Daniel Machado

Daniel Lopes Machado, 46 anos, é empresário e consultor em sistemas de informação. Considera os versos da sexta estrofe do hino atleticano, escritos por um ex-jogador, imortalizado em uma espontânea demonstração de amor ao clube, a mais bela poesia de todos os tempos: "A tradição, vigor sem jaça... Nos legou o sangue forte... Rubro-negro é quem tem raça... E não teme a própria morte!" Foi colunista da Furacao.com entre 2008 e 2010.

 

 

Bati, quebrei e abri a cabeça

29/05/2009


Escrever neste espaço me ensina muito. Compromisso, por exemplo. Não falo só do compromisso assumido de mostrar minha caricatura todas as sextas na página inicial (aliás, tal representação induz erroneamente o leitor a imaginar que sou calvo e uso peruca). Falo também do compromisso com minha própria opinião.

Recentemente, adverti que nossas ideias e humor mudam de acordo com o placar das últimas partidas. Apesar disso, penso que simplesmente não tenho o direito de defender, em dezembro, que Geninho seja técnico do Atlético para sempre, como Sir Alex Ferguson é do Manchester United, e depois, em maio, mandá-lo procurar sua turma no olho da rua.

Diante das infinitas combinações de vocábulos que a nossa língua e o teclado permitem, poderia eu aplicar qualquer discurso. Seria mais cômodo, por exemplo, exaltar diretoria e jogadores na alegria e os esculachar na tristeza. Ou um caminho que me desprenda da responsabilidade, enquanto penso no mais sensato a dizer, seja evocando Bob Dylan ou enfiando a culpa pelos maus resultados nos apitadores.

Acontece que eu nem sempre concordo com a minha própria opinião.

Neste momento, alguém certamente deve estar se perguntando se por acaso eu não haveria pirado na batatinha, viajado na maionese ou batido a cabeça. Então respondo. Sim, esta última opção. Bati, quebrei e abri a cabeça. Disse uma coisa, depois pensei muito nesta coisa e agora desdigo esta coisa. Enfim, mudei de opinião a respeito desta coisa. Sim, mudei. Que mal tem? Mas mudei devagar, sem radicalismos ou extravagâncias, sem pular para o outro lado do muro.

Muitos por aí acham que ninguém presta. Que o presidente, a comissão técnica, os atletas e os gandulas são todos incompetentes. Outros, como eu mesmo até pouco tempo atrás (há três semanas, afirmei que estávamos no caminho certo), acham que precisamos ter paciência e confiar em um trabalho de longo prazo.

A verdade é que, muito provavelmente, estejamos todos equivocados. Afinal, nenhum trabalho é tão ruim que não mereça alguns elogios, e também nenhum trabalho é tão bom que não mereça algumas considerações. Que mania mais chata nós temos de polarizar conflitos, dizendo "eu sou contra" ou "eu sou a favor", "está tudo uma porcaria" ou "está tudo uma maravilha"!

A política está cheia de exemplos de falastrões que só sabem criticar, e que, quando assumem o poder, simplesmente não sabem o que fazer, nem sequer por onde começar. Assim como há muitos bonachões que sabem muito bem como e quando agir, porém sem uma única gota de humildade para reconhecer o papel dos que cobram e fiscalizam.

O técnico deve ir embora? Pois então que se proponha um substituto. O time é ruim? Pois então que se analisem as finanças, as opções disponíveis no mercado e que se sugiram contratações. Confiamos nos administradores e profissionais que representam o nosso Atlético? Pois então que se faça alguma coisa para ajudar, sempre ouvindo e levando em conta opiniões divergentes. Não confiamos? Pois então que não se chore por ex-atletas e ex-dirigentes, que se fiscalize efetivamente, que não se permita transformar torcedores em consumidores.

Criticar é propor alternativas, e não apontar culpados. Acreditar é incentivar, e não iludir-se com a atual situação.

Parabéns a Juarez Villela Filho, Silvio Toaldo Júnior, Rogério Andrade e àqueles que instigam mudanças. Parabéns a Michele Toardik, que no meio desta confusão, teve classe e coragem para pedir prudência. Parabéns a todos que entram nesta briga pelo Furacão, e só pelo Furacão. Parabéns aos que participam das discussões lançando mão de boas maneiras, porque o momento é de união.

Hoje, subo em cima do muro, não do muro da indecisão, mas do muro que separa partidários e opositores do projeto atleticano. Modestamente, digo-lhes minha nova opinião e depois proponho um debate sadio.

Geninho não deve sair e o elenco não é tão fraco assim. Provas do que acabo de dizer são as frustradas experiências com Casemiros e Givanildos. Além disso, perdemos em casa para times muito piores do que o nosso. Um deles tem Vânderson de volante e Neto Baiano no ataque, para que se tenha noção. Queimamos jogadores que eram promessas da base, como Anderson Aquino, que nada rendeu no time de cima. Não aproveitamos excelentes oportunidades de negócio, com Jorge Henrique, Morais e Edno, hoje valorizados, que daqui saíram de graça porque não tinham espaço entre os titulares.

O buraco é bem mais embaixo. Beeem mais embaixo. Se a culpa fosse só dos que estão aí, Malucelli, Geara, Geninho, Galatto ou Rafael Moura, não estaríamos nesta pindaíba desgraçada há quatro temporadas. Com exceção do título estadual deste ano, nada mais ganhamos. Algo muito grave está acontecendo com o nosso Atlético. E não é de hoje. Só agora, inclusive, depois de bater, quebrar e abrir a cabeça, percebo que a situação é mais preocupante do que parece. Precisamos urgentemente, friamente, analisar e descobrir o que anda errado, sem apontar o dedão, sem tapar o sol com a peneira, apenas procurando identificar falhas e apresentando soluções.

A partir da semana que vem, voltarei com algumas ideias.


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