Rogério Andrade

Rogério Andrade, 52 anos, é administrador. Atleticano de "berço", considera a inauguração da Arena da Baixada como o momento mais marcante do Atlético, ao ver um sonho acalentado por tantos anos tornar-se realidade.

 

 

As lágrimas de um menino

31/10/2008


Pedro Oldoni só tem 23 anos. É um menino. Talvez seja um “menino moleque”, um menino sonhador, um modelo de ser humano que busca, mesmo que apenas dentro de si mesmo, alguma razão a mais para continuar lutando. E há muito tempo Oldoni nos prova que sua única rotina é apenas continuar lutando, mesmo que suas lutas, por muitas vezes, sejam em vão. Não por culpa de Pedro, mas por culpa de uma política de futebol toda desajeitada dentro do Atlético. Mesmo assim, com todo aquele tamanho, ele mais parece um menino ousado do que propriamente um gigante.

Só que este menino ousado, persistente e injustiçado, pela primeira vez em toda a sua trajetória no Atlético, me emocionou. Jamais elogiei Pedro Oldoni, mas confesso que já pedi inúmeras vezes a sua saída do Atlético. Pedro é carente de qualidade técnica? Sim, embora seja evidente a sua evolução. Pedro tropeça na bola? Sim, mas quantos tropeços a diretoria tem dado desde 2006? Foram tantos, mas tantos, que alguns deles chegaram a cortar Pedro Oldoni do time titular e dar passagem aos “velhos”, baderneiros e bichados atacantes em fim de carreira.

Sim, critiquei muito Pedro Oldoni, e talvez eu até volte a criticar, assumindo minha postura de torcedor apaixonado, mas contra o Vasco, em São Januário, confesso, Pedro Oldoni mostrou que têm dignidade. Desta feita, Pedro foi um verdadeiro gigante. E convenhamos, se Pedro tivesse outras oportunidades de jogar os 90 minutos e aperfeiçoar sua maneira de jogar, seria sem dúvida alguma, o titular absoluto, entre Joãozinho´s e Rafaéi´s da vida. Não precisamos de jogadores que inchem o Atlético. Precisamos de jogadores que “sintam” o Atlético, que externem a dor da derrota, que se exaltem nas vitórias e que briguem pelas conquistas.

Pedro Oldoni é craque? Lógico que não. Assim como estão longe do status de craque os jogadores Anderson Aquino, Joãozinho, Rafael Moura e Geílson. Talvez dos atacantes principais do elenco, apenas Julio Cezar se destaque pela sua qualidade individual, mas ainda assim está longe de ser um craque, até porque ser craque no futebol brasileiro hoje em dia, além de ser uma tarefa muito difícil, tornou-se raridade.

Pois bem, o menino Pedro não é craque. O menino Pedro, que por mim foi tantas vezes criticado, hoje recebe meus respeitos e minha gratidão. Respeitos porque soube, como ninguém, ignorar a pressão do Vasco da Gama e esteve em todos os lados do campo. Protegeu, marcou, fez o giro, criou, jogou nas alas, no centro e na frente, chamou o jogo e fez um gol de um menino que virou homem, e que correu, da lateral até a área do adversário, atrás do seu sonho. E no Atlético, Pedro sabe que não precisa fazer golaço, basta fazer gol. Oldoni perdeu dois gols claros que nos levariam à vitória? Sim, mas quantos atacantes brigaram tanto como Pedro Oldoni ultimamente, estiveram no lugar certo, na hora certa, e perderam gols como Pedro perdeu? Ao contrário de ser massacrado pelo que não fez, Oldoni precisa ser enaltecido pelo que fez.

E minha gratidão, simplesmente porque Pedro Oldoni chorou pelo Atlético. Ali, estavam também todas as nossas lágrimas, todo o nosso sacrifício. Ao lado do sofrimento de Pedro Oldoni, estava também o nosso sofrimento. E quem é atleticano, precisa “sentir” o Atlético. Porque ninguém simplesmente passa por aqui, e os que simplesmente passam, viram passado e não deixam sequer uma página de suas histórias.

Talvez Pedro Oldoni não escreva sua história no Atlético. Mas Pedro Oldoni provou que é homem, que tem dignidade, que respeita a nossa camisa e que, acima de tudo, seu coração é atleticano.

Senhor Pedro Oldoni, a você, menino, o meu muito obrigado!


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