Juarez Villela Filho

Juarez Lorena Villela Filho, 46 anos, é advogado, funcionário público estadual, dirigente de rugby e arruma tempo para acompanhar jogos do Atlético, isso desde 1987. Conhece 49 estádios Brasil afora onde foi ver de perto o Furacão. Sócio desde os tempos do Atlético Total em 1998 e na nova modalidade Sócio Furacão desde 2007.

 

 

Respeito

02/04/2009


Não parece ser muito difícil ser um engenheiro. Se o caboclo é bom em matemática, usa os modernos programas de computação de hoje em dia e consegue fazer bons, belos e funcionais projetos. A parte “ruim” da coisa quem vai fazer é o mestre de obras, o pedreiro e o servente, acho que dá para qualquer um. Anos de estudo, provas, trabalhos, madrugadas em claro estudando? Parte do processo, talvez não o essencial.

Fácil mesmo é ser contabilista. Hoje em dia as planilhas de Excel são tão avançadas, tão cheias de recursos que fazem praticamente tudo sozinhas. Até mesmo declarar o imposto de renda ficou fácil, qualquer analfabyte consegue fazê-la on line.

E ser advogado então? Se o sujeito sabe ler, falar bem, se souber minimamente interpretar um texto decentemente já sai magistrado! Saber os porquês dos pensamentos socráticos, do fim do feudalismo, Código Napoleônico e pensamentos humanistas não passa de mera formalidade. Acho que por isso os amigos do Espadachim Café ganham tudo quanto é campeonato que disputam (incluindo todos os jurídicos), afinal os caras tem tempo de sobra pra jogar bola!

Jogador de futebol então é uma moleza! Só “trabalha” pouco mais que cinco horas por dia, come bem, dorme bem e principalmente ganha bem. Existe ainda todo o glamour da profissão, se é que dá pra chamar “jogar bola” de profissão. Nos dias de hoje, ser jogador é fazer parte do show business e se num esporte como o rugby a gente brinca que primeira linha nem toma banho dia de jogo, que se ficam dias sem fazer a barba para encarar o adversário, no futebol as estrelas gastam mais tempo com o penteado que cuidando dos pés, seus instrumentos de trabalho.

Sem contar as Maria chuteiras....que maravilha! Loiras oxigenadas disputando a tapa o privilégio de estar ao lado dos boleiros que gastam num final de semana de balada tanto quanto um reles mortal como nós gasta de mercado durante o mês. Como parece fácil. Mas não é.

Imagina o que é esses garotos saírem de casa com 12, no máximo 15 anos, atravessar Estados, ficar longe da família só os vendo nas festas de final de ano num eterno vestibular? A pressão que passam? Imagine que nem um décimo dos clubes oferecem o que o Atlético oferece, uma boa cama, alimentação abundante e equilibrada, chuveiro quente e até mesmo estudo!

Poucos chegam ao profissionalismo e levante a mão aqui quem nunca tentou, quem nunca fez uma “peneira”, participou de um rachão e viu que se era o bam bam bam no bairro, era somente mais um quando comparado a dezenas de outros moleques bons de bola que apareciam para treinar. Frio, fome, sede, saudade de casa. O vestibular da bola faz esse exame diariamente, imagine como isso mexe com a cabeça do garoto.

Hoje em dia o Atlético oferece condições excelentes tanto para a base como especialmente para os profissionais. Se o clube não paga valores hollyodianos como outros, ao menos fá-lo religiosamente em dia. Mas eles são mortais, não são super homens e nem infalíveis. E na maioria, na extrema maioria das vezes não erram por querer, não cometem erros, ainda que pareçam tão tolos e óbvios porque sentem a necessidade de errar. Erram porque são homens, pecadores, falham tanto quanto qualquer um de nós em nossos trabalhos.

E qualquer um de nós, salvo exceção, já foi pressionado no trabalho, já fez uma cagad@ qualquer, já teve o pescoço colocado à prêmio, já viu o supervisor nos olhar com uma cara de quem queria oferecer nossa cabeça numa bandeja pro chefe, já esteve em frente ao computador sentindo o bafo do gerente de olho em cada tecla batida. Assim como jogar futebol temos uma profissão, um trabalho, um ganha pão.

Sei que tem um momento na partida, em especial quando vemos a pobreza técnica pela qual passa o rubro-negro desde o final de 2005, que pensamos “pô, o cara só joga bola o dia todo, todo dia e faz isso?”. Pensamos também como aqueles caras ganham 10, 20, outros 100 vezes mais que conseguimos com a labuta diária, horários inflexíveis e depois de anos de estudo apenas para jogar bola. Mas é a profissão deles e todos dentro do seu trabalho merecem respeito.

O respeito que espero ver por parte da torcida com os profissionais que estarão envergando a camisa que só se vestia por amor dentro de campo. Essa coisa romântica, bonita existe em nossa retina, em nosso coração, dentro de campo é raríssima exceção. Mas temos que respeitar quem está lá representando cada um de nós atleticanos.

Logicamente vamos exigir respeito por nós torcedores, sócios, fanáticos torcedores que despendemos tempo, dinheiro, garganta e nos últimos anos muita paciência para vermos o que temos visto dentro do sagrado gramado do Joaquim Américo. O mínimo que vamos exigir e cobrar sempre é dedicação máxima, é luta, entrega e garra em busca o objetivo final que sempre deve ser a vitória.

Hoje não quis falar de escalação, da teimosia de Geninho num esquema que não dá certo, das escolhas equivocadas e da pouca qualidade do elenco. Hoje quis lembrar que respeito é uma moeda de troca, ou seja, devemos respeitar nosso próximo, nosso semelhante, nosso representante dentro de campo e assim também exigir respeito. Enquanto estamos supostamente nos divertindo nas arquibancadas, eles estão em campo trabalhando. Pense nisso antes de somente vaiar e criticar. Assim como qualquer um de nós, eles também precisam de apoio nos momentos de dificuldade.

ARREMATE

“I want to see some respect (I said)/
You better show some respect (I said)/
Attitude and respect”.
Attitude , SEPULTURA.


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