andar da carruagem, a situação será inversa. Os mimadinhos que podem pagar R$ 30 por jogo estarão lá, debulhando a praça de alimentação e vaiando até o Dagoberto. E aqueles apaixonados pelo futebol furacão do Atlético serão obrigados a gritar de fora da Arena. Haja pastilha Vick!
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