Rafael Lemos

Rafael Fonseca Lemos, 49 anos, é atleticano. Quando bebê, a primeira palavra que pronunciou foi Atlético, para desapontamento de sua mãe, que, talvez por isso, tenha virado coxa-branca. Advogado e amante da Língua Portuguesa, fez do Atlético sua lei e do atleticanismo sua cartilha. Foi colunista da Furacao.com de 2007 a 2009.

 

 

E eis que está de volta a Alegria

30/01/2009


Ontem, estive na Arena em companhia de bons amigos. No início, éramos cinco. Depois um se perdeu, outros vieram se juntar ao grupo e, no final das contas, éramos 14 mil amigos, irmanados numa festa que há tempos não se via na Baixada.

Sem o peso do rebaixamento que tanto nos oprimiu nos últimos meses, pudemos assistir ao Atlético com olhos renovados, também, pela esperança.

Após o terceiro gol, desliguei-me da partida para observar os torcedores, suas conversas e suas reações – observar a torcida e suas manifestações é dever de quem escreve e de quem faz futebol.

Há tempos não se via na Arena a sintonia que ontem foi vista e vivida.

Torcedores apontavam para o gramado e iam dando nomes àqueles que eram apenas números envergando a bela camisa. “Aquele é o Jairo”, “Olha que domínio do Marcinho”, “Daquele lado é o Douglas Maia”. Apontavam para o gramado e iam desfiando narrações repletas de comentários “Olha o Valência!”, “É um leão, mas de cabelo cortado ficou ainda mais feio”, “Leão sem juba é mais feio que bater na mãe!”, “Lá vem o Lima!”. E quando o Lima veio, a massa aprovou no canto uníssono: “Lima! Lima! Lima!”.

Alegria na Arena quase lotada. Desligado do jogo, lembrei-me das estrofes finais de “A Flor e a Náusea”, do Drummond:

(...)

Uma flor nasceu na rua!
Passem de longe, bondes, ônibus, rio de aço do tráfego.
Uma flor ainda desbotada
ilude a polícia, rompe o asfalto.
Façam completo silêncio, paralisem os negócios,
garanto que uma flor nasceu.

Sua cor não se percebe.
Suas pétalas não se abrem.
Seu nome não está nos livros.
É feia. Mas é realmente uma flor.

Sento-me no chão da capital do país às cinco horas da tarde
e lentamente passo a mão nessa forma insegura.
Do lado das montanhas, nuvens maciças avolumam-se.
Pequenos pontos brancos movem-se no mar, galinhas em pânico.
É feia. Mas é uma flor. Furou o asfalto, o tédio, o nojo e o ódio.

Faltavam cinco minutos para terminar a partida quando, enfim, voltei minhas atenções para o campo. Vi um Atlético organizado jogando diante de sua inflamada torcida. Na minha mente, as estrofes finais do poema continuavam ecoando, provavelmente para me levar à conclusão de que, ontem, um time nasceu.

A escalação definitiva ainda não está nos jornais, a temporada está só começando, mas um time nasceu. Ainda está em formação, mas é um time. Furou o asfalto, o tédio, o nojo, o ódio, a descrença e a antipatia. Reacendeu a esperança e devolveu a alegria. Ontem, um time (re)nasceu, sob os olhares de 14 mil Atleticanos, irmanados numa festa que há tempos não se via na Baixada.




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