Fernanda Romagnoli

Fernanda Romagnoli, 51 anos, é atleticana de coração, casada com um atleticano e mãe de dois atleticanos. Foi colunista da Furacao.com entre 2005 e 2009.

 

 

Briga de comadres

25/02/2009


Comadre. A despeito do seu significado de dicionário, a verdade é que esta palavra, comadre, facilmente nos remete a casas com aquela varandinha na frente, separada por muros baixos onde descansam braços de mulheres fisicamente ocupadas e mentalmente, digamos, receptivas a qualquer coisa, preferencialmente quando diz respeito à vida dos outros, especialmente quando se trata de desgraças.

Comadre também pode ser aquele equipamento horripilante que fica embaixo das não menos horripilantes camas de hospital. Lá se recolhem dejetos. Lá fica aquilo que o corpo não quis mais. Passei uma temporada no hospital. Naqueles 50 dias não podia me mover muito e isso é pior quando se fica consciente o tempo todo. Em algumas oportunidades tinha de ser transferida de quarto para que pudesse esterilizar o meu. No caminho, via algumas comadres (as que falam) tratando da vida alheia como se fosse capítulo de novela. Daqueles dias trago muitas lições e alguns traumas, dentre eles as comadres, as que falam e as do tipo que recebem dejetos.

Seja como for, é preciso parar com essa briga de comadres. Essa coisa de ficar achando culpado disso ou daquilo, de dizer quem está certo ou errado, de criticar opiniões. É preciso saber conviver com uns que são mais críticos, outros mais condescendentes e com aqueles que transitam entre uns e outros. Não temos razão, provavelmente tempo, e certamente dinheiro para discutir opiniões que, como diria o ditado: são como joelho, cada um tem o seu, e na maioria das vezes são dois! Também não podemos ficar fomentando venda de jornalecos baratos ou programas esportivos que beiram a grosseria de tão ruins que são.

Uma vez escrevi uma coluna ainda no Fala, Atleticano, criticando ferozmente a então diretoria do Atlético, especialmente o presidente, sem, no entanto deixar claro no próprio texto o quanto eu sou grata pelo que foi feito. Sabe o que aconteceu? No dia 14 de maio de 2005, três dias depois da minha coluna no Fala, o sr. Durval Monteiro leu o meu texto em seu programa falando em “movimento antiPetraglia”. É muita criatividade! Quem não sabe o que fala, fala qualquer coisa. E eu que pareço um espeto, mas na verdade sou da paz, poderia ter arrumado encrenca por isso. Não o fiz porque não dou nenhum tipo de audiência para coxa e nós sabemos o que aconteceu com aquele programa.

Temos de parar de dar arma para o inimigo. Temos de parar de confundir aqueles de dentro de casa e que não têm muito esclarecimento. E eu estou falando daqueles de fora e de dentro do campo atleticano. Porque essas brigas de comadres enfraquecem nosso elenco: “Será que eles vão me pagar?”, “Será que meu emprego está garantido?” Pode ter certeza, passa tudo pela cabeça de todo mundo. Como se isso não bastasse, outras torcidas ficam entusiasmadas como urubus, esquecendo de suas próprias feridas escancaradas e mais purulentas que as nossas.

Se tivermos de criticar, que seja para algo proveitoso. Por exemplo: temos uma dívida consolidada, que em termos contábeis quer dizer compromisso, e até onde sabemos o Atlético tem honrado estes compromissos. Essa dívida veio de um erro estratégico muito comum: pensar que o que temos (de bom) agora é perene. Foi assim com os naming rights, foi assim com as revelações que apareciam a rodo e nos rendiam alguns trocos. Foi assim ao contar que poderíamos reaver todo o investimento que fizemos em jogadores mau-caráter que sequer devolveram o feijão que comeram no maravilhoso CT. E aí, o que fazemos?

Não tem jeito. A análise mais realista é: Temos de trazer a gurizada para a vitrine. Com esse elenco de hoje, só podemos ganhar alguma coisa com o Galatto (que tem de fazer um esforço extra para continuar bem cotado); Chico e Rhodolfo. Viu? Só jogadores de defesa. Não ganhamos muito com eles. Infelizmente. Porque a despeito do que todo mundo pensa do cara lá da frente, nós nos livramos do rebaixamento muito mais por causa desses caras aí citados do que por um inconstante atacante que se acha o máximo, que se preocupa somente em fazer o dele e não tem espírito coletivo. Mas graças a Deus ele consegue fazer o dele, pena que morre em campo depois. Valeu e desculpa, mas essa é a minha opinião.

Não tenho nenhum pudor de trazer os moços. Na verdade, delirei quando anunciaram a “subida” do Raul e do Patrick. Não tenho medo de “queimar os garotos” como dizem por aí. Se você perguntar a eles aposto que vão dizer que estão loucos para jogar. E se forem queimados por más atuações, pena, mas é risco do negócio. Antes ser queimado aqui, do que outro time ganhar algo com eles.

E quanto a nós, torcedores, quando estes garotos forem vendidos, não adianta chorar como comadres que reclamam do quanto pagaram para consertar suas máquinas de lavar.


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