Rafael Lemos

Rafael Fonseca Lemos, 49 anos, é atleticano. Quando bebê, a primeira palavra que pronunciou foi Atlético, para desapontamento de sua mãe, que, talvez por isso, tenha virado coxa-branca. Advogado e amante da Língua Portuguesa, fez do Atlético sua lei e do atleticanismo sua cartilha. Foi colunista da Furacao.com de 2007 a 2009.

 

 

Há horas incertas, no meio da noite

05/04/2009


São 3 horas da manhã, e eu não durmo. Ando do quarto para a cozinha, da cozinha para o quarto. Lá, acendo um cigarro; aqui, assento uma frase. Fumar e escrever são grandes vícios. “Não tenho pequenos vícios” diria um grande amigo meu. O que é que me falta nesta madrugada? O que é que me angustia? Falta-me um café! A angústia é a falta da cafeína, é isso. Cigarro, café e teclado: está composta a maldita trindade que haverá de me matar, por certo, um dia.

Sete jogos decisivos. Eu já não tenho mais saúde para tanto. Antigamente era menos dolorido, jogavam-se duas, no máximo três partidas, e pronto: tudo estava consumado. Mas agora, não. Sete jogos decisivos, 40 dias rastejando pelo inferno da incerteza. Corpo suspenso, por um fio de cabelo, no profundo abismo. Faltam cinco jogos para que a gente conheça, afinal, o que é que nos reserva o destino. Faltam cinco jogos. São 3 horas da manhã, e eu não durmo.

Caminho até a cozinha e encho a caneca de café. Mais 350 ml de café lançados contra o meu estômago. No primeiro gole, lembro-me do meu refluxo laringo-faríngeo. Num ato reflexo, tomo um pantoprazol 40 mg no segundo gole de café. Na minha caneca, o escudo do Atlético sobre o qual estão gravadas as duas estrelas que iluminam a minha noite de torcedor insone. Num relance, reparo: o Atlético está em tudo à minha volta. Caneca, abridor de garrafas, toalhas, copos, cinzeiro, chinelos, camisa e calção.

Num relance, reparo: o Atlético está em mim! Não durmo, são 3 horas da manhã. Sete jogos decisivos. Faltam cinco. Hoje é mais um dia de decisão. O jogo começa às 18h30, mas o tempo não passa. Queria que começasse logo. Dia desses sonhei que o Raul fez uma partidaça. Ele e o Fransérgio. Sonhei que metemos 4 a 1 no Iraty. Depois do jogo, o cara da rádio falou “O campeonato continua aberto e o Atlético mais vivo do que nunca!”. Já vi tanta coisa no futebol, que nem sei mais separar o sonho da realidade.

Quando escrevo sobre o Raul sempre me vem à cabeça a imagem do Joel, o piá que nos deu o título de 83 contra os verdes. Era um menino e decidiu, com personalidade. Engraçado é que um e outro nem de longe se parecem, mas eu escrevo sobre o Raul e lembro do Joel. E escrever Fransérgio me remete ao Nivaldo. Sei lá por quê. Futebol é um negócio engraçado: a gente aposta no Kita, e dá Dirceu; aposta no Marcinho, e acaba dando Wallyson, Wesley ou outro coadjuvante que resolve escrever a História.

Já vi tanta coisa no futebol que não posso, jamais, perder a esperança. Ainda mais em se tratando de Atlético. Para o Atlético, nada vem de graça, nada vem sem sofrimento. Muitas vezes, acabei de ver os jogos – ajoelhado e suando frio - em frente à tevê, rezando para que o árbitro apitasse o final da partida. Muitas vezes, ouvi os jogos – tremendo e gelado debaixo das cobertas – embora fosse verão em Curitiba. O pulso e a temperatura só voltavam ao normal depois de 15 minutos. O Atlético está em mim. O Atlético está em nós.

Ao amigo insone que aí está diante da tela do computador repartindo comigo este Atleticanismo que nos une, ofereço meu fraternal abraço. São 3 horas da manhã, e eu não durmo. Ando do quarto para a cozinha, da cozinha para o quarto. Lá, acendo um cigarro; aqui, assento uma frase. Fumar e escrever são grandes vícios. O que é que me falta nesta madrugada? O que é que me angustia? Falta-me o Atlético! As vitórias do Atlético! Faltam cinco vitórias, uma taça e uma faixa. E na faixa estará escrito, em letras vermelhas e pretas de paixão: Atlético, Campeão Paranaense de 2009, por certo pra me matar de alegria.

Faltam cinco jogos e esse tempo que não passa...



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