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José Henrique de Faria
José Henrique de Faria, 74 anos, é economista, com Doutorado em Administração e Pós-Doutorado em Labor Relations nos EUA. Compareceu ao primeiro jogo do Clube Atlético Paranaense em 1950, no colo de seu pai. Seu orgulho é pertencer a uma famÃlia de atleticanos e ter mantido a tradição. Foi colunista da Furacao.com entre 2007 e 2009.
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Encerradas as eleições no Clube Atlético Paranaense, como torcedor e sócio, desejo ao Geara uma gestão bem sucedida à frente do Conselho Deliberativo. Espero que ele tenha autonomia para levar a termo as propostas apresentadas durante a campanha e não seja pressionado pela estrutura de poder instalada há anos no Clube. Esta eleição revigorou o Atlético Paranaense, obrigando o Clube a discutir seus projetos e prioridades. O Atlético Paranaense é outro a partir de agora. Organizou-se uma oposição que exercerá seus direitos de sócios e torcedores, que cobrará transparência nas ações administrativas e polÃticas, que manifestará suas concepções e que continuará lutando pela melhoria do Clube. Oposição não é torcer contra o Clube, mas torcer para o Clube. Oposição é estar em um lado oposto no que se refere à gestão do Clube, no intuito de torná-lo melhor. A oposição no Atlético Paranaense não é um pequeno grupo de descontentes, mas uma força polÃtica.
De fato, tem sido dito que a oposição perdeu de goleada. É preciso esclarecer melhor. O Atlético Paranaense, nestas eleições, contava com um colégio eleitoral composto por cerca de 1.730 eleitores. Considerando o que diz o Estatuto, em que o eleitor vota conforme o número de cadeiras que possui, aà incluÃdos os camarotes, o total de votos é de 3.379, ou seja, em média 1,95 votos por eleitor. Nesta eleição foram computados 2.177 votos, sendo que a chapa de situação obteve 1.665 votos, contra 507 votos da chapa de oposição. Foram computados ainda onze votos em branco e quatro nulos. Para quem enxerga o resultado nesta perspectiva, a chapa da situação teve 77% dos e a oposição teve 23% votos válidos, o que parece um apoio inconteste à situação. A oposição, que foi chamada, inclusive, de "grupo talebã", em uma referência indelicada ao processo que se quer democrático, não é inexpressiva como se acredita. Avaliando a situação por número de eleitores, o panorama não é assim tão favorável à situação como mostram os números de votos.
Convém notar que 25 eleitores, portanto, 1% destes, possuem mais de 300 votos, ou seja, 9% dos votos. Aà estão, principalmente, os camarotes, cujos proprietários, em sua maioria, são empresas, que em regra possuem negócios ou parcerias com o Clube. Adicionando-se ainda proprietários de quatro ou mais cadeiras, nota-se que 67 eleitores possuem 483 votos, ou seja, 4% dos eleitores detém 14,3% dos votos. A chapa de oposição não representou nenhum sócio com este perfil, além de não ter tido acesso às informações sobre o número de votos por eleitor a não ser no domingo, um dia antes das eleições. Por volta de meio dia, após uma ordem judicial entregue ao Presidente da Junta Eleitoral por um Oficial de Justiça, a lista completa foi formalmente entregue.
Analisando o perfil dos eleitores, podemos fazer uma avaliação bem diferente do que aquela que tem sido feita alhures. Compareceram à s urnas 1.179 eleitores, isto é, 552 eleitores deixaram de votar. Retirando os 15 votos entre nulos e brancos, foram 1.164 eleitores com votos validados. A chapa de situação teve o apoio de aproximadamente 65 eleitores que lhe conferiram em torno de 480 votos. Isto significa que 9,6% de seus eleitores foram responsáveis por 28,8% de seus votos. Calculando a média de votos por eleitor da chapa de oposição, chega-se ao valor aproximado de 1,04. Isto significa que os 507 votos recebidos correspondem a algo em torno de 487 votantes (eleitores). A situação teve 677 votantes, ou seja, a diferença foi de cerca de 190 eleitores. Isto significa que, em termos percentuais, a chapa de oposição teve o apoio de 42% dos eleitores que compareceram à s urnas, contra 58% da situação. É importante observar que os cerca de 65 eleitores possuem mais votos do que todos os eleitores da chapa de oposição, o que tornou nossa campanha vitoriosa, se for considerado que tivemos apenas uma semana de campanha e ainda enfrentamos diversas condições desfavoráveis. Estes dados que permitem tal análise também só se tornaram disponÃveis após o acesso à lista de votantes que a oposição obteve através de decisão judicial. Não estou aqui reclamando do resultado. SabÃamos das regras do jogo em termos de voto qualitativo e reconhecemos a vitória da chapa da situação segundo este critério. Mas, é preciso que fique claro que a vitória da situação não foi tão espetacular como parece, não foi de goleada como se fala.
