Daniel Machado

Daniel Lopes Machado, 46 anos, é empresário e consultor em sistemas de informação. Considera os versos da sexta estrofe do hino atleticano, escritos por um ex-jogador, imortalizado em uma espontânea demonstração de amor ao clube, a mais bela poesia de todos os tempos: "A tradição, vigor sem jaça... Nos legou o sangue forte... Rubro-negro é quem tem raça... E não teme a própria morte!" Foi colunista da Furacao.com entre 2008 e 2010.

 

 

Você está otimista ou pessimista? – parte 2

16/01/2009


Um amigo me disse que copio o David Coimbra. É mais ou menos verdade. Não é imitação, é inspiração. Mas se esse meu amigo acha que é copiagem, então é. Eu copio o David Coimbra e ponto final. Aos que nunca ouviram falar no dito cujo, pesquisem no centro de informações cibernéticas, o Google, e descubram quem é o cara. Vale o tempo dispensado.

Até onde sei, foi ele quem inventou essa brincadeira de começar uma história para o leitor terminar. E assim fiz. Imitei-o, quero dizer, inspirei-me na idéia. Queria saber se a nação rubro-negra está otimista ou pessimista.

Acontece que houve um problema técnico. Eu e outros colunistas não recebemos as mensagens dos formulários de contato, aquele ali abaixo do texto. Aos que escreveram em vão, minhas desculpas. Normalmente, retorno todas as mensagens, sem exceção, mas ainda procuro o milagroso botão que responde ao email que não chegou. Como sempre, a culpa é do sistema.

O defeito foi solucionado e ontem recebi a honrosa participação do Dr. Guilherme Andrade Coelho, que por acaso conheço, otimista incorrigível, dono de um bom-humor invejável, que ostentaria elegantemente até mesmo um terno de veludo. Entre aspas, eis a sequência do diálogo, que se passa no fim deste ano, quando o nosso protagonista retoma a confiança e impressiona um certo londrino de abotoaduras.

"O meu Paranaense foi bem modesto no começo do ano, contratou poucos reforços e largou meio capenga no estadual. Lembro do primeiro jogo lá em Paranaguá, eu e meus amigos comemoramos o empate aos 48 do segundo como se fosse vitória. Dois empates seguidos em casa fizeram Os Fanáticos relembrar do Petraglia e daquele lugar para o qual volta e meia ele é encaminhado. O ataque não funcionava. Marcinho, até então a grande contratação, sentia uma lesão muscular e não jogava. A defesa falhava e não tínhamos nem o Alan Bahia para bater os pênaltis e nem o Netinho para as bolas paradas.

Classificamos para a segunda fase e melhoramos um pouco, até aquele primeiro jogo da semifinal, que com dois do recuperado Marcinho, outros dois do incansável Ferreira e o primeiro gol do Preá, metemos 5 a 1 nos verdes. A volta foi só para cumprir tabela. Fizemos um churrasco lá no Amarelo's Bar, na calçada mesmo, cervejinha, capa de chuva e lá fomos nós pro Couto Pereira celebrar.

O título estadual sobre o Toledo, time de melhor campanha, foi tranquilo, mas comemorado na casa do adversário, com direito a churrasco em Braganey para dar uma aquecida. Serviu também para nos esquecermos da Copa do Brasil, pois depois de passar pelo Corinthians, mesmo com o Ronaldo de volta à velha forma, perdemos nos pênaltis para o Goiás e deixamos escapar um título que parecia possível. Mas se o Gaciba, sempre ele, não tivesse expulsado o Marcinho lá em Goiânia, tenho certeza que o título teria sido nosso. Sorte do Inter...

O Brasileiro foi bom. Começamos com a festa de inauguração da Arena, que esteve lotada todo o ano. Depois de boas vitórias em casa, alguns tropeços inexplicáveis fora, mais duas sapatadas nos coxas (nem o Heber deu jeito desta vez), aquele jogo memorável em Floripa em que o He-man arrebentou o Avaí, o frustrante empate na Arena com o rebaixado Santo André nos tirou da briga pela Libertadores. O sétimo lugar ficou de bom tamanho para quem quase caiu um ano antes, mas deixou um gostinho de que poderia ter sido melhor.

Só que mesmo quase caindo em 2008, fomos para a Sulamericana. Como jogamos bem! Fomos gigantes. Duas vitórias épicas sobre o Boca fizeram um grande amigo meu cortar a pulseirinha do tornozelo que ele orgulhosamente ostentava havia mais de dez anos. O Ilan provou definitivamente que foi a melhor contratação do ano e o garoto Raul, que já nos tinha trazido o inédito título da Copinha São Paulo, foi premiado com uma belíssima atuação que lhe rendeu aplausos até de Maradona. Você é incapaz de imaginar a festa que fizemos na capital portenha. A Casa Rosada virou rubro-negra! Na final, contra o rápido time do Bolívar, encaramos a altitude como se estivéssemos em Guaratuba. Suada vitória por 2 a 1, que com o empate em 2 a 2, na nossa casa, permitiram a comemoração do século. Ô finalzinha suada. Nada pode ser fácil para nosotros. Sorte que temos Ilan, He-man, Marcinho e companhia, que temos raça e não tememos a própria morte e não nos abalamos com os dois gols tomados em menos de dez minutos. Buscamos o empate ainda no primeiro tempo e mesmo jogando bem toda a segunda etapa, Galatto mostrou porque a torcida tanto pediu o esforço da diretoria para mantê-lo: defesa milagrosa a cinco minutos do fim, que fez meus já poucos cabelos rarearem.

Quem se importa se a invasão do gramado vai nos custar o mando em algumas partidas, multas e sanções impostas pela Conmebol? O ano que começou capenga lá na Estradinha terminou em festa na Buenos Aires. Pena que para este ano que se avizinha perderei a companhia de grandes amigos coxas no meu futebol semanal de terça. Em 2010, estarei mais chato do que nunca..."
O gringo, hipnotizado pela vivacidade e intensidade do relato, faz um bom julgamento do Dr. Coelho e assina o contrato milionário. Em 2010, ele estará mais chato do que nunca, riquíssimo, desfilando de caranga importada. Doará o terno de veludo e o blazer jeans. Manterá, no entanto, as bermudas xadrezes e as listradas, que já são tendência e logo estarão na moda. De resto, tudo novo. Debaixo do novo Armani, o novo manto rubro-negro, com novo patrocinador e novo bordado de uma estrela.


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