Rafael Lemos

Rafael Fonseca Lemos, 49 anos, é atleticano. Quando bebê, a primeira palavra que pronunciou foi Atlético, para desapontamento de sua mãe, que, talvez por isso, tenha virado coxa-branca. Advogado e amante da Língua Portuguesa, fez do Atlético sua lei e do atleticanismo sua cartilha. Foi colunista da Furacao.com de 2007 a 2009.

 

 

Fogo-Amigo? Tô fora!

12/01/2009


Diante da tevê, eu e meu irmão, Flávio Lemos. Aparece a Gisele Bündchen e minha exclamação é quase que automática “Vai ser gostosa assim lá na casa do caralho!”. Em resposta, o Flávio disse “Não acho! Tem mulher melhor!”.

- Como é que é, Flávio? Você não acha a Gisele Bündchen gostosa?
- Não é que eu não ache, mas tem coisa melhor. Sou mais a Adriana Lima!
- Você está maluco! A Gisele (percebam a minha intimidade com ela, chamo só de Gisele) é muito mais gostosa!
- Rafael, é a minha opinião, certo?
- Maluco!

Emputecido, troco de canal. Aparece a Carla Vilhena, minha deusa, apresentando o Jornal Nacional e minha exclamação é imediata “Gostosa! Não sei como uma mulher dessas fica com aquele tal de Chico Pinheiro!”. E o Flávio, de novo “Sou mais a Patrícia Poeta! Morena boa!”.

- Ah, Flávio, você está de sacanagem comigo! Patrícia Poeta mais gostosa do que a Carla Vilhena? Você está maluco, irmão! A Matemática está cozinhando seus miolos, só pode ser!
- Ué? Vai me dizer que a Patrícia Poeta não é mais gostosa? Pára, Rafael! Esse negócio de escrever colunas é que matou teu par de neurônios, definitivamente!
- Piá doidão!

Troco de canal, de novo. Pelé na tela, fazendo misérias! Eu sou fã do Rei desde sempre, mas o Flávio implica com o Negão. Só de sacanagem, provoco:

- Eis à sua frente Pelé, o eterno Rei Republicano! Gênio, inigualável e insubstituível. 1.091 gols só pelo Santos, 3 Copas do Mundo, a primeira com 17 anos!
- Ah, Rafael, naquele tempo o futebol era outro. Tinha espaço, jogo em câmera lenta, sem marcação e tem outra, você só viu o Pelé jogar em reprises, aí só botam mesmo os melhores momentos.
- Flávio, você endoidou de vez. Vou chamar o SAMU, o SIATE e encomendar a camisa de força, daquelas em que a gravata fica nas costas!
- Atleticano xarope!
- Coxa-branca burro!

E fomos cada um pra um lado e só viemos a nos encontrar na hora da janta, umas 2 horas depois do ocorrido. Orgulhosos, estávamos ainda com raivinha um do outro e a conversa ia só na base dos monossílabos.

- Vamos jantar, Flávio?
- É né!
- Que que tem pra comer?
- Sei lá. Miojo!
- Não gosto.
- Tem sopa de pacote.
- Sopa é comida de doente, Flávio.
- Então não tem nada!
- Peço uma pizza?
- Pode ser.
- Que sabor você quer?
- Pra mim pode ser mexicana.
- Minha metade vai ser portuguesa.
- Portuguesa, Rafael? Cheia de cebola! Não!
- E mexicana, então, cheia de pimenta. Meu refluxo laringo-faríngeo vai me lascar todo, Flávio!
- Mexicana é melhor!
- Portuguesa!
- Pare, Rafael!
- Pare você, piá!

Jantamos miojo e sopa de pacote, em frente à tevê. A programação estava uma merda. Botei um dos DVDs dos Trapalhões, presente que ganhei do Flávio há um mês. Na tela, Trapalhões em reprise. Um quadro melhor do que o outro. De repente, dois caras sisudos e orgulhosos estavam, uma vez mais, irmanados num só sorriso, numa só gargalhada. Explodia na tela:

“Papai eu quero me casar
Pois minha filha ocê diga com quem
Eu quero me casar com o Marlon Brando
Com o Marlon Brando ocê não casa bem
Por quê, papai?
O Marlon Brando mantegou a Maria Scheneider e depois vai
amantegar ocê também!”


- Bom pra caralho, né, Flávio?
- Cara, bom pra caralho!
- Você sabe que eu também acho a Adriana Lima uma tesuda?
- É, mas a Gisele Bündchen também vai que é uma beleza, né? Tenho que admitir, Rafael.
- E a Carla Vilhena?
- Meio coroa, mas é boa, concordo!
- Sem esquecer da Patrícia Poeta!
- Ô, mas é claro!
- E aquele drible do Pelé pra cima do Mazurkievicz, na Copa de 70?
- Pintura! Pintura!


E ficamos, noite adentro, assistindo aos Trapalhões, em reprise, rindo do quarteto, rindo à toa, pois a vida é boa, e curta demais, pra tanta carranca e tanto mau humor.

E eis que escrevi tudo isso para chegar a essa grande, e sábia, conclusão: a vida é boa, e curta demais, pra tanta carranca e tanto mau humor. Ocorre que, ultimamente, tenho lido neste sítio coisas que não me agradam muito, não.

“Sílvio Toaldo, o Rei da Crítica destrutiva”, “Resposta a Barrionuevo”, outro dia foi um leitor que desancou o cacete em mim, pois escrevi sobre truco e cerveja, uns nos atacam por sermos petraglistas, outros por sermos anti-Petraglia. Se incentivamos o time à beira do rebaixamento é porque tapamos o sol com a peneira, se criticamos é porque não somos atleticanos. Amigos, por que há tanto azedume?

Como escreveu Guimarães Rosa “Enfim, cada um o que quer aprova, o senhor sabe: pão ou pães, é questão de opiniães… O sertão está em toda parte”. (Riobaldo Tatarana Urutu Branco, em Grande Sertão: Veredas).

Então, queridos amigos, tudo se resume às “opiniães” e, sobretudo, ao respeito que devemos ter às "opiniães" de cada um, venham elas ao encontro ou de encontro às nossas convicções.

Neste site, veículo democrático desde sempre, o Atlético está em toda parte, independente das opiniões. Este site, democrático por excelência, é fruto dos esforços dos Colunistas, dos Jornalistas, dos Leitores e de outros tantos apaixonados que atendem pelo nome de Atleticanos.

Assim, queridos leitores, não deve haver espaço para o fogo-amigo, sempre tão desastroso. Muito melhor, penso eu, é concentrarmos nossas forças em prol do objetivo maior que é o Atlético e dirigirmos nossas baterias contra os inimigos, que não nos faltam, e que fazem questão de detonar nosso Atlético em todos os espaços que lhes são abertos.

Todos nós somos Atleticanos, independente das opiniões. Erramos e acertamos por força de nossa natureza (condição) humana, mas que ninguém duvide: dentro de cada um de nós (Daniel Machado, Sílvio Toaldo, Ricardo Barrionuevo, Juarez Villela, Rodrigo Abud, Rafael Lemos, dentre outros tantos “loucos”) bate um coração vermelho e preto, que pulsa o sangue forte, sangue que nos faz irmãos, irmãos por parte do Atlético, irmãos que não se deixam separar, irmãos que não podem – jamais – se separar!

P.S.: Só peço a Deus que a Edith não leia esta coluna, principalmente o trecho "Aparece a Gisele Bündchen e minha exclamação é quase que automática: Vai ser gostosa assim lá na casa do caralho!”.


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