Daniel Machado

Daniel Lopes Machado, 46 anos, é empresário e consultor em sistemas de informação. Considera os versos da sexta estrofe do hino atleticano, escritos por um ex-jogador, imortalizado em uma espontânea demonstração de amor ao clube, a mais bela poesia de todos os tempos: "A tradição, vigor sem jaça... Nos legou o sangue forte... Rubro-negro é quem tem raça... E não teme a própria morte!" Foi colunista da Furacao.com entre 2008 e 2010.

 

 

Aos 85 anos, ao presente

27/03/2009


O coração atleticano
estará sempre voltado
para os feitos do presente
e as glórias do passado


Mas o coração atleticano é tão grande, tão grande, que apesar das glórias do passado, apesar dos feitos do presente, ainda sobra espaço para sonhar o futuro.

Semana passada, brindamos ao passado. Ontem foi aniversário do vovô mais enxuto da cidade, e como presente, trataremos hoje do presente; semana que vem, do futuro.

Enquanto organização, o Atlético sofre de um mal muito comum entre músicos e boleiros. Vivemos o distúrbio emocional das novas celebridades, uma grave crise pós-sucesso abruto. Quem não conhece a história de algum menino pobre, que veio com muito sacrifício do interior de sabe-se-lá-onde, tentar a sorte em algum peneirão na cidade grande?

Para muitos, porque o governo não lhes proporciona maiores chances de uma vida digna, só restaria mesmo o anonimato e a pobreza... ou a esperança de que aflorem seus talentos, seja com o violão nas mãos ou com a bola nos pés. Eis que então, quase que por um raio de sorte, uma ínfima parte dessa gente abraça a oportunidade de suas vidas. Enfiam-se de cabeça em uma nova carreira. São feios de doer, mas da noite para o dia as mulheres passam a persegui-los. Nunca viram um tostão furado no bolso, mas assim, sem mais nem menos, ficam milionários e ganham novas contas bancárias personalités. Sempre foram os fãs e, de repente, transformam-se em ídolos. Tudo vem de graça, pois fazem o que gostam. Os moleques então se deslumbram. Saem à noite algumas vezes e, enfim, caem na noite. Entregam-se aos prazeres fugazes de uma vida que jamais haviam experimentado.

Os meninos sobem tão alto que se esquecem do chão. Quando eu jogava salão, Pachequinho (o Alex dos coxas, do Palmeiras, da seleção) era fichinha perto de um guri que chamarei aqui de Joãozinho. Tcheco e Ricardinho (do Paranazinho, do Corinthians, da seleção) eram reservas do time de Joãozinho. Meu time tomou de 19 a 2 uma vez e o guri fez chover. Deve ter feito uns 16. Joãozinho botava todos no bolso. Precisei de fisioterapia para me livrar de uma escoliose causada por um drible de Joãozinho. O que aconteceu com ele eu não sei. Aliás, sei mas não vou dizer. Coitado, o fato é que não vingou no mundo da bola.

Então temos duas opções para o nosso pequeno problema presente: aceitamos o fardo de nossa grandeza, enfrentamos as dificuldades e resolvemos nossas diferenças como homens, ou então voltamos a ser o "Atlético do Paraná", um time da segunda divisão que tem a camisa parecida com a do Flamengo.

Há três anos sem título, cada um incentiva como pode. Uns criticam, pedem a cabeça de goleiros e atacantes, de presidentes e ex-presidentes; outros simplesmente confiam e acreditam. Lidar com tanta gente, tanta paixão e tanta opinião é o preço que pagamos pelo sucesso. Lutamos pelo reconhecimento, vencemos pelo prestígio do qual gozamos. Se hoje nos sentamos à mesa dos famosos clubes brasileiros, é porque fizemos por merecer. Não podemos botar tudo a perder agora.

Este é o Atlético de hoje. Sofre dos males de um time grande, maior do que o passado, porém menor do que o futuro. Título estadual é obrigação. Terminamos a primeira fase em primeiro lugar, 6 pontos e 15 gols de saldo à frente de nosso rival, e ainda sim eu, você e a enorme torcida rubro-negra cobramos mais. Queremos mais porque sabemos que podemos mais.

Aos 85 anos do Furacão. Ao presente.


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