Muitas providências devem ser tomadas para as próximas eleições no Clube Atlético Paranaense. Se o Estatuto exige que se faça um Plano de Negócios, o Clube deve oferecer aos que pretendem se candidatar todas as informações para que se elabore tal plano. Deve, igualmente, fornecer a lista dos votantes, o número correspondente de votos de cada eleitor, o tempo de associação e todas as demais informações importantes para que o pleito seja isonômico. Isto sem que se necessite requisitá-las à Junta Eleitoral ou ao Poder Judiciário. Os pré-candidatos poderão, então, avaliar se concorrerão ou não ao pleito. O Clube deve, do mesmo modo, se manter isento quanto às chapas, de forma que funcionários sejam impedidos de fazer campanha e de participar da campanha de forma ativa, exceto aqueles que são sócios. Nenhuma das chapas pode usar a estrutura do Clube ou ambas as usarão isonomicamente. O Estatuto, estranhamente, não esclarece o que é vida associativa e o significado do conceito de "cinco anos de vida associativa ininterrupta". As interpretações da Junta Eleitoral, nestas eleições, foram as de que sócios menores não tiveram "vida associativa" e que cinco anos significa "os últimos cinco anos antes da data das eleições": estas questões não deveriam ser objeto de interpretação se o Estatuto as tivesse definido.
Sobre o voto das empresas por preposto, é necessário uma reflexão mais acurada. Para as empresas, o valor pago pelos camarotes pode fazer parte de sua contabilidade como gastos com aluguel, o que diminui o valor sobre o qual incidirá o lucro tributável. Além do que, as empresas podem utilizar os camarotes como parte de sua polÃtica de marketing, isto sem se considerar o fato de que as mesmas têm negócios ou parcerias com o Clube. Esta situação não é a mesma que a das pessoas fÃsicas proprietárias de cadeiras. A pessoa fÃsica pode compor o Conselho, já a pessoa jurÃdica, a princÃpio, não poderá. É, portanto, urgente discutir se a condição de associado das pessoas jurÃdicas e fÃsicas é a mesma para fins eleitorais.
Dito isto, como candidato ao Conselho Deliberativo da chapa Atlético Mais Futebol, gostaria de agradecer de público a Nelson Fanaya, candidato da chapa ao Conselho Administrativo, pelo seu desprendimento, sua vontade, sua dedicação. Sou também muito grato a todos que participaram e que nos apoiaram, especialmente a este pequeno grupo que venceu todas as barreiras para viabilizar a disputa. Perdemos as eleições, mas ganhamos diante de todos os eleitores. Confesso que vivi talvez o meu momento mais feliz na vida polÃtica do Atlético Paranaense, por ter participado de um processo que inaugurou uma nova fase na história do Clube. Fiz parte de um grupo que não se intimidou, que mostrou que existe oposição no Clube, que combateu o poderio econômico, garantindo que existem pessoas disponÃveis para assumir sua gestão que não apenas os atuais ocupantes dos cargos.
Agradeço a todos os que estiveram trabalhando neste difÃcil combate. Aos que apoiaram desde o inÃcio, quando ainda ninguém acreditava, aos que pagaram caro por sua escolha e que se envolveram por amor ao Atlético Paranaense. Isto vale muito mais do que o que se faz por interesse, por dinheiro, por poder. O trabalho voluntário, idealista e dedicado dos jovens que vieram se somar à causa da oposição. Isto já não é uma vitória? Expresso meu agradecimento ao Carlos Eduardo Bley, que foi de uma ajuda extraordinária nos momentos decisivos, especialmente no sala de votação, em que trabalhou incansavelmente, com coerência, firmeza, autoridade e inteligência. Em nome dele, agradeço a todos os nossos valorosos fiscais, aos membros da diretoria da chapa, a todos os que colocaram seu nome à disposição para formarmos o conselho, ao apoio daqueles que ajudaram a suportar os custos muito modestos da campanha, mas que para nós foi fundamental. É importante também reconhecer que há, no Clube, funcionários exemplares e competentes que nos trataram com bastante gentileza. Um agradecimento especial à s torcidas pelas manifestações e pelo apoio efetivo. Estaremos juntos no processo, pois as torcidas são o próprio Atlético Paranaense.
Certamente, uma campanha se faz com mais tempo para um planejamento adequado, melhor estrutura e mais recursos. Mas, quem pode aperfeiçoar o processo somos nós e apenas nós. Quem pode fiscalizar para que o Atlético não se torne refém de polÃticas não esclarecidas somos nós e apenas nós, a oposição. Tudo o que parecer incompreensÃvel ou estranho deve ser esclarecido e é direito do sócio cobrar explicações. Se não há explicações, o que é estranho se torna suspeito e quanto mais não se esclarece, mais suspeito se torna. A função da oposição será a de uma permanente vigilância e cobrança. A função da direção será a de esclarecer. É assim que se constrói um clube. Não através de uma oposição gratuita, mas de uma oposição que tem um projeto, que possui uma concepção divergente, que será sempre atenta aos fazeres e promessas da administração, mas que sobretudo é composta por atleticanos e que nada fará para criar prejuÃzos de qualquer espécie ao Clube.
A oposição sabe o que quer e já se manifestou nas eleições. Continuaremos cobrando transparência na gestão do Clube, em todas as áreas, inclusive nas negociações com atletas, seja para ingresso no Clube, seja para a venda, em todas as categorias. Cobraremos a publicização do balancete com regularidade, a mudança na relação do Clube Atlético Paranaense com a imprensa, com as torcidas organizadas, com os sócios, com os demais clubes, através do diálogo, do tratamento respeitoso e cooperativo. De nossa parte, não haverá recusa ao diálogo com quem desejar conversar, mas não nos interessam aproximações com quem estabelecemos diferenças definitivas. Oposição sem hipocrisia.
Nós perdemos a eleição, mas não fomos derrotados. Como diz Chico Buarque, "você me corta um verso, eu escrevo outro". Nós fomos vencedores. Talvez eles não saibam disto ainda, mas saberão.
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