Juliano Ribas

Juliano Ribas de Oliveira, 51 anos, é publicitário e Sócio Furacão. Foi colunista da Furacao.com entre 2004 e 2007 e depois entre março e junho de 2009.

 

 

O valor de Geninho

07/03/2009


Antes de mais nada, quero dizer que gosto e respeito muito o Geninho. Ele é o treinador de nossa maior conquista e isso vale muito. Ponto. É o treinador mais identificado com a torcida e com merecimento. Ponto.

Também gostaria de dizer que esse texto não é um ataque ao Geninho ou uma defesa do Petraglia. É uma análise sobre o que o treineiro do Furacão disse em uma recente entrevista sobre um texto que se espalhou pela internet e depois foi à Gazeta, com opiniões de Mário Celso Petraglia em uma lista de discussão on-line.

É uma análise de fatos.

Posto, então vamos.

Petraglia não acusou Geninho de coisa alguma, nem faltou com respeito com ele. Apenas considera alto o valor do seu salário, assim como considerou o do Vanderlei Luxemburgo e outros, no tal texto. Nunca foi segredo para ninguém que Petraglia considera inflacionados os holerites dos treinadores brasileiros, desproporcionais com a importância e a capacidade que realmente têm. Você acha que o que faz o São Paulo vencedor é o Muricy ou a estrutura poderosa e rica daquele clube?

Para mim a reação de Geninho foi muito forte, repleta de ironias, vaidade e contradições. Veja o episódio dos bichos. Se “Seu Petraglia” não teve participação ativa em 2001, se ficou afastado, se pela visão de Geninho ele “só levantou a taça”, como poderia negociar bichos, que é algo tratado diretamente com o treinador e o grupo? Por telepatia?

Tirar o mérito de Mário Celso Petraglia no título de 2001 é tão injusto quanto atribuir o mérito do título ao Mário Sérgio, que montou aquele time.

Aquele título não foi construído nos 3 ou 4 meses que Geninho teve para trabalhar, foi construído em 2001, 2000, 1999,1998, 1997,1996,1995. Não sei se em tão pouco tempo, o treinador teria capacidade de avaliar o trabalho e a participação de um dirigente há anos ativo dentro do clube.

Atribuir o fracasso de 2002 na Libertadores a Petraglia me parece uma desculpa a sua própria falha, pois aquele grande time, que ficou caro e com os egos inflados, foi mantido para a temporada, como era desejo alguns diretores do clube e da torcida. Não sei quanto à bichos, mas os salários, que é o que importa, foram pagos sempre em dia, diferente da maioria dos clubes pelo Brasil. A hipótese de corpo mole dos atletas só mostraria que o heroísmo da conquista foi manchado por um mercantilismo safado de boleiro.

Se Geninho agora se considera o grande responsável pelo não-rebaixamento, por ser “um técnico bom”, está menosprezando a garra dos atletas e a união da torcida nos momentos finais.

Se caíssemos, iria colocar-se como culpado?

Geninho é santista, de residência e de time. Não é atleticano, mas aqui curte o gostoso de ter prestígio com a massa. E usa muito bem isso. Usou o momento de aflição do clube para fazer a sua gorda pedida: duzentos mil reais. Era um trabalho difícil e ele aceitou. Méritos. Mas não foi por amor ao clube, óbvio. Duzentos mil Reais.

Na primeira pedida maior que tiver do mundo árabe ou de um clube que considere de maior projeção, não tenho dúvidas que entregará o boné. Não o recrimino por isso, forma alguma, está certo, é sua profissão. Assim como num fracasso haverá a possibilidade de perder o emprego, como já aconteceu diversas vezes em sua carreira.

Geninho agora usa novamente um prestígio construído em 2 ou 3 meses, por ter nos ajudado a escapar do rebaixamento e diz: “se Petraglia entrar, eu saio”. É bastante perigoso dizer isso para quem tem uma profissão como a dele, em que o dia de amanhã pode ser bastante surpreendente. Ele pode sair por outras razões.

Bem, por enquanto tudo ok. Está com moral e ainda é fresca a memória daquele final de campeonato brasileiro do ano passado. Ele considera que vale o quanto é pago. Ok, também. São 200 milhas. Salário de ponta. Geninho é um treinador de ponta? Há quem diga que não.

Agora Geninho tem todo um ano pela frente para trabalhar, imprimir sua marca desde o início. Para definir o time, armar esquemas, definir padrões táticos. Tem que micar a festa do centenário dos ervilhas ganhando o Paranaense e fazer uma grande campanha na Copa do Brasil. Depois enfrentar a janela de transferências do meio do ano, remontar o time, rearmar os esquemas. Fazer um grande brasileiro, desde o início, nos classificar para Libertadores ou, se Deus nos der essa graça, ganhar o título. Tem que ir bem na Sulamericana, quem sabe, ganhá-la.

Por duzentos paus, acho que é razoável a expectativa. No caso de algum fracasso, não há desculpa a ser dada, tipo “o elenco é fraco”. Ano passado o Grêmio de Celso Roth quase ganhou o Brasileiro com um elenco pra lá de mediano.

Será a hora de Geninho mostrar realmente que vale o quanto ganha e que seus fracassos em outros clubes foram golpes do azar. Torço por ele, pois seu sucesso é o sucesso do meu amado Atlético.

Mas, como entoa o chavão, futebol é resultado. E os resultados podem ser generosos ou cruéis com qualquer biografia.


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