Daniel Machado

Daniel Lopes Machado, 46 anos, é empresário e consultor em sistemas de informação. Considera os versos da sexta estrofe do hino atleticano, escritos por um ex-jogador, imortalizado em uma espontânea demonstração de amor ao clube, a mais bela poesia de todos os tempos: "A tradição, vigor sem jaça... Nos legou o sangue forte... Rubro-negro é quem tem raça... E não teme a própria morte!" Foi colunista da Furacao.com entre 2008 e 2010.

 

 

Nem oito nem oitenta

05/12/2008


O caminho da sensatez é o do meio, não é o do oito nem o do oitenta.

Tem gente que acha que o Ferreira foi inconsequente ao dar aquele carrinho. "Um jogador rodado, de seu gabarito, não pode cometer tamanha infantilidade. Prejudicou todo o grupo. Deveria ser punido por Geninho e multado pela diretoria." Ouvi essa pérola no rádio, logo na segunda-feira, em tom autoritário. Parecia um perseguidor da Inquisição. Afinal, talvez seja mesmo mais fácil apontar os blasfemos do alto de um trono e declarar aberta a temporada de caça às bruxas.

Às vezes me incluo neste tipo de gente. Mas depois penso e percebo que as coisas não são tão simples assim.

Vi e revi o lance da expulsão por umas vinte e cinco vezes. A considerar os critérios da arbitragem durante a partida, definitivamente foi uma infração normal, no campo de ataque, passível no máximo de um amarelo. Mas aí o adversário rodopiou no ar, despencou e rolou três vezes no chão. A torcida do Timbu berrou e o Gaciba cedeu. Tirou a cartolina vermelha do bolso, encheu o peito e mostrou pra todo mundo, orgulhoso, quem era o astro daquele espetáculo.

Matou o time do Atlético, pois todos os contra-ataques passam pelos pés do colombiano. Depois, o apitador fez vistas grossas às faltas inteligentes de Bob Fernandes. Ignorou as entradas mais violentas (ou tão violentas quanto, na pior das hipóteses) da linha defensiva do Náutico. Lembro-me de pelo menos quatro jogadas similares, em que levaram pancada Rafael Moura, Netinho e Alan Bahia, este último por duas vezes. E deu no que deu.

Tem gente que acha que há uma conspiração contra o Atlético. Que homens de mala branca, preta e de todas as cores circulam impunemente pelos bastidores do futebol. Que há uma complexa teia de corrupção, da qual participam influentes e poderosos, cujo principal objetivo é nos prejudicar. "O juiz sabia direitinho quem ele deveria expulsar. Estava tudo encomendado." Esta voz de um torcedor era melancólica, recheada de tristeza e desilusão. E seguia: "E os coxas então? Venderam-se, abriram as pernas!" E previa um desastre, como a Mãe Dináh, desta vez à beira de um ataque de nervos: "Não é coincidência que escalaram o Gaciba de novo para a partida decisiva contra o Flamengo! Podem apostar, se alguém tropeçar na área do Furacão será pênalti!"

Às vezes também me incluo neste tipo de gente. Depende muito do humor, da hora e do dia. Mas depois penso e percebo que as coisas não são tão complexas assim.

Se existe ou não alguma podridão no futebol eu não sei. Só sei que se o Atlético está lutando contra o rebaixamento não é por conta do Coritiba, do Gaciba ou do Teixeira. A verdade é que não podemos depender dessa turma, muito menos da esperança que o Flamengo entregue o jogo para rebaixar o Vasco.

Por enquanto, a culpa é de todos e de ninguém, porque ainda não é hora de procurar culpados. Também não é hora para lamentações. Não é hora para pessimismos e catastrofismos. Render-se, jamais. Falaremos de eleições só na segunda-feira. Não temos tempo para nada disso agora. É hora de colocar a faca entre os dentes, vestir a camuflagem e armar um pega-ratão contra os cariocas. Custe o que custar, contra tudo e contra todos, na raça, na bola, com o apoio incondicional da mais fanática torcida do Brasil.


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