Daniel Machado

Daniel Lopes Machado, 46 anos, é empresário e consultor em sistemas de informação. Considera os versos da sexta estrofe do hino atleticano, escritos por um ex-jogador, imortalizado em uma espontânea demonstração de amor ao clube, a mais bela poesia de todos os tempos: "A tradição, vigor sem jaça... Nos legou o sangue forte... Rubro-negro é quem tem raça... E não teme a própria morte!" Foi colunista da Furacao.com entre 2008 e 2010.

 

 

Aos 85 anos, ao passado

20/03/2009


O coração atleticano
estará sempre voltado
para os feitos do presente
e as glórias do passado


Mas o coração atleticano é tão grande, tão grande, que apesar das glórias do passado, apesar dos feitos do presente, ainda sobra espaço para sonhar o futuro.

Hoje, viveremos o passado, exploraremos o legado de nossa história. Pois semana que vem é aniversário do vovô mais enxuto da cidade e o assunto será o presente; daqui a duas semanas, o futuro.

Desde 95, galgávamos a largos passos uma revolução, recheio surpresa de um chocolate que ganhamos na Páscoa. Limitávamo-nos a coadjuvante no cenário nacional, até 2001, quando enfim brindamos ao prestígio adquirido com a taça de Campeão Brasileiro.

Antes disso, sofremos durante quase três décadas: 5 títulos estaduais em 27 anos. Gilmar ia bater o tiro de meta e pedia a Jatobá que ficasse na meia-lua, caso escorregasse ou furasse o chute, enquanto Guni corria em disparada pela esquerda. Marcelo Araxá apareceu para reforçar o Furacão depois de uma brilhante passagem pelo União Bandeirante e fez o único gol deitado da história do futebol. Mesmo perdendo o Atletiba, que orgulho: Araxá havia feito o Gol do Fantástico! Houve até gol de nuca, sem querer, de Manguinha, salvando o Atlético no Torneio da Morte em 89. Kita e Paulinho Kobayashi eram contratações de impacto. Técnico salvador, bom mesmo, era o Lori Sandri.

Essa é a parte que me lembro. Antes de eu me conhecer por gente, e naturalmente por atleticano, dizem, a situação era mais vermelha do que preta. O calendário se resumia aos torneios paroquiais e, quando muito, aos Robertões Gomes de Pedrosa, mas ao menos havia craques como Sicupira, Djalma Santos, Bellini, Nílson Borges, Jackson, Cireno e Caju.

Fomos crianças travessas e adolescentes problemáticos. Hoje, somos adultos. E dos grandes. Até Márcio Guedes admite. Mas precisamos reconhecer que o passado nos orgulha muito mais pelas circunstâncias. Pela invencibilidade de 49, pelo clássico da gripe, pela façanha de Ziquita, pela chinelada na entrega de faixas ao co-irmão, e por tantos outros fantásticos causos rubro-negros.

A verdade é que tudo isso pouco importa. O que importa é que o Clube Atlético Paranaense nasceu há 85 anos, ostentando a elegância da nobreza. De dentro para fora do campo, varreu o elitismo como um furacão e se uniu à expressão do povo. Eis a miscigenação da alma rubro-negra, o segredo de nossa grandeza. (Talvez seja por isso, professor Rafael Lemos, que o Atlético é o melhor time do mundo.) O que devemos ao passado, de fato, por direito e merecimento, é algo que ninguém nos tira: a formação e amadurecimento de um sentimento que tem nome, o atleticanismo.

Aos 85 anos do Furacão. Ao passado.


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