Juliano Ribas

Juliano Ribas de Oliveira, 51 anos, é publicitário e Sócio Furacão. Foi colunista da Furacao.com entre 2004 e 2007 e depois entre março e junho de 2009.

 

 

A faixa de campeão

04/05/2009


A vergonha de perder um clássico dura uma segunda-feira. São segundas-feiras difíceis. Você não quer passar na frente de bancas de jornal, nem ir para o trabalho, nem mesmo sair na rua. Mas a cabeça vai desinchando com o passar dos dias, até o próximo jogo.

A alegria de um título, seja ele qual for, dura muito mais. Entra para a história. Fica registrada na galeria de feitos de uma nação.

Para os coxinhas, essa vergonha não dura uma segunda-feira. Dura um século. Não se faz cem anos todo o dia. O tão alardeado centenário, em que investiram o que tinham e o que não tinham, já tem um carimbaço Rubro-negro. O vovô coxa caiu e quebrou a bacia.

A torcida do Coritiba “Foot Ball Club” sabia que esta era a verdadeira chance de ter um título no ano dos cem anos. Nas outras três competições que disputarão, sabem que beira o devaneio.

Com o carimbaço rubro-negro, sobrou aos pequenos duendes verdes acreditar que a vitória que obtiveram na Baixada vale mais do que a faixa de campeão.

Nada mais natural. Algo totalmente enquadrado na filosofia da escola coxiana de pensamento. Vencer o Atlético Paranaense é como um título para eles. O ponto alto da triste vida verde é nos derrotar. Uma vitória verde sobre o Rubro-negro ganha contornos épicos, quadros na parede, faixas cruzando o peito.

A diretoria verde deveria mandar fazer faixas sobre este auspicioso feito: “3º lugar. Mas ganhamos do A. Paranaense”.

Faz 14 anos que o Atlético Paranaense resolveu quebrar as barreiras da aldeia e se tornar o time paranaense com maior reconhecimento internacional. O vovô coxa só definhou, as juntas foram enferrujando, a artrite tomando conta, a esclerose causando delírios e a catarata turvando a visão. Ficou na lembrança verde o tempo em que mandavam no estado e que nós considerávamos as vitórias nos clássicos dignas da faixa. Hoje, quebrado financeiramente e com a estrutura física deteriorada, vê nos trunfos contra o Atlético Paranaense a real chance de enaltecer sua honra.

É muito bom ganhar títulos, qualquer um. Ainda mais um campeonato paranaense que era ponto de honra para o povo verde. Mas nossas aspirações têm que ser maiores, como foram nos últimos 14 anos.

Como será o nosso centenário? Daqui a 15 anos, será a conquista de um campeonato da aldeia a defesa da nossa honra? Estaremos do mesmo tamanho que agora ou nosso projeto de crescimento, de valorização da nossa marca e de inovações no mundo do futebol nos terá feito uma grande potência do nosso futebol?

Ou nos vamos nos apequenar e nosso centenário será como o dos coxas, em que a vitória contra o rival local é considerada uma conquista extraordinária.

Porque, no final das contas, tudo o que se faz na vida de um clube, é para ostentar faixas de campeão no peito.

Mas os verdes tentam hoje nos convencer do contrário. Título é ter vencido o Atlético.

Bem, por respeito aos mais velhos, não vamos contrariar o vovô.

Parabéns nação Rubro-negra, que hoje marcha cantando o hino do furacão e no peito ostenta a faixa de campeão.


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