Ricardo Campelo

Ricardo de Oliveira Campelo, 44 anos, é advogado e atleticano desde o parto. Tem uma família inteira apaixonada pelo Atlético. Considera o dia 23/12/2001 o mais feliz de sua vida. Foi colunista da Furacao.com entre 2001 e 2011.

 

 

Erros de Jornalismo

12/11/2008


Nesta semana, o portal Globo Esporte.com divulgou uma reportagem com a seguinte manchete: "Num Brasileirão sem erros de arbitragem, Grêmio assumiria a liderança da tabela. Fluminense, com oito pontos a mais, estaria livre da degola. Já o Santos, com três a menos, ficaria seriamente ameaçado pelo rebaixamento". Os jornalistas autores da matéria elencaram uma série de lances que, na ótica deles, foram decisivos para alterar o resultado de algumas partidas. Reivindicaram, ainda, uma "licença especulativa" (dá atá nojo de repetir este termo bizarro), para poder considerar que todo pênalti não-marcado resultaria em gol.

Foi, sem dúvidas, a coisa mais canhestra que já vi no âmbito do jornalismo esportivo. E vou apresentar meus motivos:

1) Subjetividade. É impossível fazer um levantamento como estes sem impregná-lo com alta carga de subjetividade. Os lances que foram considerados como erros pelos jornalistas, não são assim interpretados por todos os demais. Cito como exemplo o pênalti que a reportagem alega em favor do Vasco, não marcado no empate por 2x2 contra o Atlético. Para muitos que comentaram a partida, este pênalti não existiu. O que se lamenta é que a mesma subjetividade com que foram analisados os lances polêmico, não foi adotada na manchete divulgada, que afirma categoricamente que o Grêmio só não é líder por erros de arbitragem. E, na sub-manchete, que o Fluminense estaria livre da degola em um campeonato sem erros no apito.

2) Especulação. Quem foi que outorgou a tal "licença especulativa" aos jornalistas? Eu é que não fui. E garanto que todos os leitores que realmente entendem de futebol, também não o fariam. Todo pênalti resulta em gol? Óbvio que não. Assim como é relativo considerar gols mal-anulados por impedimento. Às vezes o goleiro pára ao ver que o auxiliar levantou a bandeira. Certamente, esse tipo de detalhe passou ao largo dos referidos jornalistas.

3) Mutabilidade. Quem acompanha o futebol também sabe que cada gol muda um jogo. Um time que ganhou por 2x0 poderia ter perdido se, enquanto o jogo estava empatado, sofresse o 1x0. Portanto, a reportagem erra ao considerar, por exemplo, que o gol do Atlético anulado incorretamente contra o Palmeiras, no 1º turno, lhe "tirou" apenas 1 ponto. Era bem possível que, largando na frente, o Furacão segurasse a vitória, e não sofresse o gol que veio a acontecer no segundo tempo. A tática dos times muda conforme o resultado se apresenta, é o que deveriam aprender os jornalistas citados.

O pior é que uma matéria destas sempre gera reprecussão em outros veículos. Hoje, por exemplo, tive profunda decepção ao ouvir a reportagem ser comentada na Rádio Band News. A repórter, que a anunciou, chegou a exclamar "ainda bem que os juízes têm errado", já que, segundo a conclusão alcançada, o Atlético estaria em situação pior no "campeonato sem erros". Se é inevitável que alguém publique uma reportagem em busca de polêmica, ao menos os demais veículos poderiam abster-se de propagá-las, permitindo-nos desfrutar de um "jornalismo sem erros".

De outro lado, indico a leitura do Blog de Mauro Cezar Pereira, melhor comentarista esportivo do país, em minha modesta opinião, que também critica a referida reportagem: http://blogs.espn.com.br/maurocezarpereira/.

Foco

Não há dúvidas de que a situação do Atlético no campeonato melhorou expressivamente, e que o rendimento do time também evoluiu de forma considerável. Contudo, de forma alguma o time e a torcida podem achar que há algo garantido. Os atuais 20 ou 30% de risco de rebaixamento podem voltar à casa dos 80% se não vencermos o Vitória no Domingo. Assim como os 3 pontos obtidos de forma brilhante contra o Figueirense podem virar pó se não alcançarmos os 6 que restam para nos livrar deste pesadelo da ameaça de rebaixamento.


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