Daniel Machado

Daniel Lopes Machado, 46 anos, é empresário e consultor em sistemas de informação. Considera os versos da sexta estrofe do hino atleticano, escritos por um ex-jogador, imortalizado em uma espontânea demonstração de amor ao clube, a mais bela poesia de todos os tempos: "A tradição, vigor sem jaça... Nos legou o sangue forte... Rubro-negro é quem tem raça... E não teme a própria morte!" Foi colunista da Furacao.com entre 2008 e 2010.

 

 

Soprando no vento

22/05/2009


"Quantas vezes deve um homem olhar para cima antes que consiga ver o céu?

E quantos ouvidos deve um homem ter antes que consiga ouvir as pessoas chorarem?

E quantas mortes serão necessárias até que ele entenda que pessoas demais morreram?"

Bob Dylan já parecia adivinhar que a teimosia e o egoísmo destruiriam o nosso mundinho. Aos 21, quando escreveu estes versos, já havia identificado a raiz de todos os males. Já sabia que o inimigo do homem é o próprio homem. E mais. Ao que tudo indica, já conhecia a solução para tantos problemas.

"A resposta, meu amigo, está soprando no vento."

Aos olhos dos políticos americanos daquela época, mais ocupados com o lançamento de um carregamento de Napalm no Vietnam, Bob Dylan não passava de um jovem cantante, rebelde e pacifista. Então não conseguiu mudar o mundo sozinho, até mesmo porque esta não era sua ambição. Acho que não conseguiria mesmo se quisesse, mesmo com a ajuda de John Lennon.

Quantos gênios brilhantes devem denunciar a destruição do planeta, antes que ele seja realmente destruído?

Enfim, deixa pra lá. O assunto aqui é futebol.

Quantas dívidas os clubes mais poderosos do Brasil podem assumir, antes que finalmente percebam que estão quebrados?

E quantas vezes os clubes mais renegados do Brasil, meros figurantes da Rede Globo que somos, Atlético, Avaí e Goiás, por exemplo, seremos escancaradamente e esdruxulamente roubados, antes que se descubra um grande esquema de favorecimento de resultados?

Fico quieto, ouvindo, como Bob Dylan, mas o vento não me sopra a resposta.


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