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Fernanda Romagnoli
Fernanda Romagnoli, 51 anos, é atleticana de coração, casada com um atleticano e mãe de dois atleticanos. Foi colunista da Furacao.com entre 2005 e 2009.
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Coletivismo furibundo
11/03/2009
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Este título aí tem uma história. Compridinha mas simples. O que acontece é que há uma semana venho pensando em escrever sobre a cabeça dos jogadores, mais especificamente comportamentos revelados e implícitos. Mas era uma coisa sem pretensão de ser uma análise behaviorista científica. Era um pitaco, achismo, palpite mesmo. Coisa de mulherzinha faladeira e observadora que sou.
A coisa acabou debandando para a nova dupla de ataque que desponta em nossa seleção: Rafael e Julio César. Analisei rapidamente que, embora não tivesse o charme de um Washington e Assis, Oséias e Paulo Rink, Alex e Kleber; é uma dupla que demonstra potencial. E dentro do que temos, é o que temos. Estava tudo pronto. Coluna rápida, simples. Algo incomodava.
Pensei. “Por que a análise comportamental acabou caindo nos moços”? Cheguei à conclusão de que o notório incômodo que me ocorre quando o nome do Rafael é citado é a provável causa. Explico para os mais fãs: Não é que eu não goste dele como fazedor de gols, é que acho que ele não pensa no coletivo. É, portanto, um jogador que ajuda o grupo apenas porque ajuda a si mesmo. E no mais resumido dos resumos, enfim, não acho que ele tenha o espírito atleticano, mas reconheço o seu talento de matador. E só para constar, sei que sou uma voz no deserto.
E aí eu fico pensando no tal coletivismo que canso de cobrar do Atlético. É uma cobrança furibunda (que não quer dizer outra coisa que não furiosa). É quase um despropósito. Digo isso porque vivemos na era dos fins que justificam os meios. Então, que se danem o futebol coletivo (apesar de ser jogado por tanta gente junta) e o pensamento em equipe. O cara está marcando, estamos ganhando e isso que importa.
A grande comprovação de que os fins justificam os meios é que não nos apegamos às pequenas bobagens em meio a uma estratégia de sucesso. Exemplo: Algumas escalações ou alterações que o Geninho fez e que não foram legais. Se no fim, ganhamos, não teve problema. Isso já foi até esquecido. Pode até se repetir, desde que ganhemos. O problema vai ser quando isso se tornar mais aparente, num campeonato com times mais competitivos do que os do Paranaense. Como fechamento deste “parêntese” só quero dizer que eu gosto do nosso técnico, muito. Acredito nele. Mas em duas ou três oportunidades fiquei louca da vida. Passou. No coletivismo dos resultados os erros se perderam.
Para pontuar o processo construtivo deste texto, por acaso li ontem (novamente) a deliciosa crônica do Nelson Rodrigues, datada de agosto de 1966, intitulada Originalidade Gagá. O cara é fantástico. Aliás, gosto mais dele como cronista esportivo. No texto ele usa essa expressão coletivismo furibundo como um modismo que o irritava. Exemplifica que se não fosse à falta do tal coletivismo ou futebol solidário como gostavam de enaltecer, cidadãos como Garrincha, Didi e outros não teriam sido tão geniais como foram.
Vi que lá se foram minhas teorias sobre o coletivismo ser a mola propulsora do sucesso dos times. Às vezes tratei como sendo a única. Me dei conta de que o jogador que pensa em si mesmo não é o monstro egoísta que divide a equipe (e a minha preferência). Lembrei que o cara que joga para a torcida e que por isso veste o manto do coletivismo, nem sempre chega a ser tão efetivo quanto o fulano egocêntrico que acha que todas as bolas do mundo devem ser alçadas na pequena área para que ele cabeceie. Isso porque esse cara geralmente é matador mesmo com todo o seu egoísmo. No entanto, continuo pensando que egos mal administrados são princípios de crises, vide os ex-atleticanos daquele time tricolor paulista. Deve-se tomar muito cuidado com esse tipo de gente. A egotrip deles é tão forte, que além das atitudes arrogantes, acabam até verbalizando o quanto se acham mais especiais do que o resto do elenco.
E mesmo com os egos mal administrados que acabam criando aquele climão, mesmo com situações e atitudes que vão contra a “filosofia” do time, do torcedor, e dos cartolas. Se ainda assim os resultados forem alcançados, fica comprovado que no futebol, os fins justificam os meios. Segundo registros, desde a década de 60.
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