Rafael Lemos

Rafael Fonseca Lemos, 49 anos, é atleticano. Quando bebê, a primeira palavra que pronunciou foi Atlético, para desapontamento de sua mãe, que, talvez por isso, tenha virado coxa-branca. Advogado e amante da Língua Portuguesa, fez do Atlético sua lei e do atleticanismo sua cartilha. Foi colunista da Furacao.com de 2007 a 2009.

 

 

Dr. Ricardo: meu amigo, por incrível que pareça!

22/11/2008


Esta Furacao.com estreou ontem o colunista Ricardo Barrionuevo, 35 anos, médico do Hospital Paranaense de Otorrinolaringologia e torcedor fervoroso do Atlético. Em seu primeiro texto, o novo colunista, Dr. Ricardo, lá pelas tantas consignou: “(...) fui indicado pelo Rafael Lemos, brilhante colunista, vulgo “professor”, grande amigo e agora também colega, que fiz através desse site”.

Mais adiante acrescentou: “Meu agradecimento especial ao Dr. Rafael Lemos, o “Professor”, colunista dos meus textos favoritos na Furacao.com, brilhante, que mesmo me conhecendo há pouco tempo, se tornou um grande amigo, acreditando e apostando em mim, perturbando insistentemente o Rogério Andrade para que me incluísse como colunista do site”.

Como disse o Dr. Ricardo, somos amigos, desde o final de julho do ano da graça de 2008. Ocorre que o cordial camarada, em sua narrativa, esqueceu-se de contar como é que surgiu essa amizade insólita e o leitor-comum deve estar se perguntando por que é que um médico famoso se torna amigo de um advogadozinho/professorzinho/colunistazinho mixuruca, metido a dar palpite em tudo.

Pois bem. No final de julho de 2008, recebi um e-mail do Dr. Ricardo por conta de uma coluna que escrevi intitulada “Superstições”, da qual destaco o descabido trecho: E aí, juntos, eu e o Presidente Petraglia mandaríamos ver, com galhos de arruda pendendo detrás de nossas orelhas e entre nuvens de fumaça exaladas por nossos charutos, o portentoso mantra: “Preto Velho tá cansado, de tanto trabalhar, Preto Velho tá cansado, de tanto curimbar. Canta ponto, risca Pemba, é longa a caminhada. Quem tem fé, tem tudo, quem não tem fé não entra na Baixada, ô!”.

O que um médico do porte do Ricardo viu nessa minha coluna não me perguntem, mas o fato é que a partir daí começamos a trocar e-mails. E-mails daqui e dali e ficamos amigos. Pobre quando fica amigo de rico é uma merda, pois a primeira coisa que faz é pedir favor. Não fugi à regra e lá pelo quinto e-mail já fiz o pedido:

- Dr. Ricardo, tenho um irmão que sofre da garganta. Tem como o senhor dar uma olhadinha nele? Ah, ele não tem plano de saúde e já está tossindo feito um tuberculoso. Tem como a consulta ser meio logo, tipo depois de amanhã?

Não demorou e veio a resposta:

- Claro, Rafael. Peça ao seu irmão que marque a consulta e eu terei imenso prazer em atendê-lo!

Apesar de pobre, eu sou educado. Respondi:

- Valeu, Dr. Ricardo! Amanhã mesmo ele marca a consulta com a sua secretária. Viu, não querendo abusar, mas é que eu estou com um pouco de refluxo. Tem como o senhor ver aí um encaixe pra mim?

Não demorou e veio a resposta:

- Claro, Rafael. Venha você e o seu irmão e eu terei imenso prazer em atendê-los!

Fomos ao consultório do Ricardo e lá recebemos um atendimento de altíssimo nível. Saímos diagnosticados e com as receitas médicas nas mãos. Ao nos despedirmos, o Ricardo anunciou: “Farei um churrasco lá em casa semana que vem e quero que vocês apareçam! Vocês vão?”.

Ora, oferecer churrasco pra pobre é igual oferecer: cachaça pra pinguço, milho pra galinha, dinheiro pra mulher, dentadura pra paranista, maquete de estádio pra coxa-branca iludido e é como oferecer marido pra gremista/são-paulino. Resultado: convite aceito no ato! Dali a uma semana haveria o churrasco e eu iria, de carona, com o meu irmão, pois não tenho carro e nem sequer dirijo.

Estava tudo combinado: meu irmão passaria na Secretaria da Saúde às 18h me pegar e iríamos de carro até a casa do Ricardo. Estava tudo combinado: eu e meu irmão iríamos juntos ao churrasco e estaríamos em jejum de 12 horas (combinamos, também, que se houvesse pães, maionese e linguiças comeríamos pouco, só pra não fazer desfeita, uma vez que a picanha, segundo o Ricardo, era o ponto alto do cardápio).

Às 16h, meu irmão ligou dizendo que não iria mais (provavelmente estava muito fraco por causa do jejum). Ao ouvir o fio de voz do meu debilitado irmão, liguei para o Ricardo, falei da impossibilidade de o Flávio ir ao churrasco e já aproveitei pra pedir:

- Dr. Ricardo, já que a minha carona foi pro saco, tem como o senhor passar aqui às 18h e fazer o carreto me levando até a sua casa?

O bom médico - sem pestanejar, mas provavelmente arrependido em seu íntimo por ter feito os convites – respondeu:

- Passo aí e te pego, Amigo!

E assim foi feito. Todavia, leitores-amigos, vejam só como se passou a cena. Eu, Rafael Lemos, 33 anos de idade, 26 anos de Atlético, advogadozinho/professorzinho/colunistazinho mixuruca, às 18h, recém-saído do expediente na Secretaria Estadual da Saúde, esperando, na suspeitíssima esquina da Rua Piquiri com a Rua Engenheiros Rebouças, a carona do meu amigo Dr. Ricardo Barrionuevo!

