Ricardo Campelo

Ricardo de Oliveira Campelo, 45 anos, é advogado e atleticano desde o parto. Tem uma família inteira apaixonada pelo Atlético. Considera o dia 23/12/2001 o mais feliz de sua vida. Foi colunista da Furacao.com entre 2001 e 2011.

 

 

Petraglia, Souza e Geninho

09/03/2009


Acompanhei com certa tristeza as críticas mútuas entre o ex-presidente Mario Celso Petraglia e o treinador Geninho, duas figuras tão importantes na história do Clube Atlético Paranaense.

A princípio, achei que Geninho não precisava ter se posicionado de forma tão dura, pois, a todo rigor, as críticas de Petraglia foram feitas em ambiente particular. Mas a verdade é que a imprensa tratou de torná-las públicas, e é difícil se segurar quando alguém menospreza o seu trabalho, razão pela qual não se pode condenar o treinador por se defender.

O fato é que este "debate" acaba trazendo à luz as circunstâncias em que o único título atleticano de grandes proporções foi conquistado. Isto porque Geninho minimizou a participação de Petraglia em 2001, dizendo que o dirigente não vinha participando de perto do futebol do Clube, que acabaria campeão brasileiro.

É sempre válido lembrar que Petraglia foi o principal responsável pela mudança de rumo no Atlético Paranaense, que deixou de ser um clube de pequeno porte para se tornar uma entidade estruturada e capaz de sonhar com títulos. Portanto, ainda que Geninho tenha tentado minimizar a importância de Mário Celso na conquista do Brasileirão, isto é impossível, já que sem esta mudança provocada pelo dirigente, o clube nem sequer teria se apresentado como candidato ao título.

Por outro lado, é interessante lembrar de determinadas circunstâncias que se verificaram em 2001. Um dos fatos de conhecimento geral nesta jornada foi a oposição de Petraglia quanto à contratação do meia Souza, quando chegou a entrar em conflito com os demais dirigentes e, segundo relatos, se "afastado do futebol" daquele momento em diante.

O bom entendedor de futebol sabe que Souza foi uma peça absolutamente fundamental para a conquista de nosso maior título.

Se 2001 foi um ano especial de forma muito positiva, 2008 por muito pouco não entrou para a história por um viés negativo. Três anos (2006-2008) de um futebol péssimo estavam prestes a culminar no rebaixamento para a Segunda Divisão. Mais uma vez, Petraglia afastou-se do futebol, nomeando Marcos Malucelli para tentar salvar a pátria. Malucelli fez o que a torcida queria: parou de apostar em projetos de técnicos e trouxe o consagrado Geninho, contagiando a torcida de otimismo e transformando um grupo desunido e desacreditado em um time de futebol determinado a escapar do descenço.

O bom entendedor de futebol sabe que Geninho foi peça absolutamente fundamental para evitar o vexame do rebaixamento.

Estes dois episódios são emblemáticos, pois demonstram que Petraglia realmente anda mal quando o assunto são as decisões práticas em matéria de futebol. É inegável que ele foi o grande responsável pela transformação do Atlético em um clube de ponta, ao interferir de forma brilhante em termos de infra-estrutura. Mas também é fato que se suas decisões fossem sempre absolutas quando o assunto é futebol, talvez não tivéssemos nem mesmo levado o título Brasileiro em 2001, ou estivéssemos condenados a jogar a Segundona em 2009.

Essa conclusão leva à idéia lógica de que o lugar de Mário Celso é cuidando da administração patrimonial do Clube, envolvendo negociações, parcerias, realizações, etc. Porém, mais uma vez o ex-Presidente mostrou que não admite esta limitação - e isso fica bastante claro no tal e-mail que vazou à imprensa, no qual o dirigente critica o investimento da atual direção em um treinador experiente, levando-nos à conclusão de que insistiria novamente em "apostas" (citando os investimentos da era Petraglia: João Carlos Costa, Gilson Nunes, Casemiro Mior, Heriberto da Cunha, Arthur Neto, Flávio Lopes, Givanildo Oliveira, Edinho Nazareth e Roberto Fernandes, todos com resultados pífios).

Sinceramente, acho uma pena perdermos uma pessoa como Petraglia, tão importante em termos patrimoniais. Mas se o preço para termos Mário Celso na administração do Clube for ter de aceitar suas pixotadas no departamento de futebol, eu prefiro agradecê-lo por tudo que fez, mas deixar que outra diretoria siga seu trabalho.

Aliás, muito tem se falado que Malucelli estaria "desconstruindo o projeto de longo prazo desenvolvido por Petraglia". Lamento que ninguém tenha sido claro ao demonstrar quais atitudes teriam implicado nesta mudança que dizem ser tão radical. Por enquanto, vejo uma diretoria comprometida em melhorar a imagem do Clube, e ao mesmo tempo enxugar os gastos administrativos desnecessários (que não são poucos), a fim de viabilizar espaço no orçamento para investir mais no futebol.

Friso que esta é a minha opinião. Respeito quem pense diferente, e acho válida a mobilização que alguns estão preparando em favor de Petraglia. Espero que aguardem 2011, e que tenhamos então mais uma eleição limpa, oportunidade excelente para exercitar a democracia. Só espero que este racha não prejudique o clube, e que todos os grupos políticos saibam atuar dentro de limites, sempre visando o bem do Atlético.


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