Rafael Lemos

Rafael Fonseca Lemos, 49 anos, é atleticano. Quando bebê, a primeira palavra que pronunciou foi Atlético, para desapontamento de sua mãe, que, talvez por isso, tenha virado coxa-branca. Advogado e amante da Língua Portuguesa, fez do Atlético sua lei e do atleticanismo sua cartilha. Foi colunista da Furacao.com de 2007 a 2009.

 

 

Bota Raul!

01/02/2009


Amigos, mas que Atletiba chocho no campo dos xoxas! É bem verdade que não fui ao Pinga-Mijo. Vida real não é vídeo-game, vai que aquela merda cai e me faz sair da vida para entrar para a História bem antes do combinado? Tô fora! "Eu não sou besta pra tirar onda de herói, sou vacinado!", como dizia o genial Raul Seixas!

Não fui lá, mas vi tudo pelo canal PFC, tomando uma(s) cervejinha(s) gelada(s), na companhia fraterna dos bons amigos. Tomando uma cervejinha gelada e comendo "bananinha da costela", a segunda melhor coisa de comer que já se fez com a costela (a primeira foi obra de Deus, como vocês bem sabem).

Ele tirou uma costela do Adão, criou a Eva e ave: surgia a mulher, coisa linda, tenra, quentinha e bem bolada. A mulher, seja de que sabor for - loira, ruiva ou mulata - é sempre muito bem apreciada. "Vem cá mulher deixa de manha, a minha cobra quer comer sua aranha", como disse Raul.

Já citei aí duas vezes o Raul Seixas e me lembrei de que sempre que a coisa anda chocha no boteco algum gaiato grita lá do fundo "Toca Raul!", pois Raul é garantia de coisa boa, quando as coisas andam chatas e mornas demais.

Certa vez eu estava com o pessoal da faculdade num boteco onde a trilha sonora estava caída demais. O cabeludo lá, de baquinho e violão, a nos encher o saco com "Leãozinho" do Caetano Veloso, depois "Saigon" do Emílio Santiago, daí veio Leila Pinheiro, Guilherme Arantes e Djavan.

Eu já tinha tomado meia dúzia de nove cervejas e tinha jurado que se o cara emendasse Maria Bethânia ou Marina eu iria gritar "Toca Raul!".

Amigos, não deu outra. Mal o cara acabou de tocar "Samurai" e agradecer as (poucas) palmas, e lascou, da Marina, "Eu te amo você", em assustadora versão acústica, meio bossa-nova, enfim, um pé no saco!

Gritei "Toca Raul!". Não fui ouvido, e insisti "Toca Raul, seu viado!". E como Raul não era executado, protestei "Toca Raul, filho de uma puta!", sendo retirado às pressas pelos amigos e amigas da faculdade, pois um grupinho GLS se ofendera com minhas críticas contra o Caetano Veloso, a Marina Lima e a Bethânia, além de terem desaprovado o trecho "Toca Raul, seu viado!".

Saí do boteco escoltado pelos camaradas e, antes de entrar no carro, ouvi severa reprimenda do meu primo "Porra, precisava ser tão inconveniente?", ao que respondi "Porra, custava o cabeludo tocar Raul? Raul é muito melhor que Caetano, Djavan e Marina Lima juntos".

Nunca mais voltei àquele bar e me lembro que, naquela noite, dormi ouvindo Raul Seixas, "só pra variar", e a última música que tocou, dizia mais ou menos assim:

Eu nunca cometo pequenos erros
Enquanto eu posso causar terremoto
E das tempestades já não tenho medo
Acordo mais cedo.

Eu nunca me animo de ir ao trabalho
Eu sou o coringa de todo baralho
Sou carta marcada em jogo roubado
A morte ao meu lado.

Eu sou o moleque maravilhoso
Num certo sentido o mais perigoso
Moleque da rua, moleque do mundo, moleque do espaço.

Quebrando vidraças do velho Ricardo
Nesta vizinhança sou filho bastardo
Com o meu bodoque sempre no pescoço
Eu exijo meu, eu exijo meu, eu exijo meu osso
eu exijo meu osso
eu sou o moleque maravilhoso.

Amigos, que Atletiba mais chocho no campo dos xoxas! Fazia tempo que eu não via um Atletiba tão mal jogado, tão pobre de emoções e de jogadas de gol. O placar de 0X0 chegou a ser elástico para um clássico que merecia ter acabado -1 para cada lado!

Seja como for, interessa-me analisar o nosso lado, tão-somente. Não houve destaques Rubro-Negros na partida, nem positivos e nem negativos, porém a questão da lateral-direita me chamou a atenção.

Alberto, prestes a completar 34 anos, não reúne mais condições físicas para atuar como lateral num time grande como o Atlético. Cracaço bola de prata em 1996, Alberto hoje não é nem sombra do lateral fabuloso que foi em sua primeira passagem pelo Atlético.

Na última quinta-feira, vi, na Arena, o jovem lateral Douglas Maia que, a julgar por aquela partida, não me parece um jogador capaz de fazer alguma diferença ou de trazer consigo qualquer fator de desequilíbrio.

Bem diferente, me parece ser o menino Raul, recém-apresentado à grande Torcida Atleticana por conta dos jogos (e que jogos!) da Copinha. Lateral de personalidade, força e técnica, o menino Raul está mais do que pronto para integrar o elenco principal do Atlético.

Entretanto, e não sei por que razão, o Atlético firmou posição de não promover agora nenhum dos atletas que, brilhantemente, sagraram-se vice-campeões da duríssima Copa São Paulo de Futebol.

Vá lá que promover todos os garotos seria exagero, mas não promover nenhum é, no mínimo, estranho! O Raul está pronto e pode, sim, integrar, a partir de amanhã, o elenco profissional do Atlético, com sobras!

Ademais, o campeonato paranaense é um excelente laboratório para que essa gurizada boa de bola seja lançada, aos poucos, sem o perigo de serem queimados numa eventual promoção durante o campeonato brasileiro, este, sim, campeonato que não admite ensaios, nem erros.

Por que não promover, agora, dois ou três guris que brilharam na Copa São Paulo de Juniores? Vejam o exemplo que dei de nossa lateral-direita, inegavelmente, ela está meio caída! Está ruim das pernas! Fazer o quê? Bota Raul! Bota Raul, porra! Deem uma chance, no time de cima, pro garoto, pois como Raulzito dizia:

"Eu sou o moleque maravilhoso/Num certo sentido o mais perigoso/Moleque da rua, moleque do mundo, moleque do espaço".

E, entre nós, o Raul está melhor do que o Alberto e o Douglas Maia juntos...



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