Eu lá, na suspeitíssima esquina da Piquiri com a Engenheiros Rebouças, conhecido como antigo ponto dos travestis de Curitiba, esperando o meu amigo Ricardo. Os colegas da Secretaria passando e eu lá, “no ponto”. Passou o pessoal do Gabinete e eu lá, de óculos escuros, firme! Passou o pessoal da DG e eu lá, olhando firme pra Rua João Negrão! De repente pára uma BMW prata e dela salta o Ricardo.

Cumprimentei o camarada, rapidamente, e entrei no carro, mas antes pude ouvir o comentário maldoso de duas colegas (velhas filhas da puta) que por ali passavam:

- Dirce, você viu que horror? O Rafael, um moço tão bonito, advogado e assessor, estava aqui “no ponto” e entrou naquele carrão de luxo! Você viu, Dirce?

Ao que a outra velha respondeu:

- Também, o Requião não dá aumento. Tem que vender o corpo mesmo! Certo ele!

(Velhas filhas da puta: além de acharem que eu era traveco ainda falaram mal do meu amigo Requião!)

Com o carro em movimento, fui constatando as primeiras – e gigantescas – diferenças entre mim e o Ricardo.

Ele trajava um ternaço risca-de-giz; eu estava com minha camisa jeans, modelo Requião. O relógio do amigo parecia ser um TAG Heuer e marcava, precisamente, 18h15; o meu era um Technos Steel, marcava 17h58, pois estava parado (depois de duas porradas voltou a funcionar, sem maiores problemas).

Já na casa dele, mais exatamente na churrasqueira do bom amigo, fui constatando outras tantas diferenças entre mim e o Dr. Ricardo. Havia lá um porta-retratos que, automaticamente, ia mudando as fotos. Amigos, eu, na minha absoluta ignorância e pobreza pra lá de franciscana, nunca tinha visto uma coisa daquelas! Fantástico.

À medida que o tempo passava, as fotos iam trocando. De repente, apareceram fotos do Ricardo, da Esposa e da Filhinha na Disney! Que beleza! O amigo Ricardo posando ao lado do Mickey e do Pato Donald e eu triste por dentro ao lembrar que certa vez, devia ter uns sete anos, eu tinha pedido “Pai, me leva pra Disney?” e papai me respondeu, cheio de sinceridade, “Rafael, se você quer ver o Pateta, não precisa ir à Disney: papai te dá um espelho!”. Papai é gente boa, mas podendo evitar melhor...

Fui constatando, enfim, as tantas diferenças entre mim e o Dr. Ricardo e quando estava concluindo que aquela amizade era um grande absurdo, posto que caras tão diferentes não poderiam ser amigos, eis que se deu o grande milagre: os convidados foram chegando, dentre eles havia coxas-brancas e atleticanos e logo eles foram se dividindo em dois grupos antagônicos.

Não demorou muito e esses grupos estavam discutindo, acaloradamente, em defesa ferrenha de suas cores e de suas Histórias; em defesa de suas coisas e de suas honras. E eis que do lado do Atlético estavam este pobre que há tempos vos escreve e o rico que ainda tem muito o que vos escrever! Eis que do lado do Atlético estavam este pobre que nem sequer dirige e o rico que se dirige aos pobres com a voz mansa dos humildes e a mão fraterna dos generosos.

Eis que estavam, lado a lado, dois Atleticanos, rigorosamente iguais, na paixão incondicional pelo Atlético Paranaense, Clube que une ricos e pobres; negros e brancos; médicos e advogados; há 84 anos, sob o vermelho e preto que parecem cores tão opostas mas que, na verdade, se completam no manto que só se veste por amor!

A você, amigo Ricardo Barrionuevo, meus agradecimentos pelas consultas, churrascos e conversas e meus votos de sucesso absoluto nas colunas desta Furacao.com! Seja bem-vindo, Amigo!

Aos meus velhos amigos e companheiros: Rogério Andrade, Marçal Justen Neto, Serjão Tavares e Cleverson Freitas, muito obrigado por terem convocado o Ricardo para a nossa Seleção de Colunistas (timaço campeão).

A todos os amigos que estão rezando pelo restabelecimento da saúde da minha Mãe, meu muito obrigado (ao meu amigão Rodrigo Abud, aquele abraço).

A Edith - minha namorada, irmã, amiga, companheira e Psicóloga - gratidão e amor eternos.

E pela saúde da minha Mãe, rezo e peço que todos rezem comigo, unidos na Fé:

Jesus, confio em Vós! Eu sei e creio que estás realmente presente na Eucaristia e que vos agrada o meu louvor, a minha adoração e minha total entrega a Ti. Sei que nada sou, que nada posso, que nada de bom tenho de mim mesmo. Mas Tu és o meu tudo e em ti encontro todas as consolações que necessito para caminhar rumo à vida plena e eterna. Jesus, é difícil para mim lidar com meus sentimentos com equilíbrio e santidade. Por isso, Senhor, abro mão de tentar resolver os problemas apenas com as minhas forças, entendimento e compreensão da realidade. Por maior que seja o esforço humano, ele será inútil sem a vossa benção. É por isso que aqui me prostro humildemente ante Tua presença (eucarística) e clamo por vossa benção e proteção. Amém!


Este artigo reflete as opiniões do autor, e não dos integrantes do site Furacao.com. O site não se responsabiliza e nem pode ser responsabilizado pelas informações acima ou por prejuízos de qualquer natureza em decorrência do uso dessas informações.