Rafael Lemos

Rafael Fonseca Lemos, 49 anos, é atleticano. Quando bebê, a primeira palavra que pronunciou foi Atlético, para desapontamento de sua mãe, que, talvez por isso, tenha virado coxa-branca. Advogado e amante da Língua Portuguesa, fez do Atlético sua lei e do atleticanismo sua cartilha. Foi colunista da Furacao.com de 2007 a 2009.

 

 

Nome não é nada

30/12/2008


Apesar de minha timidez mórbida, tenho inúmeros amigos e a maioria deles é gente boa e cordial. Se falei em maioria gente boa é sinal de que alguns, embora meus amigos, são grandes filhos da mãe (percebam que não escrevo mais palavrões na coluna, em face dos puxões de orelhas que recebi).

Corria o ano de 2003 e, certo dia, aparece-me um amigo contando suas novidades.

- Daí, Rafael, tudo beleza?
- Beleza.
- Cara, tô saindo com uma menina que é o bicho!
- Tão feia assim?
- Nada! Uma deusa! (sim, “é o bicho” significa uma deusa, mas eu andava, à época, meio por fora das gírias).
- Mas que maravilha!
- Maravilha, mas tem um problema.
- Qual?
- O nome dela!
- O nome?
- Sim, o nome!
- Qual é o nome da moça?
- Úrsula!

Pois então. O nome da moça era Úrsula e, de pronto, não vi nisso nenhum problema. Intrigado, perguntei ao bom amigo:

- Mas qual é o problema de a moça se chamar Úrsula, ó bom amigo?
- Como “qual o problema de a moça se chamar Úrsula”, Rafael? Você não percebe?
- Amigo, se percebesse não estaria te perguntando, certo?
- Rafael, Úrsula é o tipo do nome que não admite apelido, este é o problema. E todo mundo sabe que um namoro só vai pra frente quando o casal encontra, entre si, apelidos!

Diante da tese, olhei para o companheiro com a expressão de quem dissesse “Cara, você não é normal!” e quis saber mais detalhes sobre a moça, afinal um nome, apenas, não me parecia o bastante para o rompimento de um namoro iniciado há tão pouco tempo.

- Mas, tirando o nome, o que a Úrsula tem a lhe oferecer, ó aflito camarada?
- Ah, a Úrsula é linda! Formou-se em Direito, estuda para ser Juíza, tem seios fartos e um bumbum arrebitado (escrevi bumbum, notem, pois não escrevo mais palavras de baixo calão!), enormes olhos verdes, boca carnuda, longos cabelos loiros e um sorriso branco como a neve que recobre os vales europeus durante os invernos mais rigorosos. O problema é só o nome: Úrsula!
- Amigo, uma moça dona de tantos atributos, e você implica com um detalhezinho como o nome?
- Rafael, não tem jeito! Fosse Patrícia e virava Paty (falando em Patrícia, um abraço ao meu bom amigo Gustavo!); fosse Daniela e virava Dani; Gisele virava Gi; e até se fosse Jucicleide virava Ju. Mas Úrsula? Não tem como! Vou chamá-la do quê? Ú? Ur? Sula? Não dá. Vou acabar o namoro e alegar que o problema sou eu. Assim será!

Dito e feito. Dois dias depois, o namoro estava encerrado. Posteriormente, fiquei sabendo que o rompimento se deu numa das mesas do El Sombrero e que enquanto a Úrsula chorava, copiosamente, meu amigo tentava amenizar a coisa “São apenas dois anos! Volto de Estocolmo e a gente fica noivo, mas não posso perder esse Mestrado, afinal de contas é o nosso futuro!” - detalhe é que esse meu amigo não tinha nem o Ensino Médio completo! Canalha!

Por causa do nome, o aparvalhado amigo perdeu de ficar com uma moça que se formou em Direito, que hoje deve ser Juíza, dona de seios fartos e um bumbum arrebitado, enormes olhos verdes, boca carnuda, longos cabelos loiros e um sorriso branco como a neve que recobre os vales europeus durante os invernos mais rigorosos. Abriu mão de tudo isso só por causa do nome Úrsula e da dificuldade de encontrar-lhe um apelido bonitinho, desses bem mimosos que costumam ser criados pelos casais apaixonados.

E eis que escrevi tudo isso para chegar ao efervescente caso “Jorge Preá”. De fato, o epíteto “Preá” não é a coisa mais bonita a se ligar a um nome. A exemplo de Walter Minhoca, Jorge Preá é um nome que, por si só, provoca risos e desconfianças.

Todavia, meditem comigo: se Édson Arantes do Nascimento recebesse o apelido “Édson Tatu”, e não “Pelé”, teria rendido menos dentro dos campos? Claro que não! Pelé seria o Rei do Futebol mesmo se o chamassem de “Édson Tatu”, “Edinho Zoiúdo” ou “Dedezinho Mineiro”. Esteja claro que nem de longe quero comparar Jorge Preá ao Pelé, afinal de contas minha loucura ainda não chegou a tanto.

O pepino é que andam zombando do menino Jorge Preá só por conta do seu inusitado apelido e isso é errado. Riem dele, mas nem o viram jogar! Debocham do moço pelo simples fato de ele trazer consigo “Preá”, mas se esquecem que o Presidente é “Lula” e tem feito um serviço de primeira no Planalto; que o Paulo é “Coelho” e vende livros de montão; que o “Carneiro” Neto é um cronista esportivo fabuloso e que o único bicho que faz feio e merece vaias é o Airton “Cordeiro”.

Destarte, prezados Amigos-Leitores, deixem primeiro o Jorge Preá mostrar a que veio e aí depois a gente decide se abre a temporada de caça ao Preá ou se o elevamos à condição de ídolo atleticano – tomara! – afinal de contas até o Alexandre é “Pato”!

P.S.: Até que enfim consegui escrever uma coluna sem palavrões! A todos os queridos Amigos-Leitores, o meu cordial abraço e votos de um 2009 do caralho!


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