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Rafael Lemos
Rafael Fonseca Lemos, 49 anos, é atleticano. Quando bebê, a primeira palavra que pronunciou foi Atlético, para desapontamento de sua mãe, que, talvez por isso, tenha virado coxa-branca. Advogado e amante da Língua Portuguesa, fez do Atlético sua lei e do atleticanismo sua cartilha. Foi colunista da Furacao.com de 2007 a 2009.
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É de cair o ...
13/03/2009
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Deu nesta Furacao.com: “A diretoria do Figueirense anunciou ontem a contratação de Roberto Fernandes, que teve passagem pelo Atlético entre maio e agosto do ano passado, e estava atualmente no comando do Náutico. Depois de demitir o técnico Pintado e o coordenador técnico João Batista Lopes Abelha, que atuava como interino, o clube agora aposta em Fernandes para levar o time catarinense de volta à Série A do Campeonato Brasileiro”.
Estarrecido, li e reli a notícia e pedi a Deus que, durante a permanência do “técnico” Roberto Fernandes (que deve ser algo entre dois ou três meses), protegesse a torcida do Figueirense, pois a Diretoria do Clube, definitivamente, não sabe o que faz. Li e reli a notícia e fiquei imaginado as cenas protagonizadas pelos comandantes do Figueira.
Cena 1 – A Problemática:
Três diretores em torno de uma mesa discutindo o fato de que o Pintado não devia mais permanecer no comando do Clube. Um deles diz:
- O Pintado não dá mais!
- Não dá!
- É não dá!
- Precisamos trazer outro técnico!
- Precisamos!
- É, precisamos!
- Mas quem?
- Pois é: quem?
- É! Quem?
(Notem que embora sejam três diretores na conversa a coisa não evolui muito a contento).
Cena 2 – A Solucionática:
Um dos diretores acende um cigarro e, estendendo o maço, oferece aos outros dois diretores que, embora não sejam fumantes, aceitam os cigarros, acendem as chupetas do demônio e passam a dar tragadas profundas, dessas que o caboclo dá quando está pensativo. O fumante original lança a pergunta:
- E vamos contratar quem?
Tossindo, o segundo reforça a pergunta, não ajudando em porra nenhuma:
- Pois é, vamos contratar quem?
O Terceiro, engasgado com a fumaça, adere à dúvida:
- Aí é que está: contratar quem?
Duas horas depois, e vinte cigarros mais tarde, um diretor grita:
- Eureka!
Ao que os outros dois respondem:
- Grande nome! Grande nome!
Enfurecido, o diretor corrije, espinafra e admoesta:
- Suas bestas! Eureka quer dizer “grande ideia” em russo!
- Certo, Chefe, certo. Mas qual é a grande ideia?
Momentos de suspense na sala, a densa fumaça dos cigarros cria um ambiente meio que de O Poderoso Chefão. O diretor da “Eureka” olha dentro dos olhos de seus amigos de diretoria e rasga o ar pesado entregando o nome daquele que será o novo treinador:
- Roberto Fernandes!
Depois de revelar o nome, vem a aprovação:
- Grande nome!
- Fabuloso!
- Como é que a gente não tinha pensado nisso antes?
- Um rapaz inovador!
- Vencedor!
- Cheio de planos!
- Um revolucionário!
- Diria que um Rinus Michels!
- E melhorado, pois já vem falando português!
E a contratação, enfim, é sacramentada para o desespero dos torcedores do Figueira e para a discreta satisfação dos torcedores do Avaí.
Cena 3 – Chega Bob Fernandes, o Senhor Testosterona, com promessas que nunca serão cumpridas:
Os três diretores do Figueirense vão ao aeroporto receber a mala. Já na primeira volta por Florianópolis, Bob Fernandes, com aquela simpatia que lhe é peculiar e é peculiar a todos os outros equinos, dispara:
- A cidade é bonita, é limpinha, mas sou mais o Recife!
Na sede do Clube, exige vaga especial no estacionamento para ele e para o resto da “renca” que veio com ele para a capital de Santa Catarina. Sem entender nada de nutrição, muda o cardápio do time, incluindo: pamonha, rapadura, carne de lata, buchada de bode, sarapatel, mocotó, arroz de leite e bolo de macaxeira.
- É comida de macho! Aumenta a testosterona!
O elenco passa a treinar sob o sol do meio-dia, coisa de macho. Depois do almoço, assiste a 4 horas de aulas magnas sobre o futebol, a cargo do Professor Roberto Fernandes, nas quais são expostas teses geniais como: i. Descer a ripa nos adversários é fundamental, pois quanto mais falta melhor; ii. Se a taxa de testosterona aumentar, aumentam os gols-pró e diminuem os gols-contra; iii. O cartão amarelo “diviria” ser “laranjado” e o “vérmelho diviria ser roxo para contrastar com o laranjado”; além doutras sandices do Mestre.
Cena 4 – O elenco está em frangalhos, o DM está lotado, os níveis de testosterona não aumentaram e os “Résultados Pósitivos” não aparecem, tampouco aparecerão:
Dois meses após assumir o Figueirense, Bob Fernandes – o gênio incompreendido – acusa a diretoria atual de não contratar reforços, culpa a diretoria anterior e já alfineta a diretoria que está por vir. Atribui seu azar ao Sobrenatural de Almeida, diz que seus métodos são por demais “révolucionários” e que um dia alguém vai lhe dar razão, nem que seja dentro de um hospital psiquiátrico do SUS.
Arruma as malas e vai embora, com a cara mais inocente do mundo, até que outro clube, dirigido por pessoas crédulas e analfabetas de bola, resolva cometer o suicídio de convidar para assumir o seu comando técnico o famigerado Roberto Fernandes, que entende de futebol a mesma coisa que eu entendo de Física Quântica, Medicina Nuclear, Astronomia e Quiromancia.
Cena 5 – A torcida enfurecida exige providências e a Diretoria se reúne de novo:
- O Roberto Fernandes se foi!
- Se foi!
- Pois é, se foi!
- Precisamos trazer outro técnico!
- Precisamos!
- É, precisamos!
- Mas quem?
- Pois é: quem?
- É! Quem?
- Eureka!
- Quem, Chefe?
- Mário Sérgio!
- Grande nome!
- Fabuloso!
- Como é que a gente não tinha pensado nisso antes?
- Um treinador experiente!
- Vencedor!
- Cheio de planos!
- Um revolucionário!
- Diria que um Telê Santana!
- E melhorado, e melhorado...!
Roberto Fernandes, Mário Sérgio, Cuca, Caio Júnior, dentre outros gênios: até quando os homens que fazem futebol vão continuar se enganando? Pior: até quando vão seguir nos enganando? Até quando farão suas torcidas sofrer?
É de cair o "qu" do queixo, pra não dizer coisa menos delicada! Que Deus esteja ao lado da torcida do Figueira, nos próximos 2 ou 3 meses, pois só a fé pode diminuir a dor daqueles que sofrem!
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