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Daniel Machado
Daniel Lopes Machado, 46 anos, é empresário e consultor em sistemas de informação. Considera os versos da sexta estrofe do hino atleticano, escritos por um ex-jogador, imortalizado em uma espontânea demonstração de amor ao clube, a mais bela poesia de todos os tempos: "A tradição, vigor sem jaça... Nos legou o sangue forte... Rubro-negro é quem tem raça... E não teme a própria morte!" Foi colunista da Furacao.com entre 2008 e 2010.
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Eu não gosto de futebol
10/04/2009
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"Eu não gosto de futebol, só do Atlético!" Foi assim que definiu sua afinidade com o esporte bretão a minha querida Gigi, quando tinha só 5 anos. Percebam que há sutileza e inteligência escondidas ali, entre cada palavra. Até uma certa elegância. Praticamente uma lição de moral.
De lá para cá, já se passaram 2 anos. Gigi hoje tem 7, segue cada vez mais esperta, e aquela frase ainda não me saiu da cabeça.
Como é possÃvel gostar do Atlético e não gostar de futebol? Gigi, ensina-me!
Ajude o titio a se libertar do Ricardo Teixeira, do Édson Arantes (não do Pelé, do Édson Arantes, pois um não tem nada a ver com o outro, tá?), do Galvão Bueno e do Jasson Goulart. Do Fernando Gomes e dos seus capangas. Do Luxemburgo. Do Neto, do Godói e do Milton Neves. Do outro Milton, o Leite, branco como o Neves. Coloque neste saco, Gigi, todos os narradores que precisam estudar a escalação antes da transmissão. Por favor, certifique-se de que também incluiu os dirigentes da Federação Paranaense de Futebol. Melhor, não os jogue neste saco, apresente-lhes a sua professora de redação.
Como posso acompanhar o Furacão sem ser escravo desta gente? Como posso tomar conhecimento do que se passa no CT do Caju sem cansar a minha paciência?
Não ouço jogo pelo radinho devido a um refluxo ventricular. Muito menos me contento com os "flashes" de uma partida. Quando estou nervoso, as piadas do ET não têm graça. Às vezes, mesmo quando não estou nervoso, elas também não têm graça. Nunca sei se a bola está na esquerda, na direita, se atuamos bem ou mal. Preciso de imagens, ao vivo, de muitas, muitas câmeras, vários ângulos, captando o manto rubro-negro. Só então eu me acalmo.
A internet é uma revolução. Mas ainda engatinha o bebê cibernético. Dia desses dei um tapa no monitor, quando as imagens da partida contra o Dallas, transmitidas diretamente de Frisco, Estados Unidos, mais paravam do que andavam. No fim das contas, descobri que os jogadores estavam mesmo com o "pause" apertado.
Ainda não estou montado no cascalho, senão teria viajado para Natal. Compareceria ao embate contra o ABC e já emendaria a Páscoa. Anteontem, nem o pay-per-view me salvou. Paguei para não ver.
Então me afundei no sofá, diante de um primeiro tempo horroroso, do Sport contra o Palmeiras, porém não mais horroroso que os jogos do Campeonato Paranaense. Desliguei a televisão quando o comentarista afirmou que o Sport voltava para a segunda etapa muito mais ofensivo, pois o Nelsinho Batista teve a brilhante ideia de colocar o Igor na lateral direita. Para completar, o locutor concordou: "Bom jogador esse Igor!"
Estou começando a me irritar com o sistema. Preparam o espetáculo, o cenário, montam o circo, contratam os artistas e falam de futebol. O pessoal vive disso e ainda faz mal feito, enquanto eu pagaria uma rodada no bar pela mesma oportunidade, só por diversão.
Está decidido. Dona Pati, a partir de hoje, não gosto mais de futebol. Só do Atlético. Abdico de assistir a programas esportivos cuja atenção destinada aos assuntos do Furacão seja inferior a 100%, exceção feita às sátiras do "Pisando na Bola". Abdico de assistir a partidas de futebol caso uma das equipes envolvidas não seja o Atlético, exceção feita a um eventual amistoso entre a Argentina e o Coritiba. De agora em diante, a seleção brasileira pouco significa para mim. Se não se classificar para a Copa, ou se as apresentações nas eliminatórias forem mais indecentes que as roupas do Dunga, não me importarei. Beberemos um Pinot Noir e veremos filminhos românticos da Meg Ryan, se você quiser, justamente na habitual hora da cerveja e do Campeonato Inglês. Mas é bom deixar claro um detalhe: pelada com os amigos não se enquadra no gênero futebol, ok? Trata-se de uma arte completamente distinta, única e independente. Fora isso, o futebol acabou para mim. Ficou só o Atlético, pelo qual me reservo o direito de ficar três dias de luto após uma derrota.
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