Rogério Andrade

Rogério Andrade, 52 anos, é administrador. Atleticano de "berço", considera a inauguração da Arena da Baixada como o momento mais marcante do Atlético, ao ver um sonho acalentado por tantos anos tornar-se realidade.

 

 

Complexo de vira latas

26/04/2009


Um a zero para os coxas. Dois a zero para os coxas. Após o segundo gol, ao observar o perdido e mal escalado time do Atlético em campo, cheguei a conclusão que temos um gosto especial por um complexo estranho que toma conta do time quando encontra pela frente o nosso maior rival. Às vezes chego a pensar que vivemos mais em função dos tropeços do "outro". Esquecemos por vezes os nosso objetivos e, estranhamento, gostamos de ser a vítima, sem força, sem determinação, sem tesão. Entramos em campo neste domingo como coitados, como se estivéssemos quase entrando em óbito, tomamos duas cassetadas e aí sim, começamos a latir de tanta dor. Puro complexo de cachorro sem chão, sem teto e sem perspectivas. Tentamos a reação, mas como um pobre vira latas, roemos o osso e ficamos sem o mignon.

Deveríamos ter feito o que o Coritiba fez desde o início do jogo. Jogaram como se fosse o jogo da vida de cada atleta, como se o título realmente fosse deles, passearam em campo quando desejaram, deitaram, rolaram e comeram grama para passar por cima do Furacão. E como foi fácil... Abrimos o espaço, esquecemos mais uma vez que não bastava apenas entrar em campo para ganhar o jogo e com uma dose altíssima de sono de vários jogadores, vimos o time verde festejar e Marcelinho Paraíba (será que é tão difícil assim contratar alguém de qualidade?) fazer a diferença.

Podemos ser campeões? Claro, podemos. E seremos, ou melhor, temos grandes chances, desde que o time lembre-se que não basta apenas pisar na grama. É necessário bola no pé, inteligência, garra, força e vontade de vencer. No clássico Atletiba, infelizmente, o nosso Atlético não teve vontade de vencer. O sonolento time de Geninho (que lambança hein Geninho!) se viu amedrontado, ameaçado e teve a cara de um time derrotado.

Podemos ser campeões? Claro, podemos. Mas antes, como um chachorro maldito que mija em qualquer poste de madeira, tivemos que ser humilhados e colocar o rabo entre as pernas. Sinceramente, a gente não precisava disso.

O que é isso Atlético? Quando vamos perder o medo dos coxas? Quando vamos ter autoridade para ganhar dentro da Baixada? Até quando essa torcida vai ser humilhada e pisoteada, esperando por onze homens dentro de campo que tenham o mínimo de vergonha na cara e coração no bico da chuteira? Por que não usamos o corpo e a força desde o primeiro apito do árbitro? Por que não disputamos todas as bolas aéreas? Por que não acreditamos em todas as divididas e por que não acreditamos que não havia bola perdida? Por que? Por que?

Precisamos, definitivamente, entender que clássico Atletiba é jogo pra entrar arrebentando de vontade. É jogo de decisão, de força, de raça. É jogo de cão de guarda, e na tarde deste triste domingo, não passamos de um bando de vira latas dentro de campo.

Seremos campeões? Sim, creio que sim. Mas eu gostaria muito de ver um time campeão e com brilho nos olhos. Gostaria de ver um time campeão, porém vibrante, aguerrido e corajoso. Gostaria de ver o meu Furacão de verdade, sem medo, sem vergonha e com o sangue nos olhos. Sangue que essa torcida tem de sobra.


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