Juarez Villela Filho

Juarez Lorena Villela Filho, 46 anos, é advogado, funcionário público estadual, dirigente de rugby e arruma tempo para acompanhar jogos do Atlético, isso desde 1987. Conhece 49 estádios Brasil afora onde foi ver de perto o Furacão. Sócio desde os tempos do Atlético Total em 1998 e na nova modalidade Sócio Furacão desde 2007.

 

 

Colheita

11/05/2009


Marcos era um menino muito ligado nas coisas. Perguntava muito, era interessado e sempre procurava soluções para os problemas que sua vida, ainda que inocente vida, lhe trazia. Observou que ao se jogarem “bolinhas” num raso buraco feito à enxada no solo, que depois disso jogando-se fertilizante e depois regando constantemente com água, aparecia uma planta. Assim ele viu aquela bolinha se tornar uma laranjeira, outra bolinha se tornar um pé de milho, outra bolinha fazer brotar feijão do solo. Pela observação Marcos achou que se enterrasse outra bolinha, a sua bolinha de gude que tanto gostava, ela se multiplicaria em muitas outras bolinhas num pé de bolinhas de gude. Plantou, regou, olhou e nada. Marcos viu que mesmo com muita boa vontade não adianta esperar que algo que não pode gerar frutos os conceba.

Marcos era amigo de Eugenio, um menino muito querido por todos, um gordinho simpático e sempre de bem com a vida. Eugenio viu o que Marcos fez e mesmo crendo de antemão que não daria certo não falou nada. Aliás, algo lhe dizia que aquelas bolinhas de gude não brotariam, mas resolveu teimosamente após ver que nada germinou, plantar pedras, cascalho, até mesmo seus bonecos com que gostava de brincar de Império Romano, desatacando-se o boneco de Julio Cesar só pra ver se sairia algo do solo. Não saiu, mas teimoso que era Eugenio plantou de novo, regou, adubou até que chegou um momento em que resolveu ler, perguntar para outros que viam ser óbvio que não sendo uma planta nada germinaria naquele pedaço de terra, estudou um pouco mais e viu aquilo que todos viam: que há coisas que plantadas, bem cuidadas podem germinar, crescer e se multiplicar e outras em que simplesmente se usa um tempo e depois não se aproveita nada.

Me parece bastante claro que a direção anda meio sem rumo no futebol. Afirmando em 25 de janeiro que o Atlético não subiria nenhum dos jogadores que conquistaram o vice campeonato da Copa São Paulo este ano, diz agora serem eles a salvação. Afirmando que o elenco estava fechado na metade da primeira fase do Paranaense, quando batíamos em times semi amadores e mesmo assim tomamos alguns sacodes interior afora, trouxeram Wesley que acabou se mostrando útil. Afirmaram categoricamente que o time pro Brasileiro era esse e agora atiram para todos os lados pois parecem reparar que a fragilidade não somente de onze titulares, mas especialmente de banco, nos levará a outro calvário em 2009.

Não estive lá, mas a maior discussão que houve na reunião do Conselho Deliberativo sexta-feira última foi sobre as contas do clube. Uma dívida razoável, mas perfeitamente administrável. Precisa o Atlético então fazer um pouco ao menos daquilo prometido em campanha: investir em chuteiras. Não tenho dúvidas que com dois ou três atletas com mais experiência e sabida qualidade, todos sairão ganhando. Kléberson não seria o que foi sem ter a seu lado conselheiros experientes como foram Sandoval, Axel e mesmo Souza na sequencia, lhe dando as mãnhas sobre a meiuca. Não tenho dúvidas da importância que Marinho, Fabiano e mesmo Washington tiveram para que Fernandinho, Alan Bahia e Jadson fizessem parte daquele timaço que montamos em 2004.

Sem jogadores de mais qualidade no time, podemos estar desperdiçando o talento e qualidade que mostram Chico, Wallysson e especialmente essa jóia rara chamada Raul. Jogando ao lado de jogadores de talento, essas qualidades serão melhor exploradas. Qualidades essas que podem ser desperdiçadas caso o clube insista numa política burra do barato que sai caro, quando temos que emergencialmente ir às compras na janela de transações do meio do ano tendo que pagar muito por um balaio de jogadores com a mera perspectiva de nos livrarmos do rebaixamento.

É melhor, mais lúcido e mais passível de chance de acerto investir agora do que no afogadilho. O Atlético mostrou claramente que tem sérias, graves e repetitivas deficiências. Basta quem tem o poder nas mãos plantar com sementes de qualidade ou esperar que pedras enterradas gerem frutos.

ARREMATE

“Você veio me dizer tanta besteira /
Eu não sei pra que me aparecer assim /
Já que já se via um fim /
Pra que retroceder, jogar pra mim”
Tanta Besteira– FERNANDA PORTO


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