Dary Júnior

Dary Pereira de Souza Júnior, 53 anos, é pantaneiro de Corumbá, está no jornalismo desde 1987 e canta na banda Terminal Guadalupe. Era flamenguista, mas virou a casaca de tanto ir à Arena da Baixada – e sempre paga ingresso. Foi colunista da Furacao.com entre 2004 e 2005.

 

 

Uma camisa que precisa de dono

13/02/2004


Para Cezinha, Cláudio, Carlinhos e Rodrigo, meus irmãos de arquibancada.

É a nota máxima, o carimbo do jogador máximo. Quem usa, desequilibra - ou, pelo menos, deveria. Cá entre nós, já faz tempo que o nosso número 10 não tem cara. E olha que nem Kléberson tinha o perfil clássico, mas dava conta. O último que honrou a posição foi Kelly, ponta-de-lança à moda antiga, uma saudade do tempo em que o quadrado do meio-campo rubro-negro era chamado de mágico.

Exceto por Souza, que também ficaria vestido a rigor com a 10, o que se viu foi um desfile. De olho na passarela recente: Rodriguinho, Fernandinho, Marcelo, Dagoberto e até Ilan, meu protegido, tentaram ficar bem na foto. No entanto, o modelo que mais parece preparado para envergar a camisa, um equivalente a atestado de craque, tem entrado em campo com a 8. Sim, estou falando de Jadson.

Um camisa 10 tradicional arma como Zenon (Guarani, Corinthians), bate falta como Dicá (Ponte Preta), cobra escanteio como Pita (Santos, São Paulo), finaliza como Roberto Dinamite (Vasco), decide como Zico (ele). Jovem leitor, me perdoe. Mencionei esses jogadores porque eram eles que encarnavam o espírito do número místico nos anos 80, quando eu era criança e o futebol deu seu último suspiro romântico.

Não que Jadson esteja no mesmo nível dos craques citados no parágrafo anterior, mas ele tem feito tudo o que eu listei - e bem. Gosto mesmo do rapaz. Assistir à exibição de seu estilo de jogo é algo que vai me fazer falta, agora que estou de mudança para São Paulo. Tudo bem, vá lá: existem ótimos jogadores paulistas, mas como é que vou fazer se a Fiel não grita o nome de Jadson e o Morumbi está longe do Rebouças?

Por isso, para tornar útil esta crônica de despedida, lanço uma campanha: "Jadson é 10". O moleque travesso da Arena precisa assumir logo a camisa que lhe pertence, até porque não se esconde durante o jogo. Na arquibancada, dizemos que ele "chama a responsabilidade", outra característica de um genuíno ponta-de-lança. E então, torcedor, Jadson é 10 ou não? É? Então, peça!

Nota: Dary Júnior ficou seis meses sem colaborar com Furacao.com por opção ética. Ele havia assumido a direção de jornalismo da TV Paraná Educativa, emissora que transmitiu as finais da Copa Sesquicentenário. Agora, vai morar em São Paulo e considera desonesto opinar sobre um time que não vai ver jogar. Esta é a sua última coluna para o site. Quem quiser conhecer seu trabalho como músico pode acessar a página da banda Terminal Guadalupe. O endereço é www.terminalguadalupe.com.br.


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