Daniel Machado

Daniel Lopes Machado, 46 anos, é empresário e consultor em sistemas de informação. Considera os versos da sexta estrofe do hino atleticano, escritos por um ex-jogador, imortalizado em uma espontânea demonstração de amor ao clube, a mais bela poesia de todos os tempos: "A tradição, vigor sem jaça... Nos legou o sangue forte... Rubro-negro é quem tem raça... E não teme a própria morte!" Foi colunista da Furacao.com entre 2008 e 2010.

 

 

Jotinha, Marcinho e um regulamento esdrúxulo

06/02/2009


JOTINHA

O caçulinha nasceu às custas de uma empresa que se orgulhava desta terra. O Paraná Banco provava seu compromisso através do próprio nome e emprestava dinheiro aos servidores públicos e aposentados. Foram os juros pagos pelo suor do trabalho dos paranaenses que financiaram o time de futebol. Era Malutrom, depois J. Malucelli e agora, em uma operação de compra e venda de sua própria alma, entitulou-se Corinthians. Foi assim que uma família renegada por seus filhos (a de todos os cidadãos deste estado) perdeu mais alguns pródigos frutos, mesmo que ainda um pouco verdes, distantes da maturidade.

Azar deles. Ainda com os paninhos nas mãos, usados para limpar a casa para a chegada dos novos papais paulistas, tomaram uma surra de três chineladas do ex-irmão mais brilhante, rubro-negro, este sim um paranaense digno e irredutível.

MARCINHO

Sabe quando teus amigos vão te apresentar a amiga de uma amiga? "É gata?" Você humildemente pergunta, sem preconceitos, só para dosar a quantidade certa de perfume. Vem a resposta. "Olha... ela é muuuito simpática!" Aí você desanima, passa só o desodorante e vai para o encontro. Se ela fosse uma deusa, para início de conversa, ela não precisaria de uma forcinha para sair acompanhada. E quanto a você, amigo, se fosse o James Bond, pode ter certeza que ninguém a empurraria para o seu colo. Beleza não é fundamental, mas é quase.

Craque de futebol é igual a mulher bonita. Todo mundo quer, mas só alguns podem ter. É possível constituir um casamento feliz com uma feia, assim como é possível montar um time competitivo só com pernas-de-pau. Acontece que é imensamente mais difícil. Com o Marcinho em campo, fica muito mais fácil. O Atlético jogou bem o seu charme para conseguir trazê-lo. Enquanto a maioria acertaria aquele chute do terceiro gol uma vez em cem tentativas, o cara vai acertar uma em duas.

UM REGULAMENTO ESDRÚXULO

Reza o capítulo II do regulamento do campeonarto paroquial, que trata do sistema de disputa, o seguinte: "Art. 9º – Na segunda fase do campeonato, as 8 (oito) EPD classificadas se enfrentam em turno único, com mando de campo da EPD que teve melhor classificação geral na fase anterior do campeonato. Parágrafo único – Todas as EPD iniciam a segunda fase com pontos zerados, excetuando-se a EPD melhor classificada na primeira fase, que inicia a segunda fase com 2 (dois) pontos, e a segunda EPD melhor classificada na primeira fase, que inicia a segunda fase com 1 (um) ponto. Art. 10 – Será campeã a EPD com maior número de pontos acumulados na segunda fase do campeonato e vice-campeã aquela que obtiver a segunda maior soma de pontos na segunda fase." EPD é a sigla de um termo chique para os clubes: Entidade de Prática Desportiva.

Não preciso ser advogado ou juiz graduado. A priori e a posteriori, não preciso de data venias e habeas corpus para observar o stricto sensu. Consta ali, de forma cristalina, impedindo interpretações dúbias, que o melhor classificado na primeira fase tem o mando de campo em todas as partidas da segunda fase.

Isto significa que o primeiro colocado joga sete partidas em casa e ainda leva dois pontos de lambuja. O segundo colocado joga seis em casa e leva um ponto extra. O terceiro joga cinco em casa e não leva nenhum ponto. O quarto joga quatro em casa. O quinto, três. E assim por diante, até o pobre infeliz do oitavo classificado, que disputará todos os jogos nos estádios dos adversários. Parece óbvio que o time campeão da primeira fase só não será o Campeão Paranaense de 2009 se não quiser. Se assim for, o Atletiba que decide o campeonato já passou.

Resta agora saber se os responsáveis pela Federação Paranaense de Futebol honrarão o que escreveram. Acho difícil. O mais provável é que mudem as regras no meio do jogo e assinem um atestado de incompetência.


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