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Daniel Machado
Daniel Lopes Machado, 46 anos, é empresário e consultor em sistemas de informação. Considera os versos da sexta estrofe do hino atleticano, escritos por um ex-jogador, imortalizado em uma espontânea demonstração de amor ao clube, a mais bela poesia de todos os tempos: "A tradição, vigor sem jaça... Nos legou o sangue forte... Rubro-negro é quem tem raça... E não teme a própria morte!" Foi colunista da Furacao.com entre 2008 e 2010.
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Dinheiro, cascalho, bufunfa
23/01/2009
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Com o perdão dos astrônomos, o que faz o mundo girar, na verdade, é o dinheiro. Cascalho. Bufunfa. Trabalhamos pelo bendito, gastamos o maldito. É a salvação e a tentação.
Quem está preocupado com a crise de alimentos, ou com a energética? Só se fala na financeira. Dificuldade de crédito, desvalorização da moeda, desaceleração econômica, corte de custos e de produção, é um Deus-nos-acuda sem tamanho. O novo presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, já anunciou um pacote bilionário para afastar os bancos da beira do abismo.
Engraçado é que o futebol parece imune. O cidadão deixa de viajar com a famÃlia, compra patinho ao invés de mignon, adia a troca da Kombi, até cancela o plano de saúde e vai para a fila do SUS, se for preciso, mas não deixa de consumir futebol. Compra a camisa oficial, assina o pay-per-view e vai ao estádio gritar sua paixão. A crise que se exploda.
Em tempos de vacas magras, para ter Kaká, oferecem ao Milan quase o dobro do maior negócio já realizado. Seu salário, caso fechassem o acordo, compraria dez Ferraris por mês, fora os direitos de imagem. O novo contrato entre Globo e Clube dos 13 para o triênio 2009-2011, no valor de mais de R$ 450 milhões anuais, é 60% superior ao assinado anteriormente. No Paraná, Atlético e RPC enfim chegaram a um denominador comum após o aumento da cota de transmissão do campeonato estadual.
É o mesmo dinheiro que gira o mundo aquele que gira a bola. No Citibank ou no BESC, no Old Trafford ou na Estradinha, o que fala mais alto é o dinheiro. Cascalho. Bufunfa.
Com cinquentão na mão, posso torrar tudo em picolé de maracujá, ou posso pagar a primeira parcela de um carrinho de sorvetes e me tornar um jovem e ambicioso empresário praiano. Tem gente que gasta, tem gente que investe. O Atlético não só gasta, mas também investe. Esta é a polÃtica dos homens e das organizações de sucesso.
O São Paulo é a jóia dos comentaristas. Um modelo de marketing e de gestão esportiva, segundo eles. O clube paulistano tem lá os seus méritos, mas qualquer discussão ponderada sobre quem é melhor ou pior, administrativamente, deve levar em conta o faturamento. É a balança que falta aos crÃticos que minimizam o Atlético, comparando-o ao São Paulo. É a sensatez perdida dos que vangloriam em demasia o São Paulo, comparando-o ao Atlético.
R$ 150 milhões é o orçamento deles. R$ 50 milhões o nosso, três vezes menor. A distância entre um clube e outro é de R$ 100 milhões. São oito zeros e uma diferença razoável no planejamento anual.
Agora, alguns exercÃcios de suposição. Se o Atlético faturasse três vezes mais, do que seria capaz? Ou então, com um orçamento três vezes menor, como o nosso, será que o São Paulo faria o que fazemos? Do centro de treinamentos ao estádio, do goleiro ao ponta-esquerda, nós não somos três vezes piores do que eles. Parece óbvio, mas ninguém se dá conta, talvez pelo eixo-rio-são-paulo-centrismo dos brasileiros e autofagismo dos paranaenses.
Definitivamente, futebol não se faz sem dinheiro. Cascalho. Bufunfa. Mas ainda bem que usamos melhor o nosso. Não só gastamos para manter um time e disputar tÃtulos, mas investimos em uma parcela maior de visibilidade no cenário nacional e internacional, e consequentemente na ampliação de nossas receitas. Essas coisas se fazem aos poucos, com paciência, através de um longo caminho de altos e baixos. Frequentemente somos iludidos pelo imediatismo e queremos que o Atlético suba mais que um degrau a cada pernada. Talvez, só uma geração de rubro-negros que ainda não nasceu possa enxergar a distância que existe entre o que somos e o que éramos.
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