Juarez Villela Filho

Juarez Lorena Villela Filho, 46 anos, é advogado, funcionário público estadual, dirigente de rugby e arruma tempo para acompanhar jogos do Atlético, isso desde 1987. Conhece 49 estádios Brasil afora onde foi ver de perto o Furacão. Sócio desde os tempos do Atlético Total em 1998 e na nova modalidade Sócio Furacão desde 2007.

 

 

Minha casa, meu castelo

10/03/2009


“Todos los domingos/
cuelgo la bandera/
voy a ver a Racing/
em Avellaneda...
.
.
me siento bien/yo también/
me siento bien/yo tambien
en Avellaneda me siento bien!!”


Quando nos reportamos a equipes argentinas nos lembramos dos gigantes de Buenos Aires, River Plate e Boca Juniors e deixamos em segundo plano alguns clubes ricos em história e com torcida tão ou mais fanática quanto aquelas, como a do Racing por exemplo. Por causa do rugby conheço muitos gringos e alguns deles, não por acaso os mais fanáticos, são torcedores de La Academia como é chamada a equipe alviceleste de Avellaneda.

Lembrei disso ao ouvir essa música deles e analisar o que vi sábado. Diante do Londrina, quando a equipe fazia um grande segundo tempo, ouvi gritos, apupos e aplausos ao final do jogo e não entendi. Depois ao ouvir o sistema de som é que percebi toda a alegria incontida da galera ao ver o “turco” Kamali entrar em campo e ser ovacionado pela nação rubro negra.

Aparentemente sem sentido, visto a extrema limitação técnica do garoto, me fez voltar ao tempo, num tempo em que íamos a Baixada pelo puro prazer de ir ver o Atlético. Dávamos muito ao clube com grito, incentivo e cantos o jogo todo e exigíamos em troca somente raça, o resto era conseqüência. Ir à Baixada era, além do sagrado exercício de fé atleticana, um prazer, uma festa que se auto explicava. Cada vez que pegava o ônibus Abranches - Água Verde (na época Taboão – Água Verde) já começava a festa e foi assim que indiretamente “nasceu” este site que há mais de década é referência sobre o Atlético no mundo virtual. Foi numa dessas “viagens” rumo a Baixada que conheci Cleverson Freitas, dali nasceu uma amizade e tempos depois começamos um site que é hoje a Furacao.com.

Esse resgate de alegria em ir à Baixada parece ter voltado ou ao menos estar voltando ao povo atleticano. Quando diante do Dallas a torcida pediu para o mais que contestado Michel bater a penalidade e ele após o tento se encheu de brios, foi pra cima dos americanos e não perdeu mais nenhuma dividida percebi isso. Pense comigo torcedor atleticano, vale mais a pena ter este tipo de atitude ou vaiar Netinho quando ele vai bater algum escanteio ou falta lateral? Vale mais a pena incentivar sem parar o desengonçado e carismático Lima ou vaiar Julio Cesar que estava com medo de errar e vai jogo a jogo perdendo esse receio e fazendo belos gols de fora da área? Vale mais a pena xingar e vaiar um sujeito de caráter e que tem muita história no clube como Alberto, ainda que esteja visivelmente mal ou ovacionar o simpático Kamali que mal conhece nosso idioma?

Nossa casa é nosso castelo e a Baixada representa para a nação atleticana muito mais do que um simples estádio de futebol. É um templo abençoado, é um ponto de encontro de amigos (falta só a volta da cerveja!!), é o lugar onde vemos a mais bela torcida feminina do Brasil, é onde estamos unindo o sacro envolvimento com essa religião chamada Atlético com o profano das músicas mais que pornográficas; é meio bento com o sinal da cruz ao começar o jogo, meio satânico com a caveira que amedronta o adversário.

E aqui, quem manda somos nós! Respeitando a cadeira do sócio, ficando em pé no setor onde a maioria vê o jogo em pé, sentando no lugar onde a maioria assim o deseja, não jogando fumaça na cara do vizinho com o sempre incômodo cigarro, não ficando em pé no corredor, enfim, fazendo da nossa casa o nosso mais forte reduto, o nosso castelo onde somos imbatíveis e mais do que fortalecidos. Que ir à Baixada todos os jogos seja sempre um prazer como na maioria das vezes o é.

ARREMATE

“basta um instante/
e você tem amor bastante.
Trecho da poesia AMOR BASTANTE, de Paulo Leminsky


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