Juliano Ribas

Juliano Ribas de Oliveira, 51 anos, é publicitário e Sócio Furacão. Foi colunista da Furacao.com entre 2004 e 2007 e depois entre março e junho de 2009.

 

 

Ideias

02/03/2009


Sabe aquela sensação de estar em casa? Quando vou passar uns dias na casa da minha mãe e sinto o cheiro da broa que só ela faz saindo do forno, sei que estou em casa. Para mim, voltar a escrever aqui me traz um pouco dessa sensação. Estou em casa. Entre amigos.

Ideias. É delas que vivo. É por elas que vivo. Grandes ideias fazem sonhar, abrem janelas no interior da alma. Há mais de seis anos estou na internet lançando ideias sobre uma grande paixão, o meu Atlético. Há mais de quinze tenho estado em agências de propaganda vivendo de ter ideias. Desde que me conheço por gente, tenho ideias e tento colocar algumas delas em prática. Poucas vezes com algum brilho, mas sigo na luta.

Não é privilégio de escritores, publicitários, colunistas, artistas, ter ideias. Temos ideias o tempo todo, todos nós. Ideias nos modificam, nos tiram da inércia. Só com ideias podemos romper com os sistemas, subverter estruturas, trazer o novo. Reinventar nossas vidas.

É possível que ideias poderosas mudem a realidade de todo um povo? É possível que raciocínios brilhantes tragam a muitos a perspectiva de um novo amanhã? Sim, é possível. Sei porque a história da humanidade é pródiga em exemplos. Sei porque vi acontecer.

Vi acontecer bem diante dos meus olhos o renascimento de um clube falido e humilhado e o surgimento de uma potência do futebol brasileiro: Clube Atlético Paranaense. À época eu trabalhava como redator da Mercer Comunicação, do saudoso Sérgio Mercer e do grande atleticano Nelson Fanaya Filho. Nesse período embrionário do projeto de revolução atleticana pude acompanhar o brilhantismo das ideias avançadas de um grande homem: Mário Celso Petraglia.

O objetivo: elevar os padrões de administração, de estrutura e de relacionamento do clube, para que tudo isso refletisse no produto final, o futebol atleticano.

Mas como se destacar, como fazer diferente?

Petraglia contrariou o sistema. Sabia que se não fosse assim seria impossível crescer, mudar, conquistar. Sabia que teria que confrontar a cariocada, a paulistada e todos aqueles que desejam que as coisas fiquem sempre como estão. Não se faria um clube grande pensando pequeno. Petraglia impregnou no clube essa mentalidade grandiosa e fez que quem estivesse lá entendesse que esse era o único caminho a seguir. Não à mesmice, não aos velhos hábitos. Fazer o Atlético grande de verdade, doa a quem doer. Esse é o projeto.

E não é que um clube que estava sucateado idealizou o mais moderno estádio do Brasil, o projetou, o construiu e o inaugurou em ínfimos dois anos? Com fazer isso senão com ideias brilhantes e uma força de ação avassaladora?

Todas as revoluções nascem de ideias. Todas as grandes ideias precisam de um líder. MCP foi esse líder. Não existiu nenhum “grupo” que gerou e levou à cabo as grandes ideias da mudança. Esta é uma das grandes lendas atleticanas. Quem propôs e bancou o ônus das ideias foi Mário Celso. Quem a cariocada quis queimar em rede nacional foi Petraglia, não outro.

Até tinha gente, hoje incensada como pessoas de grande mérito no projeto atleticano, que achava que o Atlético deveria se manter médio, meia-boca, porque seria “mais fácil de tocar”, sem confrontar ninguém, sem se expor. Queriam até que nosso estádio - esse colosso que é nossa alegre realidade - fosse mais modesto, ou seja, um estádio como qualquer outro. Em 1995, MCP já estava dez anos à frente. Hoje é impossível entrar na Baixada e não lembrar de Petraglia. Em 2014, será impossível não assistir um jogo da Copa do Mundo em Curitiba e não lembrar desse vanguardista. Ninguém tem lutado mais por essa Copa, que poderá trazer inúmeros benefícios a todos os paranaenses.

Bancar suas ideias, levar adiante, assumir a responsabilidade por elas, é coisa que poucos fazem. Nisso, MCP é um exemplo para muita gente. Até para Marcos Malucelli. Nesse momento pelo qual o clube passa, é importante que Malucelli perceba que não é absolutamente nada dentro do clube e que ainda tem muito o que fazer para ser respeitado. E não é cometendo uma tremenda deselegância como achincalhar na imprensa o maior dirigente atleticano de todos os tempos que vai ganhar respeito. Por enquanto, sua maior realização foi desconstruir o projeto atleticano idealizado por Petraglia.

Mas chegará o momento em que terá que colocar ideias próprias em prática.

Fazer a festa dessa imprensa rota, verde e de poucos expoentes de seriedade com entrevistas bombásticas e promover a festa do pão com mortadela no CT do Caju não significa ter ideias.

Alardear uma suposta democracia dentro do clube também não é nada mais do que palavras ao vento, parece ser muito mais transferência de responsabilidades. Co-gestão não funciona em lugar nenhum. Como dizem os americanos, “it’s lonely at the top”. Não se vai a lugar nenhum tentando agradar todo mundo.

Transparência? O Atlético sempre foi transparente, o problema é que a maioria das pessoas, inclusive a imprensa, tem preguiça de ler os balanços anuais.

Dívidas? Herança maldita? Custa muito manter um time de série A e ainda realizar uma obra como a da reta da Brasílio Itiberê, com recursos próprios, sem dinheiro de vendas de atletas, sem patrocínio e em plena crise mundial.

A gestão de Malucelli está ainda no começo e alguém, uma hora ou outra, terá que assumir as responsabilidades. Mas retroceder, como tem feito, querendo até fazer média com coxas, que na primeira oportunidade que tiverem nos enfiarão uma facada nas costas, parece ser a principal ideia de Marcos Malucelli.

Eu que apoiei a chapa Coração Rubro-Negro me sinto traído. Imagine o Mário Celso, que a fez vencer.

Teremos três anos pela frente com essa nova gestão. Será que teremos um novo projeto de crescimento sustentável para o Atlético?


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