Fernanda Romagnoli

Fernanda Romagnoli, 51 anos, é atleticana de coração, casada com um atleticano e mãe de dois atleticanos. Foi colunista da Furacao.com entre 2005 e 2009.

 

 

Carne aos abutres

15/04/2009


Nunca fui da turma de tapar o sol com a peneira, contemporizando as coisas para manejar a egotrip dos outros ou com aquele discurso de “abafar pela busca pelo bem comum”. Falando clara e diretamente, estamos com um problema aqui e resolvê-lo será para o bem comum.

O problema não é de hoje, é dividido em “filhotinhos” rejeitados, e não é fácil de resolver porque envolve o comprometimento de muitas pessoas, milhares delas. Mas o pior mesmo é que envolve mudança cultural. Estou falando dessa celeuma que se criou em torno do Clube Atlético Paranaense por diversos fatores, os quais podem ser enumerados um a um, segundo o meu ponto de vista. Concentrarei-me nos que considero os mais críticos do momento.

Com a campanha Atlético Total muitos atleticanos voltaram do “deserto” causado pela estigmática derrota que sofremos para o time que se acha. Recuperamos nossa auto-estima e seguimos em frente. Então veio o estádio, o centro de treinamento, o Atlético 3000, os títulos, os bons times, uma das maiores vendas de camisetas oficiais sob a marca que nos patrocina, o namming rigths. Cresceram os sonhos, e a incansável vontade de ser reconhecido pela grandeza que tem. Despertamos orgulho, admiração, inveja. Incomodamos pessoas, times, sistemas falidos.

Então cresceram também os olhos. O maior mentor dessa maravilhosa transformação se encastelou após se autodeclarar rei (nunca verbalmente, mas por atitudes) e acabou se perdendo por esquecer que não há reino sem povo. Aí, a coisa degringolou. A nababesca arrogância dos últimos anos da administração anterior fez cair o ideal sob a autocracia. Passamos a ser expelidos da mente dos simpatizantes. Aqueles que torcem pelo Atlético desde a época que se via jogo dentro do carro pelo lado da Petit Carneiro começaram a debandar e com aquele saudosismo típico de quem se sente excluído, chegam a dizer que preferiam aquela época dos “jogadores sem uniforme, mas que amavam o time”. Outros do mesmo grupo ficaram, mas se transformaram nuns chatos de galochas, que mal chegam ao estádio e antes do hino nacional já começam a falar mal do time, xingando jogadores.

Isso é facilmente explicado por causa do clientelismo na relação torcedor-time que se criou. Hoje, em grande parte, o estádio é ocupado por um bando de Lady Kates que ficam dando piti porque “tão pagando”. A torcida ficou mimada. O pior mesmo é a torcida ter perdido a memória, e ficar tão arrogante e destituída da sua função como tem sido o exemplo da maior torcida organizada do Atlético: Vocês deveriam se passar uma descompostura pelo que têm feito. Vocês esquecem que há muito pouco tempo lhe roubaram a voz, junto de seus bumbos, surdos e chocalhos?! Devolveram para quê? Para que vocês humilhem seus próprios jogadores?

Eu fiquei indignada de abrir a página on-line do veículo que considero um pouco mais imparcial e ver as duas únicas manchetes sobre o Atlético nos denegrindo: uma sobre a falta de motivação do jogador do Atlético em jogar na Arena e outra sobre a “decisão” da torcida em gritar o nome só de quem merece. Estão todos loucos? Vocês não percebem?

Isso dá força para que um dublê de ator e comentarista esportivo de rádio ficar fazendo gracinhas e ir minando nosso time, insuflando nossos torcedores contra os jogadores. Isso só serve para que o decrépito Airton Cordeiro fique destilando suas bobagens senis ao vento - e quando não é este senhor, são outras “futriqueiras” de plantão, como o Milton Neves. Isso só serve para que os árbitros, ruins ou mal intencionados, prejudiquem nosso time. Isso alimenta o êxodo do torcedor de verdade que sai do estádio triste pelo que viu em campo e pelo que ouviu da arquibancada mais linda do Brasil, pois vê a torcida organizada virando as costas para o seu artilheiro e para um jogador que está com claros problemas psicológicos.

Também não gosto de, até o momento, não ter visto as sete promessas feitas pela atual gestão na época eleitoral. Estou achando falta especialmente daquela promessa que diz que o clube estaria comprometido com o futebol competitivo. No entanto, não posso deixar de observar que a torcida não tem tido coerência. Não gritam o nome de jogador que tem errado ou que em atitude de extrema hombridade (como foi o caso do Rafael Moura) toma partido do seu companheiro. Mas gritam o nome do técnico como se ele fosse totalmente isento dos erros que têm acontecido em campo. Agora que ele também deu uma bronca na torcida, o que vai acontecer? Vão ficar mudos no estádio? Vão abandonar os instrumentos, como na época em que eles não podiam ser levados a campo?

Alguém quer passar pelo que passamos em 2008? Por que vocês não cobram da diretoria atual o que eles prometeram para se eleger? Seria por causa do Geninho? Isso é muito pouco. O Geninho sozinho é a mesma coisa que o Luxemburgo quando esteve no comando do paranazito. Esqueceram?

Já critiquei muito o Rafael Moura por achar que ele não tinha o espírito atleticano, mas o que ele fez na entrevista do dia 5 de abril, foi coisa que só um atleticano faria por outro. Continuo achando que ele não deve bater pênalti, que ele erra demais para quem ocupa sua posição e que às vezes ele “se passa”, mas eu o admiro muito pelo que fez e até pelo que tem jogado. Também já falei muito do Netinho. É carente demais, é chatinho, mas é nosso jogador e não é ruim de bola, ao contrário, só que é cabeça fraca. Se pudesse aconselhar, diria para procurar ajuda psicológica personalizada.

Chega de dar carne aos abutres. Precisamos de atleticanismo. Pouco me importa se são os que torcem desde que o Caju jogava ou se vieram na brilhante campanha de marketing. Ninguém é menos atleticano que ninguém, a não ser que seja uma dessas pessoas chatas e marrentas que fica xingando jogador antes do jogo começar. Todo mundo tem direito de se expressar, mas se for para torcer contra, poupe-nos da sua presença no estádio. Imagina só você entrar no seu trabalho e antes mesmo de começar a trabalhar ouve de um “amigo” seu: você é um m..., você é um bêbado, você não vale nada e seu trabalho é uma porcaria. Você gostaria?

Chega de dar margem para quem não é atleticano, para essa imprensa brega e fofoqueira que adora plantar uma instabilidade. Nós somos fortes, nosso time pode não ser como queríamos, mas é o nosso time. Temos mais três jogos rumo ao título da superação. Hora de torcer pra valer.


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